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Álcool na adolescência: Entendendo e prevenindo o uso precoce

  • Paloma Garcia
  • 19 de dez. de 2023
  • 14 min de leitura

Atualizado: 19 de mai.

Quando se trata do uso de álcool entre adolescentes, ainda é comum que a sociedade trate o assunto com ambiguidade. De um lado, o discurso da preocupação: “É perigoso, faz mal, estraga o futuro”. De outro, a normalização precoce: risadas em reuniões de família quando alguém comenta que o adolescente “já experimentou”, ou o famoso “todo mundo bebe nessa idade”.


Essa ambivalência, entre medo e banalização, torna o enfrentamento do uso precoce de álcool mais complexo. Não basta proibir ou alertar: é preciso compreender o que está por trás do consumo e como construir um diálogo eficaz e preventivo com os adolescentes.


📌 O consumo de álcool não começa na maioridade


Apesar da proibição legal da venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos, os dados mostram outra realidade:


  • 70% dos adolescentes brasileiros com 15 anos já experimentaram álcool, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (IBGE, 2019).

  • Um em cada cinco adolescentes relatou ter consumido álcool nos 30 dias anteriores à pesquisa, com início médio entre 13 e 14 anos.

  • O consumo precoce está frequentemente associado a maior frequência de comportamentos de risco, como direção sob efeito de álcool, iniciação sexual sem proteção e maior vulnerabilidade à violência.


Esses números revelam que o álcool é, muitas vezes, a primeira substância psicoativa com que os adolescentes entram em contato, muitas vezes antes mesmo de compreenderem os efeitos no corpo, no cérebro e nas relações sociais.


🎯 Por que é tão atraente para os adolescentes?


Durante a adolescência, o cérebro está em fase de intensa remodelação. Os circuitos ligados à recompensa, pertencimento social e busca por novidade estão especialmente ativados, enquanto as regiões responsáveis pelo controle de impulsos e avaliação de riscos ainda estão em desenvolvimento.


O álcool, nesse contexto, oferece sensações que parecem resolver, momentaneamente, angústias típicas da adolescência:


  • Diminui a ansiedade em situações sociais;

  • Dá sensação de pertencimento em grupos;

  • Oferece fuga de emoções difíceis;

  • É visto como símbolo de “liberdade” ou “maturidade”.


Mas essa sedução esconde um custo emocional e neurológico alto, especialmente quando o consumo é precoce, frequente ou mal compreendido.


🧠 Mais do que substância: o que o álcool representa para o adolescente


Para muitos adolescentes, beber não é apenas uma ação isolada. É um ritual de passagem, de pertencimento, de experimentação de limites. Entender o que o álcool representa para o jovem é o primeiro passo para atuar na prevenção de forma empática e efetiva.

É importante que pais, educadores e cuidadores saibam que:


  • A proibição sem explicação gera curiosidade e desconfiança;

  • O moralismo afasta e silencia;

  • O medo exagerado desconecta da realidade dos jovens.


Por isso, este artigo propõe um guia completo e baseado em evidências científicas, para compreender os efeitos do álcool na adolescência, os fatores de risco e proteção, e as formas mais eficazes de prevenção com escuta, presença e informação.


  1. O que o álcool faz no cérebro adolescente: uma explicação clara e científica


Durante a adolescência, o cérebro passa por uma verdadeira “obra em andamento”. As conexões neuronais estão sendo reorganizadas, a mielinização (processo que aumenta a velocidade da comunicação entre os neurônios) está em curso, e as regiões responsáveis pelo pensamento crítico, planejamento e controle emocional ainda estão se desenvolvendo.


🍷 E o que o álcool faz nesse cenário?


O álcool atua diretamente no sistema nervoso central, interferindo na comunicação entre os neurônios, na liberação de neurotransmissores e no funcionamento das áreas cerebrais responsáveis por julgamento, autocontrole e memória. No cérebro adolescente, que ainda está em formação, esses efeitos são potencializados e podem deixar marcas duradouras.


