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Como o Alcoolismo dos pais danifica o cérebro dos adolescentes: Guia essencial para proteger jovens em risco

  • Paloma Garcia
  • 15 de ago. de 2024
  • 17 min de leitura

Atualizado: 15 de jan.

O alcoolismo parental é uma questão que afeta muito além da pessoa que sofre com a dependência. Quando um ou ambos os pais enfrentam o alcoolismo, toda a estrutura familiar pode ser impactada, especialmente para os adolescentes que estão em uma fase crítica de desenvolvimento. Esses jovens, frequentemente, vivem em ambientes de instabilidade, estresse e falta de suporte emocional, o que pode prejudicar tanto seu bem-estar quanto seu crescimento a longo prazo.



Este guia foi elaborado para apoiar pais, cuidadores e educadores na compreensão dos diversos efeitos do alcoolismo parental na vida dos adolescentes. A proposta é oferecer uma visão acessível, baseada em evidências científicas, sobre como o ambiente familiar influencia o desenvolvimento cerebral, emocional e social desses jovens. Além disso, o artigo apresenta estratégias práticas e acolhedoras para ajudar os adolescentes a desenvolverem resiliência e habilidades essenciais para a vida. A intenção é não só informar, mas também fornecer ferramentas que possam ser aplicadas no dia a dia, auxiliando os adolescentes a enfrentarem os desafios que surgem e a construírem um futuro mais saudável e equilibrado.


Impactos neurológicos do alcoolismo parental no desenvolvimento cerebral dos adolescentes


O desenvolvimento do cérebro durante a adolescência é um processo dinâmico e contínuo, crucial para a formação da cognição, das emoções e do comportamento. Esse período é caracterizado pela neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de reorganizar e formar novas conexões neurais ao longo da vida. A neuroplasticidade é a habilidade do cérebro de se adaptar e aprender com novas experiências. Durante a adolescência, essa capacidade é particularmente forte, permitindo que as experiências moldem profundamente o cérebro em desenvolvimento.


No entanto, em um ambiente familiar onde há alcoolismo parental, essa capacidade de adaptação pode ser comprometida. O estresse contínuo, a negligência e o abuso comum nesses ambientes podem interferir no desenvolvimento saudável do cérebro, levando a mudanças prejudiciais na estrutura e função cerebral.


1. Alterações no desenvolvimento cerebral

Adolescentes que crescem em lares onde um ou ambos os pais são dependentes de álcool frequentemente enfrentam estresse crônico, negligência e, em alguns casos, abuso físico ou emocional. Esses fatores podem interromper o desenvolvimento cerebral normal, resultando em mudanças significativas nas áreas responsáveis por funções essenciais.


  • Córtex pré-frontal: Essa região do cérebro é a "central de controle," responsável por funções executivas como planejamento, controle de impulsos e tomada de decisões. Quando o córtex pré-frontal é afetado pelo estresse crônico, o adolescente pode ter dificuldades em controlar suas emoções, tomar decisões racionais ou lidar com o estresse de forma adequada. Por exemplo, um adolescente em um ambiente dominado pelo alcoolismo pode reagir de forma impulsiva em situações estressantes, sem considerar as consequências de suas ações.


  • Hipocampo: O hipocampo é fundamental para a formação de memórias e o aprendizado. Quando comprometido, um adolescente pode ter dificuldades em aprender novos conteúdos e em reter informações, o que pode afetar diretamente seu desempenho escolar. Por exemplo, um adolescente que cresceu em um ambiente de abuso de álcool pode ter problemas para se concentrar nas tarefas escolares ou lembrar-se de informações aprendidas durante as aulas.


2. Dificuldade de cognição e aprendizagem

O ambiente imprevisível e caótico de um lar com abuso de álcool pode prejudicar a capacidade do adolescente de se concentrar e processar informações de forma eficaz. Adolescentes nessas situações frequentemente enfrentam problemas cognitivos, como dificuldades de atenção e memória.


