Compreendendo e agindo em situações de crise na adolescência
- Paloma Garcia
- 2 de nov. de 2023
- 12 min de leitura
Atualizado: 19 de mai.
A adolescência é um período de intensas transformações físicas, emocionais, cognitivas e sociais. Essa fase do desenvolvimento humano, geralmente situada entre os 10 e os 19 anos, é marcada por mudanças na estrutura cerebral, nas relações familiares, na construção da identidade e na busca por autonomia. Naturalmente, essas transformações provocam instabilidade emocional e conflitos internos, o que é esperado e faz parte do amadurecimento.
No entanto, em certos contextos, essas experiências podem ultrapassar a capacidade de regulação emocional do adolescente, resultando em uma situação de crise psicológica. Diferente das oscilações de humor normais da adolescência, a crise é caracterizada por um estado agudo de sofrimento psíquico, em que o jovem sente-se sobrecarregado, confuso, sem recursos internos para lidar com a situação vivida, podendo recorrer a comportamentos impulsivos, de fuga ou autodestrutivos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), metade dos transtornos mentais se inicia antes dos 14 anos, e muitos permanecem não diagnosticados e não tratados (WHO, 2021). Isso demonstra o quanto a crise emocional pode ser o primeiro sinal visível de uma condição mais profunda, exigindo escuta, acolhimento e resposta cuidadosa por parte da família, da escola e dos serviços de saúde.
Embora o termo “crise” seja comumente associado a momentos extremos, como tentativas de suicídio ou surtos psicóticos, é fundamental compreendê-lo de forma mais ampla: toda situação em que o adolescente perde temporariamente sua capacidade de enfrentar uma demanda emocional ou social significativa pode configurar uma crise. Isso inclui episódios de descontrole emocional, isolamento profundo, automutilação, rompimentos abruptos de rotina ou mudanças comportamentais severas.
Neste artigo, aprofundo o que é uma crise na adolescência, como reconhecê-la, quais fatores de risco estão envolvidos, e quais são as estratégias mais eficazes de cuidado e intervenção, sempre com base em evidências científicas atualizadas e com orientações práticas para pais, educadores e profissionais da saúde.

Identificando sinais de crise na adolescência
Uma crise emocional na adolescência é um estado psicológico agudo em que o jovem se sente incapaz de lidar com determinada situação, emoção ou conflito. É caracterizada por um colapso momentâneo dos recursos emocionais, cognitivos e sociais de enfrentamento. Durante esse período, o adolescente pode experimentar sentimentos intensos e desorganizados, perda do controle emocional, impulsividade e, em casos mais graves, risco para si ou para os outros.
Entendendo a crise sob a ótica da psicologia e da neurociência
Segundo a abordagem da psicologia do desenvolvimento, a adolescência é marcada por uma reorganização do sistema emocional e pela maturação lenta do córtex pré-frontal — área do cérebro responsável por controle de impulsos, julgamento e tomada de decisões (Casey, Tottenham & Liston, 2005). Ao mesmo tempo, há hiperatividade em estruturas como a amígdala e o núcleo accumbens, que processam emoções intensas e recompensas.
Esse descompasso entre o sistema emocional e o sistema regulador é uma das razões pelas quais os adolescentes reagem de forma mais impulsiva ou intensa diante de situações difíceis.
Durante uma crise, esse desequilíbrio neurobiológico se intensifica. O jovem pode apresentar:
colapso no processamento racional da situação;
ativação exacerbada do sistema de ameaça (eixo hipotálamo-hipófise-adrenal);
dificuldade em acessar recursos de enfrentamento previamente aprendidos.
De acordo com a American Academy of Child and Adolescent Psychiatry (AACAP), uma crise psicológica pode ser definida como um momento em que um indivíduo “experimenta uma ruptura em sua capacidade usual de funcionamento, com sofrimento significativo e risco potencial à integridade emocional, física ou social” (AACAP, 2021).