🧩 As regiões mais afetadas pelo consumo precoce de álcool

Região cerebral

Função principal

Efeitos do álcool na adolescência

Córtex pré-frontal

Julgamento, tomada de decisões, controle de impulsos

Redução da capacidade crítica, aumento de comportamentos impulsivos

Hipocampo

Memória e aprendizado

Déficits de memória, dificuldades de concentração e aprendizado

Sistema límbico

Emoções, busca por prazer e recompensa

Exacerbação de emoções, maior vulnerabilidade a comportamentos de risco


Segundo a American Academy of Pediatrics (2022), o consumo de álcool antes dos 21 anos afeta especialmente o hipocampo e o córtex pré-frontal, com impacto direto na memória de trabalho, na regulação emocional e na capacidade de lidar com frustrações.


⚠️ O risco do “uso social”: por que nem sempre é inofensivo


Muitos adultos, ao ouvirem que um adolescente “bebeu só um pouco”, tendem a minimizar. Mas a ciência mostra que mesmo o consumo esporádico pode afetar a neuroplasticidade, prejudicar o desenvolvimento das habilidades sociais e cognitivas e aumentar o risco de transtornos futuros.


Estudos longitudinais, como o da Harvard Medical School (2020), demonstram que o uso precoce de álcool está associado a:


  • Aumento da vulnerabilidade à depressão e ansiedade;

  • Maior risco de dependência na vida adulta;

  • Redução do rendimento acadêmico;

  • Alterações na estrutura cerebral visíveis em exames de neuroimagem.


🚫 Adolescente não é “mini adulto”


É essencial compreender que o cérebro adolescente não responde ao álcool da mesma forma que o cérebro de um adulto. A fase da adolescência é um “período sensível” para o desenvolvimento cerebral e emocional e por isso, o impacto do álcool é mais intenso e mais duradouro.


Proteger o cérebro adolescente significa prevenir danos que podem comprometer o presente e o futuro do jovem nas relações, nos estudos, na autoestima e na saúde mental.


  1. Por que os adolescentes começam a beber: fatores de risco e contexto social


O início do consumo de álcool na adolescência raramente acontece de forma isolada. Por trás de um gole de bebida, muitas vezes aparentemente inofensivo, existe um conjunto de fatores sociais, emocionais e culturais que influenciam profundamente o comportamento juvenil. Compreender esses fatores é essencial para que pais, educadores e profissionais possam agir com mais empatia e eficácia.


🌐 Pressões sociais e normalização cultural


No Brasil e em muitos outros países, o álcool é amplamente aceito, inclusive em contextos familiares. Festas de família, celebrações, reuniões sociais: o álcool costuma estar presente e é frequentemente tratado como “parte da diversão”.


Para o adolescente, esse ambiente pode transmitir a mensagem de que beber é uma forma de:


  • Ser aceito pelo grupo;

  • Parecer mais maduro ou “descolado”;

  • Reduzir a timidez e se soltar socialmente;

  • Lidar com frustrações, tristeza ou ansiedade.


Um estudo do IBGE (PeNSE, 2019) revelou que mais de 55% dos adolescentes brasileiros já experimentaram álcool, sendo que muitos relatam ter recebido a bebida pela primeira vez de familiares.


🧠 Aspectos emocionais e desenvolvimento cerebral


Na adolescência, o sistema límbico (responsável pelas emoções e pela busca por recompensas) amadurece antes do córtex pré-frontal (área que regula o autocontrole e o planejamento). Isso cria uma “tempestade perfeita”: o adolescente sente mais intensamente e pensa menos nas consequências.


Emoções fortes, impulsividade e busca por experiências novas são parte natural dessa fase — mas quando não há apoio emocional adequado, o álcool pode parecer um “atalho” para aliviar tensões ou escapar de sentimentos difíceis.


🧩 Principais fatores de risco identificados na literatura científica:

Fator de risco

Explicação

Histórico familiar de consumo

Filhos de pais que consomem álcool regularmente têm maior chance de experimentar cedo.