  • Hipervigilância: Adolescentes que testemunham episódios frequentes de alcoolismo em casa podem desenvolver um estado constante de alerta, conhecido como hipervigilância. Esse estado afeta negativamente a capacidade de focar em tarefas escolares ou outras atividades que exigem atenção sustentada. Por exemplo, um adolescente em estado de hipervigilância pode achar difícil concentrar-se nas aulas, resultando em desempenho escolar abaixo da média.


  • Ciclo vicioso de desmotivação: Adicionalmente, a falta de suporte emocional consistente pode exacerbar esses problemas. Sem o encorajamento dos pais, o adolescente pode se sentir desmotivado, desenvolvendo uma atitude negativa em relação à escola. Isso pode criar um ciclo vicioso, onde o baixo desempenho escolar alimenta uma baixa autoestima, levando a um pior desempenho acadêmico.


3. Regulação emocional e transtornos psiquiátricos

A regulação emocional, ou a capacidade de gerenciar e responder de maneira adequada às emoções, é fundamental para o bem-estar mental e social. Adolescentes em lares com alcoolismo parental frequentemente enfrentam desafios significativos na regulação de suas emoções devido ao estresse contínuo e à falta de estabilidade.


O desenvolvimento cerebral durante a adolescência é um processo ativo e contínuo, essencial para a formação da cognição, emoções e comportamento. Este período é marcado pela neuroplasticidade, que representa a habilidade do cérebro de reorganizar e estabelecer novas conexões neurais ao longo da existência. A neuroplasticidade é a capacidade do cérebro de se adaptar e aprender a partir de novas experiências. Durante a adolescência, essa habilidade é compartilhada. Por exemplo, um adolescente nesse ambiente pode desenvolver uma resposta exagerada ao estresse, manifestada por crises de pânico ou ansiedade severa em situações que normalmente não causariam tanto desconforto.


  • Transtornos de humor: Adolescentes expostos a ambientes altamente estressantes têm uma maior probabilidade de desenvolver transtornos de humor, como depressão e ansiedade, tanto na adolescência quanto na vida adulta.


4. Disfunções neurotransmissoras e neuroplasticidade

Neurotransmissores são substâncias químicas que transmitem sinais entre as células nervosas no cérebro, desempenhando um papel vital na regulação do humor, comportamento e outras funções cerebrais.


  • Dopamina e serotonina: O estresse constante, frequente em famílias com pais alcoólatras, pode causar alterações nos níveis desses neurotransmissores. A dopamina está relacionada ao sistema de recompensa do cérebro e à motivação, enquanto a serotonina é essencial para o controle do humor e do comportamento social. Adolescentes submetidos a um estresse contínuo podem sofrer uma diminuição nas quantidades de dopamina, resultando em um estado de anedonia (incapacidade de sentir prazer em atividades que normalmente seriam agradáveis). Da mesma forma, baixos níveis de serotonina podem contribuir para o desenvolvimento de sintomas de depressão, irritabilidade e comportamentos impulsivos.


  • Comprometimento da neuroplasticidade: A neuroplasticidade, que permite ao cérebro reorganizar suas conexões neurais em resposta a novas experiências, também pode ser prejudicada em adolescentes que vivem em ambientes estressantes. A exposição contínua ao estresse pode reduzir a neuroplasticidade, limitando a capacidade desses adolescentes de aprender novas habilidades e se adaptar a diferentes situações. Isso pode agravar ainda mais os desafios cognitivos e emocionais que eles já enfrentam.


Impactos emocionais do alcoolismo parental: autoestima, ansiedade e transtornos de humor em adolescentes


1. Autoestima, confiança e sentimentos de culpa

Adolescentes que crescem em lares com um ou ambos os pais dependentes de álcool enfrentam desafios emocionais, especialmente em relação à autoestima e confiança. A autoestima do adolescente, que reflete seu autovalor, pode ser significativamente afetada em um lar onde os pais são dependentes de álcool. Esses jovens podem desenvolver uma autoimagem negativa, acreditando, de forma equivocada, que são responsáveis pelo comportamento dos pais ou que não são dignos de amor e cuidado.