Principais manifestações de uma crise emocional na adolescência
Nem toda crise é ruidosa ou visível. Muitos adolescentes vivenciam episódios de crise em silêncio. Por isso, é essencial compreender os sinais típicos, que variam em intensidade, forma e duração:
Sintomas emocionais:
sentimentos intensos de angústia, medo, culpa ou desesperança;
choro inconsolável ou apatia extrema;
falas de autodepreciação (“sou um fracasso”, “ninguém se importa comigo”);
desregulação emocional intensa (explosões de raiva, pânico, colapsos emocionais).
Sintomas comportamentais:
isolamento repentino, recusa de contato com amigos ou familiares;
comportamentos autodestrutivos (automutilação, abuso de substâncias, exposição a riscos);
interrupção brusca de atividades importantes (abandono escolar, esportes, hobbies);
mudanças marcantes no sono ou apetite.
Sintomas cognitivos:
pensamentos confusos, sensação de irrealidade ou despersonalização;
falas sobre morte ou suicídio;
ruminação excessiva (pensamentos negativos repetitivos e incontroláveis);
dificuldade de concentração, desorganização mental.
Estudos como o de Sauter, Heyne & Westenberg (2009) mostram que, em contextos de crise, adolescentes têm mais dificuldade de acessar soluções racionais, uma vez que a ativação emocional intensa compromete funções executivas, prejudicando a tomada de decisão e o autocontrole.
Crise emocional x Comportamento adolescente típico
Um dos maiores desafios enfrentados por pais e educadores é diferenciar o que é esperado do desenvolvimento adolescente do que pode representar um sinal de alerta. Nem toda irritação, tristeza ou isolamento indica uma crise. Porém, quando esses comportamentos são intensos, duradouros ou afetam significativamente o funcionamento do jovem, é fundamental buscar avaliação especializada.
Comparativo:
Comportamento típico | Possível crise emocional |
Oscilações de humor leves | Emoções intensas e incontroláveis |
Isolamento ocasional | Isolamento social prolongado |
Conflitos pontuais | Conflitos frequentes e desproporcionais |
Mudanças leves de rotina | Interrupção de atividades essenciais |
Comentários dramáticos | Fala persistente sobre suicídio ou autodepreciação grave |
Dados científicos que evidenciam a gravidade
Segundo a OMS (2021), mais de 16% dos adolescentes no mundo sofrem com transtornos mentais, sendo a depressão a principal causa de anos vividos com incapacidade entre jovens de 10 a 19 anos.
Um estudo longitudinal de Kessler et al. (2007) demonstrou que 75% dos transtornos mentais diagnosticáveis começam antes dos 24 anos, com picos de aparecimento durante a adolescência.
A UNICEF Brasil (2021) alertou que a pandemia de COVID-19 agravou a saúde mental dos adolescentes: 1 em cada 4 jovens relatou ansiedade e 1 em cada 5 relatou depressão severa.
Fatores de risco para crises emocionais em adolescentes
Nem toda crise emocional surge de maneira imprevisível. Há fatores de risco reconhecidos na literatura científica que tornam alguns adolescentes mais vulneráveis ao colapso emocional em situações de estresse. Esses fatores podem ser de natureza biológica, psicológica, familiar, social e ambiental, muitas vezes interagindo entre si.
A identificação desses fatores é fundamental para pais, educadores e profissionais de saúde que desejam atuar de forma preventiva, ajudando o adolescente a construir estratégias de enfrentamento saudáveis antes que uma crise se instale.
Fatores neurobiológicos e psicológicos
Durante a adolescência, o cérebro passa por um processo intenso de reestruturação. A maturação do córtex pré-frontal ocorre mais lentamente do que o desenvolvimento de estruturas emocionais como a amígdala e o sistema límbico, o que leva a uma tendência à impulsividade, hipersensibilidade emocional e dificuldades de regulação emocional (Casey et al., 2005).
Além disso, alguns adolescentes apresentam vulnerabilidades cognitivas e emocionais herdadas ou adquiridas, que aumentam a chance de entrar em crise diante de adversidades. Entre os principais fatores psicológicos estão:
traços de neuroticismo (tendência à instabilidade emocional);
baixa tolerância à frustração;
padrões de pensamento negativos ou rígidos;
déficits em habilidades de resolução de problemas;
histórico pessoal de transtornos como TDAH, depressão, ansiedade, TEPT.