Baixa supervisão parental

Falta de limites claros e acompanhamento facilita o acesso e o uso.

Problemas emocionais não acompanhados

Ansiedade, tristeza ou baixa autoestima aumentam a vulnerabilidade.

Influência de pares

O grupo de amigos exerce enorme influência sobre o comportamento de experimentação.

Baixa percepção de risco

Muitos adolescentes não acreditam que o álcool possa causar danos reais.


🧠 O que os estudos dizem


A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2022) aponta que o consumo precoce de álcool está diretamente relacionado à presença de múltiplos fatores de risco no ambiente familiar, escolar e comunitário. A prevenção mais eficaz, portanto, não está em proibir, mas em compreender e intervir nas raízes do comportamento.


🛡️ Proteção começa na escuta, não no controle


Para ajudar adolescentes a resistirem às pressões e fazerem escolhas saudáveis, o adulto de referência precisa ir além da proibição. O que funciona, segundo a literatura?


  • Escuta ativa: Permitir que o adolescente fale sobre suas dúvidas, experiências e sentimentos sem medo de punição;

  • Diálogo contínuo: Conversas frequentes sobre limites, saúde e bem-estar, com base em confiança;

  • Modelo positivo: O comportamento dos adultos influencia mais do que seus discursos.



  1. Consequências do consumo precoce: físicas, emocionais e sociais


Muitas vezes, o primeiro contato com o álcool acontece como uma “brincadeira”, em situações sociais aparentemente inofensivas. No entanto, quando o consumo ocorre precocemente, antes dos 18 anos,, os impactos podem ser profundos e duradouros, tanto no cérebro em desenvolvimento quanto na saúde mental, nos relacionamentos e no desempenho escolar.


🧠 Impactos no desenvolvimento cerebral


Durante a adolescência, o cérebro ainda está em fase de maturação — especialmente o córtex pré-frontal, área responsável por:


  • Tomada de decisões;

  • Planejamento;

  • Controle de impulsos;

  • Regulação emocional.


O consumo precoce de álcool interfere diretamente nesse processo de amadurecimento neurológico. De acordo com a National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA, 2020), adolescentes que consomem álcool regularmente apresentam:


  • Maior risco de desenvolver dependência química na vida adulta;

  • Redução da memória de trabalho e capacidade de aprendizado;

  • Dificuldades na regulação emocional e controle comportamental.


❤️ Consequências emocionais e comportamentais


O uso de álcool pode parecer, a curto prazo, um “alívio” para emoções difíceis mas, a médio e longo prazo, agrava o sofrimento psíquico.


📌 Estudos apontam aumento de:


  • Sintomas de ansiedade e depressão;

  • Impulsividade e comportamento agressivo;

  • Automutilação e ideação suicida em usuários frequentes.


Segundo a American Psychological Association (APA, 2020), o uso de substâncias em adolescentes está associado à tentativa de manejar estados emocionais intensos sem estratégias de regulação adequadas.


👥 Efeitos sociais e acadêmicos


Além dos impactos na saúde, o álcool compromete seriamente aspectos sociais e escolares da vida do adolescente:

Área impactada

Efeitos observados

Rendimento escolar

Quedas nas notas, faltas frequentes, desmotivação para os estudos.

Relacionamentos familiares

Conflitos com pais, quebra de confiança, mentiras e isolamento.

Amizades

Aumento de envolvimento com grupos de risco ou comportamentos destrutivos.

Risco social

Envolvimento em brigas, acidentes, sexo desprotegido ou exposição à violência.


O relatório da UNODC (2023) ressalta que adolescentes que consomem álcool têm maior probabilidade de se envolver em situações de risco, muitas vezes antes de terem desenvolvido discernimento suficiente para lidar com as consequências.