A culpa é um sentimento comum nesses adolescentes, exacerbado pela imprevisibilidade do ambiente doméstico, onde episódios de abuso verbal ou físico podem ser frequentes. Em muitos casos, esses adolescentes internalizam a culpa pelos problemas familiares, criando um ciclo vicioso onde a baixa autoestima alimenta a falta de confiança em si mesmos e nos outros. Esse ciclo pode levar a dificuldades em desenvolver relacionamentos saudáveis e a problemas acadêmicos ou profissionais no futuro.


Por exemplo, imagine um adolescente que, após uma discussão familiar, acredita que, se tivesse se comportado melhor ou evitado certos comportamentos, os pais não teriam bebido tanto. Esse adolescente pode carregar a culpa por muito tempo, desenvolvendo uma sensação de inadequação que afeta não só suas relações familiares, mas também sua interação com amigos e desempenho escolar.


2. Ansiedade, medo e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)

O ambiente instável e muitas vezes hostil de um lar com pais alcoólatras pode gerar altos níveis de ansiedade e medo constantes nos adolescentes. Ansiedade é uma resposta emocional a situações de perigo ou incerteza, manifestando-se como preocupação excessiva, tensão e medo de que algo ruim aconteça. Esses adolescentes podem viver em um estado de alerta permanente, esperando o próximo episódio de comportamento imprevisível ou violento, o que é conhecido como hipervigilância.


Esse estado contínuo de estresse pode desencadear o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), que ocorre após a exposição a eventos traumáticos, como violência no ambiente familiar. O TEPT pode se manifestar de várias maneiras, incluindo:


  • Pesadelos recorrentes

  • Flashbacks de eventos traumáticos (revivências involuntárias e vívidas de experiências traumáticas)

  • Resposta exagerada ao estresse, como sobressaltos frequentes ou hipervigilância


Essas manifestações podem impactar significativamente a qualidade de vida do adolescente, dificultando sua capacidade de se concentrar na escola, de formar relacionamentos saudáveis e de participar de atividades sociais. É importante que pais e cuidadores reconheçam esses sinais e busquem ajuda profissional para que o adolescente possa receber o apoio necessário.


3. Repressão emocional e sensibilidade à rejeição

Para evitar conflitos ou tentar manter a paz em casa, muitos adolescentes de pais alcoólatras aprendem a reprimir suas emoções. Repressão emocional é o ato de suprimir ou ignorar sentimentos para evitar lidar com eles ou para não causar problemas aos outros. Embora essa estratégia possa parecer útil a curto prazo, ela pode levar a problemas de saúde mental a longo prazo, como depressão e ansiedade.


Adicionalmente, esses adolescentes podem desenvolver uma sensibilidade exagerada à rejeição, sempre esperando ser descartados ou negligenciados pelos outros. Isso pode se manifestar de várias maneiras:


  • Evitação de situações emocionais: O adolescente pode evitar expressar tristeza ou raiva, acreditando que essas emoções são inadequadas ou que podem causar mais conflitos.

  • Isolamento social: Para evitar a dor de uma possível rejeição, o adolescente pode se afastar de amigos e familiares, o que pode levar a sentimentos intensos de solidão e desconexão.


A sensibilidade à rejeição também pode fazer com que o adolescente interprete interações neutras ou até positivas como rejeições, reforçando seu ciclo de isolamento e medo. Por exemplo, um adolescente pode se afastar de amizades ou relacionamentos românticos por medo de ser magoado, o que, paradoxalmente, leva a mais solidão e desconexão.