Segundo estudos longitudinais como o de Hankin et al. (2001), adolescentes com estilo cognitivo disfuncional (ruminação, catastrofização, personalização) são significativamente mais propensos a desenvolver quadros depressivos e entrar em crise sob estresse.
Fatores familiares e relacionais
O ambiente familiar exerce influência direta na saúde mental dos adolescentes. Experiências precoces de insegurança, negligência emocional, violência psicológica ou instabilidade parental aumentam a probabilidade de desregulação emocional crônica. As relações familiares podem atuar como fator de proteção ou de risco.
Fatores familiares de risco incluem:
pais emocionalmente indisponíveis ou excessivamente críticos;
comunicação disfuncional ou violenta;
exposição a conflitos constantes entre os responsáveis;
histórico familiar de transtornos mentais (fator genético e ambiental);
luto ou perdas significativas sem apoio emocional.
De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), 85% dos adolescentes com tentativas de suicídio relataram conflitos familiares intensos ou negligência emocional significativa nos meses anteriores ao episódio (ABP, 2022).
Fatores escolares e sociais
O ambiente escolar e o grupo de pares são fontes importantes de identidade, pertencimento e validação na adolescência. Porém, também podem se tornar fontes significativas de estresse e exclusão.
Fatores de risco sociais e escolares:
bullying (virtual ou presencial);
exclusão ou rejeição do grupo de colegas;
pressão acadêmica excessiva;
discriminação por orientação sexual, raça ou religião;
mudança repentina de escola ou cidade sem suporte emocional.
A UNESCO (2019) aponta que o bullying afeta cerca de 1 em cada 3 adolescentes no mundo, sendo um fator diretamente associado a quadros depressivos, baixa autoestima, automutilação e risco de suicídio.
Eventos adversos e traumas
Adolescentes que vivenciaram eventos traumáticos estão em maior risco de desenvolver transtornos mentais e reações de crise. A exposição precoce e repetida ao estresse é capaz de alterar o funcionamento do eixo HHA (hipotálamo-hipófise-adrenal), resultando em hiperativação do sistema de ameaça, ansiedade crônica e hipervigilância emocional.
Eventos traumáticos comuns incluem:
abuso sexual, físico ou psicológico;
negligência severa;
violência urbana ou doméstica;
catástrofes naturais;
separações abruptas sem preparo emocional;
testemunho de suicídio ou morte violenta.
Estudos como o Adverse Childhood Experiences (ACE) Study (Felitti et al., 1998) demonstram que quanto maior o número de experiências adversas vividas na infância e adolescência, maior o risco de transtornos psicológicos, abuso de substâncias e suicídio na vida adulta.
Fatores de risco emergentes (ambiente digital e pandemia)
Com a crescente exposição ao ambiente digital, surgem novos riscos:
excesso de tempo em redes sociais, com comparação constante e idealização da vida alheia;
cyberbullying;
acesso a conteúdos autolesivos ou de incentivo ao suicídio;
exposição a notícias alarmantes ou sensacionalistas.
Durante a pandemia de COVID-19, esses riscos se intensificaram. Um estudo global publicado na The Lancet Child & Adolescent Health (2021) mostrou que a prevalência de sintomas de depressão e ansiedade em adolescentes dobrou durante a pandemia em comparação com os anos anteriores.
Como agir em situações de crise emocional na adolescência
Em uma situação de crise emocional, a forma como os adultos reagem pode ser tão importante quanto os sintomas apresentados pelo adolescente. A intervenção imediata, empática e bem orientada pode interromper a escalada do sofrimento e contribuir para a proteção da vida e da saúde mental do jovem.
Uma crise não exige, necessariamente, soluções complexas ou terapias imediatas naquele exato momento. Em vez disso, exige presença emocional, segurança, escuta ativa e ações práticas de contenção e encaminhamento. Essa é a base da abordagem humanizada e baseada em evidências no atendimento a crises psicológicas.
O que fazer no momento da crise: primeiros cuidados
1. Mantenha a calma e regule o seu próprio estado emocional
Antes de qualquer intervenção, é essencial que o adulto esteja emocionalmente disponível e minimamente regulado. Diante de um adolescente em crise, a ansiedade ou a reatividade do cuidador pode intensificar o sofrimento do jovem.