🧩 O efeito “bola de neve”


O consumo precoce, mesmo que esporádico, pode se tornar uma porta de entrada para outras substâncias psicoativas, como maconha, cigarro e medicamentos sem prescrição. A vulnerabilidade aumenta quando há:


  • Histórico familiar de abuso de substâncias;

  • Dificuldades emocionais não acolhidas;

  • Ambientes escolares ou comunitários com baixa supervisão.


Por isso, a prevenção deve começar cedo, antes mesmo do primeiro gole, com conversas francas, informação de qualidade e construção de vínculo afetivo.


  1. Fatores de proteção e o papel da família, escola e comunidade


Prevenir o uso precoce de álcool entre adolescentes não é tarefa de uma pessoa só. A construção de fatores de proteção envolve toda uma rede: família, escola, comunidade e até o ambiente digital têm papéis decisivos.


Fatores de proteção são condições que reduzem a probabilidade de comportamentos de risco e aumentam a resiliência emocional e social do adolescente diante de pressões externas.


👨‍👩‍👧 Família: presença, vínculo e exemplo


A família é o primeiro ambiente de aprendizado emocional. Estudos mostram que o relacionamento de confiança entre pais e filhos é um dos fatores mais protetores contra o uso precoce de álcool.


🔎 Estratégias protetoras:


  • Escuta ativa e diálogo frequente: Perguntar como o adolescente está, sem julgamento, abre espaço para conversas mais profundas.

  • Estabelecer limites claros com empatia: Não se trata apenas de proibir, mas de explicar o porquê das regras, oferecendo alternativas.

  • Modelar comportamento consciente: O modo como os adultos consomem álcool influencia diretamente as percepções do adolescente sobre o uso.


Segundo a pesquisa do NIDA (National Institute on Drug Abuse, 2022), adolescentes cujos pais conversam abertamente sobre os riscos do álcool têm 42% menos chance de consumir precocemente.


🏫 Escola: espaço de educação emocional e prevenção


A escola não é apenas um espaço de ensino acadêmico. Quando acolhe e educa emocionalmente, atua diretamente na prevenção de comportamentos de risco.


🧩 Boas práticas escolares incluem:


  • Aulas de habilidades socioemocionais: Ensinam os alunos a lidar com pressão social, frustração e tomada de decisões.

  • Ambiente de pertencimento e valorização: Diminuem a necessidade de buscar aceitação por meio do álcool ou de outros comportamentos de risco.


🧠 Comunidade e rede de apoio: segurança e oportunidades


Adolescentes inseridos em comunidades com acesso a espaços seguros, atividades culturais e esportivas, e adultos de referência positivos têm menor chance de iniciar o consumo de álcool precocemente.


🌱 Fatores comunitários protetores:


  • Projetos sociais e esportivos;

  • Atividades extracurriculares regulares e acessíveis;

  • Canais de escuta e orientação para adolescentes em situação de vulnerabilidade.


Segundo o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2021), ambientes comunitários com forte senso de pertencimento reduzem significativamente comportamentos de risco, inclusive o consumo precoce de álcool.


🔄 Proteção é processo, não evento


Nenhum fator isolado “imuniza” o adolescente contra o uso precoce. O que realmente protege é o somatório de pequenas atitudes cotidianas:


  • Um adulto que pergunta: “Como você está?”

  • Uma escola que ouve ao invés de punir.

  • Uma conversa que começa com curiosidade, não com bronca.

  • Um espaço que convida o adolescente a pertencer, antes que ele precise buscar isso no álcool.


  1. Como conversar com adolescentes sobre o uso de álcool: diálogo, vínculo e prevenção afetiva


Conversar sobre o uso de álcool com adolescentes não é uma tarefa simples, mas é uma das estratégias mais eficazes de prevenção. E o ponto de partida não é o discurso, mas o vínculo.


O adolescente não precisa apenas de informação. Ele precisa sentir que pode falar sobre qualquer assunto com os adultos de sua confiança sem medo, vergonha ou julgamento.

É esse ambiente de escuta ativa, empatia e abertura que forma a base da prevenção afetiva.