Impactos sociais do alcoolismo parental: isolamento, comportamento escolar e relações interpessoais em adolescentes


1. Dificuldades em relacionamentos, confiança e isolamento social

Adolescentes que crescem em lares onde o alcoolismo é prevalente frequentemente enfrentam desafios significativos em estabelecer e manter relacionamentos saudáveis. A falta de estabilidade e segurança emocional em casa pode levar a dificuldades de se conectar socialmente, resultando em comportamentos de isolamento e desconfiança.

Estabilidade emocional é essencial para que um adolescente se sinta seguro o suficiente para formar laços com os outros. Em ambientes instáveis, esses jovens podem desenvolver um comportamento social retraído e desconfiado.


Isolamento social ocorre quando o adolescente evita interações sociais por medo de julgamento ou rejeição. Esse comportamento é frequentemente exacerbado pela vergonha associada à situação familiar, fazendo com que o adolescente prefira se afastar dos outros para evitar que descubram a realidade de sua vida em casa.


Estudos indicam que adolescentes expostos ao alcoolismo parental frequentemente têm menos amigos e se sentem mais solitários em comparação com seus pares que crescem em ambientes mais estáveis (Sher, 1997). Esse isolamento social é muitas vezes agravado pelo estigma associado ao alcoolismo parental, que pode fazer com que o adolescente se sinta diferente e menos disposto a buscar ou manter amizades.


2. Dificuldade de comportamento na escola

O comportamento escolar de adolescentes com pais alcoólatras é frequentemente afetado negativamente. Esses adolescentes podem exibir comportamentos disruptivos, que são ações que interrompem o ambiente de aprendizado, como:


  • Agressividade

  • Desobediência

  • Falta de concentração


Esses comportamentos disruptivos geralmente refletem a instabilidade emocional vivida em casa. Dificuldades de aprendizagem são comuns, incluindo problemas em processar e reter informações, o que pode resultar em notas baixas e frustração escolar.


Estudos mostram que esses adolescentes têm uma maior propensão a exibir comportamentos desafiadores na escola, como recusar-se a seguir regras, dificuldades em completar tarefas e problemas em se relacionar com colegas (Sher, 1997). Essas dificuldades são frequentemente uma expressão do estresse e da ansiedade vividos em casa, onde o adolescente pode se sentir sobrecarregado e incapaz de focar nos estudos.


3. Conflitos interpessoais, dependência social e comportamentos antissociais

Adolescentes expostos ao alcoolismo parental frequentemente desenvolvem padrões de comportamento que resultam em conflitos interpessoais e dependência emocional. Conflitos interpessoais são desentendimentos ou disputas entre indivíduos, muitas vezes resultantes da falta de habilidades de comunicação eficazes.


Dependência emocional pode conduzir a relações codependentes, onde o adolescente se torna muito ligado a amigos ou parceiros para buscar a estabilidade que falta em casa. Codependência é um padrão de comportamento onde uma pessoa depende emocionalmente de outra de forma desequilibrada, frequentemente negligenciando suas próprias necessidades.


Adicionalmente, a imitação de comportamentos negativos observados nos pais, como agressividade ou desonestidade, pode causar problemas significativos em suas interações sociais. Por exemplo, um adolescente que vê um dos pais reagir com raiva e agressividade em situações de conflito pode adotar essas mesmas respostas em suas próprias interações, o que pode afastar amigos e complicar suas relações sociais (Sher, 1997).


Esses problemas de comunicação podem se manifestar em comportamentos antissociais, que são ações que violam normas sociais e podem prejudicar outras pessoas, como mentir, furtar e violar regras. Estudos sugerem que, sem intervenções adequadas, esses adolescentes correm o risco de desenvolver padrões de comportamento que podem levar a problemas legais e dificuldades na vida adulta (Sher, 1997).


Por exemplo, um adolescente que não aprendeu como expressar suas frustrações de forma adequada pode recorrer a mentiras ou comportamentos agressivos como forma de lidar com seus problemas.