“A calma de um adulto presente é um dos primeiros fatores de proteção em uma crise psicológica”— Dr. Daniel Siegel, psiquiatra infantil e pesquisador em neurociência interpessoal.
Respirar fundo, abaixar o tom de voz e adotar uma postura corporal aberta e acolhedora são formas eficazes de gerar segurança.
2. Evite julgamentos, sermões ou correções naquele momento
Durante a crise, o adolescente está em estado de alta ativação emocional e com dificuldade de acessar o pensamento racional. Tentar convencer, argumentar ou “corrigir” o que ele sente pode agravar o colapso emocional. Frases como:
“Você está exagerando.”
“Isso não é motivo para tanto drama.”
“Se você continuar assim, ninguém vai te aguentar.”
...devem ser evitadas.
Em vez disso, ofereça validação emocional e contenção:
“Eu vejo que isso está muito difícil pra você.”
“Estou aqui com você, e vamos passar por isso juntos.”
3. Crie um ambiente seguro e sem estímulos ameaçadores
Remova objetos perigosos (tesouras, facas, medicamentos, cordas) e reduza os estímulos do ambiente (luzes fortes, barulhos, multidões). Se possível, leve o adolescente para um local calmo e reservado, onde ele possa se sentir mais protegido e menos exposto.
4. Ofereça escuta ativa e contenção emocional
A escuta ativa envolve mais do que ouvir: é acolher com empatia, sem interromper, sem corrigir e sem tentar resolver tudo imediatamente. Um adolescente em crise precisa ser escutado antes de ser orientado.
Use frases como:
“Quero entender melhor o que está acontecendo com você.”
“Você não precisa enfrentar isso sozinho.”
“Fico aqui com você, mesmo que não tenha as palavras certas agora.”
5. Avalie risco imediato à integridade física
Se houver indícios de ideação suicida, automutilação, tentativa recente de autolesão ou fala de desespero absoluto, não deixe o adolescente sozinho em hipótese alguma. Nesse caso, o mais importante é garantir acompanhamento presencial e acionamento de profissionais especializados.
Quando e como buscar ajuda especializada
Após o acolhimento inicial, é fundamental encaminhar o adolescente para avaliação profissional. Isso pode envolver:
atendimento psicológico individual;
avaliação psiquiátrica (em caso de risco moderado ou grave);
contato com a escola e rede de apoio;
articulação com serviços de saúde mental pública, como o CAPS.
Em situações de urgência:
CAPS (Centro de Atenção Psicossocial): serviço público de atendimento a crises, com equipes multiprofissionais.
UPAs e hospitais com pronto-atendimento psiquiátrico.
CVV – Centro de Valorização da Vida: 188 (escuta gratuita e sigilosa, 24h).
SAMU (192): em caso de risco iminente à vida.
Segundo o Manual de Prevenção ao Suicídio da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS, 2014), a intervenção precoce em crises agudas pode reduzir significativamente o risco de suicídio em adolescentes.
Cuidados após a crise: o que fazer nos dias seguintes
Após a contenção da crise aguda, o adolescente ainda pode sentir-se vulnerável, envergonhado ou retraído. Os dias seguintes devem ser tratados como fase sensível, exigindo acompanhamento contínuo e apoio estruturado.
Recomendações:
manter um canal de diálogo aberto, sem pressão;
estabelecer uma rotina básica de autocuidado (alimentação, sono, lazer leve);
comunicar a escola e coordenar suporte pedagógico, se necessário;
iniciar acompanhamento terapêutico;
reforçar os vínculos de apoio (amigos, família, comunidade).
Prevenção e fortalecimento da resiliência emocional em adolescentes
Se por um lado os fatores de risco aumentam a vulnerabilidade às crises emocionais, por outro, os fatores de proteção e estratégias de prevenção fortalecem a capacidade do adolescente de enfrentar desafios de forma adaptativa. Essa habilidade é conhecida como resiliência emocional, a capacidade de lidar com adversidades, aprender com elas e se reorganizar internamente sem ruptura psicológica grave.