🧭 Por que conversar antes de um “problema” surgir?


Segundo a American Academy of Pediatrics (AAP, 2021), conversas regulares e preventivas com adolescentes sobre o uso de substâncias reduzem significativamente a chance de envolvimento precoce com álcool e outras drogas. Quando essas conversas só ocorrem após uma descoberta, como encontrar bebida escondida ou ouvir relatos de terceiros, elas costumam estar marcadas por tensão, punição e fechamento emocional.


Conversas contínuas e naturais, por outro lado, constroem confiança mútua e ajudam o adolescente a:


  • Compreender riscos com clareza;

  • Desenvolver pensamento crítico;

  • Refletir sobre seus valores;

  • Pedir ajuda em situações reais de pressão ou risco.


🧠 O que o cérebro adolescente precisa para escutar com atenção?


O cérebro em desenvolvimento, especialmente entre os 12 e 25 anos, é altamente sensível à maneira como as mensagens são transmitidas. Estímulos ameaçadores ou julgadores ativam o sistema límbico (responsável por respostas emocionais rápidas) e inibem a função do córtex pré-frontal, que é a área responsável por análise, ponderação e tomada de decisões.


Ou seja: quando o adulto adota um tom acusatório ou autoritário, o adolescente tende a reagir com fechamento, desafio ou negação mesmo que, internamente, ele tenha dúvidas ou preocupações legítimas.


A escuta empática, por sua vez, regula o sistema nervoso autônomo, gera segurança emocional e ativa os circuitos cerebrais da confiança e do aprendizado, como demonstrado em pesquisas da neurocientista Lisa Feldman Barrett (2017).


💬 Como criar oportunidades de conversa natural?


Conversar sobre álcool não precisa ser um “momento solene”. Use situações cotidianas para abordar o tema com leveza e profundidade.


Gatilhos possíveis para iniciar a conversa:


  • Um comercial de bebida alcoólica na TV;

  • Uma cena em uma série que envolve consumo em festas;

  • Comentários ou experiências que o adolescente compartilha sobre colegas;

  • Uma ida a um evento familiar onde há presença de álcool.


Exemplos de frases para abrir espaço com respeito:


  • “Percebi que naquele episódio o personagem bebeu escondido. O que você achou daquilo?”

  • “Você acha que hoje existe muita pressão entre os adolescentes pra beber?”

  • “Já te ofereceram bebida alguma vez? Como foi pra você?”


Essas perguntas não exigem resposta imediata nem correta, elas comunicam disponibilidade e respeito, o que é essencial para manter o canal de diálogo aberto.


📚 O que dizer: sugestões de falas que acolhem e orientam


✔️ “Você não precisa saber tudo agora. Mas se tiver dúvidas ou quiser conversar, eu tô aqui.”


✔️ “O álcool afeta o cérebro de adultos de uma forma, mas no cérebro adolescente os efeitos podem ser bem diferentes. Quer ver juntos um vídeo sobre isso?”


✔️ “Se um dia você estiver em uma situação desconfortável, pode me ligar. Mesmo se tiver feito algo que achava que não podia. Prefiro que você esteja seguro do que com medo.”


✔️ “Não estou te perguntando isso porque não confio. Mas porque me importo. Eu também tive dúvidas nessa idade.”


Essas frases reforçam a confiança, informam com clareza e protegem sem ameaçar, o tripé de uma comunicação preventiva eficaz.


❌ O que evitar: frases que bloqueiam a conversa


Mesmo com boas intenções, algumas frases minam o diálogo:


  • “Você é muito novo pra falar sobre isso.”

  • “Se eu souber que você bebeu, vai ver só.”

  • “Na minha época ninguém tinha essas frescuras.”

  • “Comigo ninguém nunca conversou e eu cresci muito bem.”


Essas abordagens geram resistência emocional e desconexão. Elas negam a realidade atual do adolescente e limitam a possibilidade de construir um vínculo de confiança.