Ciclo intergeracional do alcoolismo: padrões comportamentais


Padrões familiares de comportamento e transmissão intergeracional de traumas

Adolescentes que crescem em lares onde o alcoolismo é prevalente frequentemente internalizam comportamentos disfuncionais, como o abuso de substâncias, agressividade e negligência. Essas condutas, quando repetidas e observadas ao longo da infância e adolescência, podem se tornar normas aceitas dentro da família, perpetuando um ciclo de disfunção de uma geração para a outra. Este fenômeno, conhecido como transmissão intergeracional de comportamentos disfuncionais, tem efeitos profundos na vida adulta dos filhos de pais alcoólatras.


  • Modelagem comportamental: Este conceito refere-se ao processo pelo qual os adolescentes imitam os comportamentos que observam em seus cuidadores. Por exemplo, um adolescente que vê o álcool sendo usado como um meio comum de lidar com o estresse pode internalizar essa prática como um método legítimo de enfrentamento, o que aumenta a probabilidade de desenvolver dependência na vida adulta (Sher, 1997).


Além dos comportamentos disfuncionais, o trauma não resolvido dos pais pode ser transmitido para os filhos através de interações cotidianas. A transmissão intergeracional de traumas ocorre quando as experiências traumáticas dos pais impactam negativamente a saúde mental e emocional dos filhos.


Por exemplo, um pai que responde ao estresse com explosões de raiva, pode criar um ambiente de medo e insegurança. Este ambiente de constante alerta, conhecido como hipervigilância, pode se manifestar em dificuldades de regulação emocional e comportamental durante a adolescência e na vida adulta (Hughes et al., 2017).


Estratégias de enfrentamento e resiliência


Adolescentes que crescem em lares onde o alcoolismo é uma constante enfrentam desafios emocionais e comportamentais únicos. Esses jovens, muitas vezes, precisam lidar com sentimentos de insegurança, ansiedade e isolamento, que podem impactar profundamente seu desenvolvimento. No entanto, com o apoio adequado, é possível ajudá-los a desenvolverem resiliência emocional e habilidades de vida fundamentais. Para isso, pais e cuidadores podem adotar uma série de estratégias práticas e aplicáveis no dia a dia. Abaixo, são detalhadas abordagens eficazes que podem ser implementadas para fortalecer a autoconfiança dos adolescentes e prepará-los para lidar com suas dificuldades de maneira saudável e construtiva.


1. Técnicas de relaxamento e mindfulness para redução do estresse

Práticas de relaxamento e mindfulness são ferramentas eficazes para ajudar adolescentes a lidar com o estresse e a ansiedade, promovendo uma mente mais calma e clara. Essas práticas ajudam a criar momentos de paz e tranquilidade em meio ao caos que pode ser o cotidiano de um lar afetado pelo alcoolismo.


Aplicação prática: Ensine a técnica de respiração 4-7-8. Este exercício simples, mas poderoso, pode ser realizado em qualquer lugar e a qualquer momento:


  • Preparação: Encontre um ambiente tranquilo onde o adolescente se sinta à vontade. Sente-se com ele e explique o processo de respiração.

  • Execução: Oriente o adolescente a inspirar profundamente pelo nariz por 4 segundos, segurar a respiração por 7 segundos e depois expirar lentamente pela boca por 8 segundos. Repitam esse ciclo várias vezes até que ele se sinta mais calmo.

  • Prática regular: Incentive a prática regular, especialmente antes de momentos que ele considera estressantes, como uma apresentação na escola ou uma situação de conflito em casa.

  • Passeio consciente: Outra técnica útil é o "passeio consciente". Durante uma caminhada, peça ao adolescente que preste atenção plena às sensações ao seu redor, como o som dos pássaros, a textura das folhas ou o cheiro do ambiente. Essa prática simples pode ajudar a aliviar o estresse e a ansiedade, além de promover um estado mental mais equilibrado.


Recursos úteis:

  • Calm: Aplicativo que oferece meditações guiadas, músicas relaxantes e histórias para dormir.