Embora parte da resiliência seja influenciada por características individuais, ela também pode ser ensinada, desenvolvida e reforçada por meio de intervenções familiares, educacionais e psicossociais.
Fatores de proteção reconhecidos pela literatura científica
A American Psychological Association (APA, 2020) e estudos como os de Masten (2014) indicam que os adolescentes mais resilientes compartilham algumas condições protetivas em comum:
Vínculos afetivos seguros: relação próxima com pelo menos um adulto confiável (pais, avós, professores).
Ambiente familiar com comunicação aberta e validação emocional.
Sentimento de pertencimento social, especialmente na escola e entre os pares.
Competências socioemocionais desenvolvidas: autoconhecimento, empatia, regulação emocional, tomada de decisões responsáveis.
Participação em atividades significativas: esportes, artes, voluntariado, grupos culturais.
Modelo positivo de enfrentamento por parte dos adultos de referência.
Educação emocional como estratégia preventiva
A educação emocional, seja em casa, na escola ou em espaços terapêuticos, é uma ferramenta poderosa de prevenção. Ela permite que o adolescente:
compreenda melhor seus estados internos;
desenvolva vocabulário emocional;
aprenda a identificar sinais precoces de desregulação;
busque ajuda antes de entrar em crise.
O papel das famílias na construção da resiliência
Famílias não precisam ser perfeitas, mas precisam ser consistentes, emocionalmente disponíveis e minimamente estruturadas. O ambiente doméstico pode funcionar como base segura para que o adolescente enfrente o mundo com mais segurança.
Algumas práticas recomendadas:
Criar rotinas previsíveis (hora de dormir, refeições em conjunto).
Conversar sobre emoções cotidianas sem esperar que haja uma crise.
Validar os sentimentos do adolescente sem desautorizar ou ridicularizar.
Compartilhar experiências pessoais de superação e vulnerabilidade.
Estabelecer limites com empatia, explicando o motivo das regras.
“Resiliência não é uma característica rara, mas um processo natural que se fortalece com vínculos humanos significativos.”— Ann Masten, Ph.D., autora de Ordinary Magic (2014)
O papel da escola como rede de apoio emocional
A escola é, para muitos adolescentes, o principal espaço de convivência fora da família. Por isso, tem um papel estratégico na promoção da saúde mental e na prevenção de crises.
Boas práticas escolares incluem:
Ter protocolos de acolhimento emocional e escuta ativa.
Oferecer rodas de conversa, oficinas e atividades sobre saúde mental.
Estimular professores e coordenadores a receberem formação em primeiros socorros emocionais.
Manter canal aberto de comunicação com as famílias.
Incluir temas como bullying, autoestima, identidade e empatia no currículo transversal.
Segundo a UNESCO (2021), escolas com ambientes emocionalmente seguros promovem maior engajamento acadêmico, reduzem evasão escolar e diminuem significativamente os índices de sofrimento psíquico entre estudantes.
Conclusão: Crise emocional não é fraqueza, é um pedido de ajuda
A adolescência é uma fase marcada por contrastes: crescimento e confusão, autonomia e dependência, coragem e vulnerabilidade. Diante das transformações físicas, emocionais e sociais que ocorrem nesse período, crises emocionais não são sinais de fracasso, mas sim convites urgentes para que o jovem seja visto, ouvido e apoiado com responsabilidade e empatia.
Compreender o que caracteriza uma crise, reconhecer os fatores de risco e saber agir com segurança emocional são atitudes que podem literalmente salvar vidas. O apoio dos pais, o acolhimento da escola, a escuta dos profissionais e o uso consciente de recursos tecnológicos formam uma rede de proteção capaz de oferecer não só socorro imediato, mas também caminhos duradouros para a construção da resiliência emocional.
Mais do que agir apenas quando a crise surge, é preciso cultivar diariamente um ambiente onde adolescentes se sintam pertencentes, respeitados e emocionalmente seguros. Porque saúde mental também se aprende, se cuida e se ensina — todos os dias.
Referências bibliográficas
American Academy of Child and Adolescent Psychiatry (AACAP). (2021). Understanding mental health crises. Disponível em: https://www.aacap.org
American Psychological Association (APA). (2020). Building your resilience. Disponível em: https://www.apa.org
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