👨‍👩‍👧 Como adaptar o diálogo por faixa etária


🟠 Pré-adolescentes (9–12 anos):


  • Introduza o tema com naturalidade e sem alarmismo.

  • Explique que bebidas alcoólicas não são adequadas para corpos em desenvolvimento.

  • Use linguagem simples: “O álcool atrapalha o cérebro em crescimento e pode fazer mal de verdade nessa fase.”


🟡 Adolescentes mais jovens (13–15 anos):


  • Fale sobre pressão de grupo, identidade e pertencimento.

  • Mostre que é possível ser respeitado sem ceder à pressão para beber.

  • Incentive a pensar nas consequências a curto e longo prazo.


🟢 Adolescentes mais velhos (16+):


  • Enfatize a autorresponsabilidade, os riscos legais e a tomada de decisões conscientes.

  • Mostre que confiança se constrói com base no diálogo, não no controle.

  • Aborde também os contextos sociais: festas, direção, relacionamentos.


🛠️ Dicas práticas para manter o diálogo vivo


  • Volte ao tema com regularidade. Não basta uma conversa. O cérebro adolescente aprende com repetição.

  • Observe e escute com atenção. Mudanças sutis de comportamento podem indicar que algo está acontecendo.

  • Escute mais do que fala. Às vezes, o adolescente só precisa saber que pode confiar, mesmo no silêncio.

  • Seja curioso e não acusatório. O tom de pergunta aberta é sempre mais efetivo do que o tom de inquérito.


  1. Recursos para prevenção e apoio emocional sobre o uso de álcool na adolescência


A prevenção ao uso precoce de álcool na adolescência exige mais do que proibições: ela se fortalece com informação acessível, apoio emocional contínuo e ferramentas práticas que estimulem o diálogo, a autonomia e a consciência crítica. Nesta seção, reúno recursos selecionados e atualizados, cuidadosamente verificados, que podem ajudar famílias e profissionais a compreender melhor o comportamento adolescente e promover escolhas mais saudáveis.


Esses materiais não substituem o acompanhamento profissional, mas são aliados poderosos na construção de ambientes de escuta, vínculo e prevenção efetiva.


📱 Aplicativos de apoio para adolescentes e famílias


Aplicativos com base em evidências e respaldo profissional podem auxiliar na promoção de saúde mental, autorregulação emocional e prevenção de comportamentos de risco como o uso de álcool. São indicados tanto para adolescentes quanto para pais e cuidadores que buscam ferramentas práticas e acessíveis.

Nome do App

Função principal

Smiling Mind

Meditação guiada e atenção plena voltada a jovens

MindShift CBT

Estratégias de TCC para ansiedade e tomada de decisão

TalkLife

Rede social moderada para desabafos, conexão e apoio emocional

Proteja Brasil

Denúncia e localização de órgãos de proteção de direitos da infância e juventude


📚 Livros para famílias, educadores e adolescentes


Títulos com linguagem acessível, base científica sólida e relevância direta ao tema da adolescência, saúde emocional, tomada de decisão e uso de substâncias. São ideais para iniciar conversas em casa ou aprofundar o conhecimento sobre os desafios dessa fase.


O Cérebro Adolescente: um guia de sobrevivência para pais e filhos

Autora: Frances E. Jensen

Neurocientista e médica, Jensen apresenta uma explicação clara e atualizada sobre o funcionamento do cérebro adolescente. O livro mostra como mudanças neurobiológicas influenciam o comportamento e vulnerabilidades dos jovens, incluindo os efeitos do álcool e outras substâncias.


Nação Dopamina: Enfrentando os excessos de um mundo que nos deixa infelizes

Autora: Anna Lembke

Psiquiatra da Universidade de Stanford, a autora explica como vivemos uma era de superestimulação dopaminérgica e como isso afeta especialmente adolescentes. Aborda o papel de substâncias como o álcool no sistema de recompensa do cérebro e traz estratégias práticas para restaurar o equilíbrio emocional.