  • Headspace: Ideal para iniciantes em mindfulness, com meditações diárias.

  • Insight Timer: Grande variedade de meditações guiadas, muitas delas gratuitas.

  • Smiling Mind: Focado em mindfulness para adolescentes, ajudando no gerenciamento do estresse.


2. Busca de apoio social

Ter uma rede de apoio é crucial para o bem-estar emocional dos adolescentes. Relacionamentos positivos podem ajudar a aliviar sentimentos de isolamento e fornecer suporte emocional constante.


Aplicação prática: Ajude o adolescente a identificar pessoas de confiança em sua vida, como amigos, familiares ou professores. Encoraje-o a passar tempo com essas pessoas e a participar de atividades que reforcem esses laços:


  • Identificação da rede de apoio: Pergunte ao adolescente quem ele considera pessoas de confiança e como ele se sente ao passar tempo com elas. Ajude-o a ver o valor dessas conexões.

  • Participação em atividades extracurriculares: Sugira que ele participe de atividades extracurriculares, como esportes, clubes de artes ou música. Essas atividades não só fortalecem as conexões sociais, mas também proporcionam um sentimento de pertencimento.

  • Contato com grupos de apoio: Se o adolescente se sente isolado ou tem dificuldade em encontrar suporte, considere sugerir a participação em grupos de apoio como o Al-Anon, voltado para familiares e amigos de alcoólatras. Esses grupos oferecem um espaço seguro para compartilhar experiências e receber apoio emocional.


Recursos de apoio:

  • Al-Anon: Grupos de apoio para familiares e amigos de alcoólatras, onde é possível compartilhar experiências e receber suporte emocional. Mais informações estão disponíveis em Al-Anon Brasil.


3. Atividades criativas

A expressão criativa é uma maneira eficaz de processar emoções e reduzir o estresse. Atividades como pintura, música e escrita permitem que o adolescente explore seus sentimentos em um ambiente seguro e sem julgamentos.


Aplicação prática: Reserve um tempo semanal para atividades criativas. Ofereça uma variedade de materiais para que o adolescente possa escolher o que mais lhe agrada:


  • Escolha da atividade: Pergunte ao adolescente quais atividades criativas ele gostaria de explorar. Ofereça opções como pintura, escrita, escultura com argila, tocar um instrumento ou criar um scrapbook.

  • Espaço de expressão: Crie um espaço tranquilo em casa onde ele possa se expressar livremente, sem interrupções ou julgamentos.

  • Participação conjunta: Participe dessas atividades com ele, mostrando interesse e apoio. Por exemplo, se o adolescente está passando por um momento difícil, incentivá-lo a desenhar ou escrever sobre seus sentimentos pode ser uma maneira de aliviar o estresse e entender melhor suas emoções.

  • Reflexão sobre a atividade: Após a atividade, converse sobre como ele se sentiu durante o processo. Isso pode ajudar a reforçar os benefícios das atividades criativas como uma válvula de escape para emoções difíceis.


4. Criação de um ambiente seguro e previsível

Estabelecer uma rotina diária previsível pode proporcionar ao adolescente uma sensação de controle e segurança, especialmente em um lar onde o alcoolismo parental cria incertezas.


Aplicação prática: Desenvolva rotinas claras para momentos importantes do dia, como a manhã e a hora de dormir:


  • Planejamento conjunto: Sente-se com o adolescente para planejar uma rotina que funcione para ambos. Dê a ele a oportunidade de sugerir atividades ou horários que o façam se sentir mais seguro e organizado.

  • Rotina matinal: Comece o dia com um café da manhã em família, seguido por uma breve conversa sobre o que cada um espera enfrentar ao longo do dia. Isso não só ajuda a estabelecer uma sensação de normalidade, mas também cria uma oportunidade para verificar como o adolescente está se sentindo.

  • Rotina noturna: À noite, estabeleça uma rotina de relaxamento, como ler um livro, ouvir música tranquila ou fazer um exercício leve de alongamento antes de dormir. Essas rotinas ajudam a criar um ambiente de segurança e previsibilidade, além de oferecer momentos em que o adolescente pode expressar seus sentimentos.


5. Terapia individual e em grupo

A terapia oferece um espaço seguro onde o adolescente pode explorar seus sentimentos e aprender novas estratégias de enfrentamento. A terapia individual pode focar nas necessidades específicas do adolescente, enquanto os grupos de apoio proporcionam um ambiente para compartilhar experiências com outros jovens que enfrentam situações semelhantes.


Conclusão

Entender os impactos do alcoolismo parental na vida dos adolescentes é fundamental para oferecer o apoio necessário e eficaz. Este artigo investigou os diversos impactos que podem surgir em várias esferas da existência dos jovens, desde o desenvolvimento neurológico e emocional até as relações sociais e a fase adulta. No entanto, com as estratégias certas, é possível ajudar os adolescentes a enfrentar esses desafios de maneira saudável e construtiva.


Criar um ambiente seguro e previsível, incentivar o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento e buscar apoio profissional são ações essenciais nesse processo. Pais e cuidadores desempenham um papel crucial na proteção e no desenvolvimento dos adolescentes, e com paciência, empatia e as ferramentas adequadas, é possível fazer uma diferença significativa na vida desses jovens.


Cada pequeno passo na aplicação das estratégias discutidas contribui para um futuro mais equilibrado e positivo para os adolescentes que convivem com o alcoolismo parental. É importante lembrar que essa é uma jornada contínua, e o apoio constante é essencial para promover o bem-estar e o desenvolvimento saudável desses adolescentes.


Indicação de livros 

Para entender melhor os desafios enfrentados por adolescentes, é essencial ter acesso a materiais que tratem desse tema com profundidade e sensibilidade. Abaixo estão listados livros que abordam o alcoolismo, suas consequências e como famílias podem lidar com essa realidade. Esses recursos são valiosos tanto para profissionais quanto para familiares que buscam oferecer apoio efetivo.


  • Se… a Pessoa Que Você Ama Bebe Demais 

    Autor: Sergio Jeremias de Souza. Este livro oferece sugestões práticas para aqueles que convivem com alguém que sofre de alcoolismo. Ele enfatiza a importância de não perder a esperança e buscar a ajuda adequada para iniciar o processo de recuperação.


  • Sóbrio: Evite o Primeiro Gole! 

    Autor: John G. Cooney. Cooney aborda os sinais e sintomas do alcoolismo, as complicações físicas e psíquicas, e as estratégias para superar a compulsão pelo álcool. O livro é um guia prático tanto para dependentes quanto para suas famílias.


  • Cuidando da Pessoa com Problemas Relacionados com Álcool e Outras Drogas 

    Autora: Marine Meyer. Este volume da coleção Guia para Família, do Hospital Israelita Albert Einstein, é um recurso acessível que responde a perguntas comuns sobre a prevenção e tratamento do alcoolismo, oferecendo dicas práticas para familiares.


  • Filhos de Alcoolistas: Afetividade e Conflito nas Relações Familiares 

    Autores: Joseane de Souza, Marciana Gonçalves Farinha. O livro explora como o alcoolismo parental afeta a saúde mental e o desenvolvimento emocional dos filhos, utilizando a Teoria Familiar Sistêmica para discutir os impactos nas relações parentais e conjugais.


  • Como Lidar com o Alcoolismo: Guia Prático Para Familiares, Professores e Pacientes 

    Autores: Adriana T. Kachani, Silvia Brasiliano, Patrícia B. Editora Hochgraf. Com abordagem prática, este guia oferece visão aprofundada sobre o alcoolismo e seus impactos físicos e sociais. Apresenta estratégias para tratamento e interação, desmistificando estigmas e facilitando o diálogo entre pacientes e familiares.


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