Álcool e Drogas na Adolescência: um guia para pais e professores

Autora: Vera Iaconelli

Com base em sua atuação como psicóloga e psicanalista, Iaconelli discute os fatores que levam adolescentes ao uso de substâncias. Traz orientações claras para famílias e educadores sobre como abordar o tema sem tabu ou julgamento.


Prevenção ao Uso de Álcool e Drogas

Autor: Ronaldo Laranjeira

Obra essencial para quem atua com prevenção. Laranjeira, referência em dependência química no Brasil, oferece embasamento científico e estratégias aplicáveis no contexto familiar, escolar e comunitário para lidar com o uso precoce de substâncias.


🎬 Documentários e vídeos educativos


Recursos audiovisuais impactam adolescentes de forma mais direta e emocional. Abaixo, sugestões de documentários e vídeos que explicam os efeitos do álcool e abrem espaço para reflexão e conversa em família ou na escola.


Juventude e Drogas – Canal Futura

Série brasileira que traz depoimentos reais de adolescentes, entrevistas com especialistas e propostas de prevenção no contexto nacional.


🍷 A Verdade Sobre o Álcool – BBC

Apresentado por um médico, o documentário mostra os reais impactos do álcool no corpo humano, inclusive no cérebro em formação.


  1. Conclusão: Prevenir com afeto, orientar com ciência


O uso precoce de álcool na adolescência não é apenas uma questão de escolha individual, e sim um fenômeno profundamente relacionado ao contexto emocional, social, familiar e neurobiológico em que os jovens estão inseridos. A ciência já mostrou que o cérebro adolescente é mais vulnerável aos efeitos do álcool e que os impactos não se limitam ao momento do consumo, mas se estendem à formação da identidade, da saúde mental e das habilidades socioemocionais.


Prevenir, portanto, não significa apenas dizer “não beba” ou impor regras rígidas. Significa criar vínculos fortes, modelar comportamentos conscientes, oferecer informação clara e atualizada, e acima de tudo, manter abertos os canais de escuta e acolhimento.


Educar sobre álcool é também educar sobre emoções, escolhas, limites e pertencimento. É preparar o adolescente para lidar com a pressão social, com a curiosidade natural e com as contradições dessa fase com mais segurança e menos culpa. É mostrar que ele pode e merece — fazer escolhas que protejam sua saúde e sua liberdade a longo prazo.


Famílias, educadores e profissionais de saúde têm um papel insubstituível nesse processo. Quando o cuidado é baseado na escuta ativa, no diálogo e na confiança, o adolescente se sente visto, valorizado e mais capaz de tomar decisões alinhadas ao seu bem-estar.


Referências bibliográficas


AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION (APA). Risk factors and prevention for substance use in adolescence. Washington, DC, 2020. Disponível em: https://www.apa.org


COSTA, Jurandir Freire. Adolescência: do corpo ao sujeito. Rio de Janeiro: Garamond, 2004.


FRANZIM, Raquel; ZANELLO, Valeska. Como conversar com um jovem sobre drogas. São Paulo: Boitempo, 2022.


INTERNATIONAL CENTRE FOR ALCOHOL POLICIES. Youth and Alcohol. ICAP Reports Series, v. 8, 2002. Disponível em: https://icap.org


JENSEN, Frances E. O cérebro adolescente. São Paulo: Fontanar, 2015.


LEMBKE, Anna. A geração dopamina: por que estamos mais compulsivos e menos felizes. São Paulo: Intrínseca, 2023.


ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Consumo de álcool entre adolescentes: relatório regional. Washington, DC, 2021. Disponível em: https://www.paho.org


SILVA, M. T.; MENEZES, A. M. B. Uso de álcool na adolescência e fatores associados. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 40, n. 1, p. 30–37, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbp


UNESCO. International Technical Guidance on Sexuality Education. Paris: UNESCO, 2018. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org


UNODC. World Drug Report 2023. United Nations Office on Drugs and Crime, 2023. Disponível em: https://www.unodc.org


SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Adolescente em Conflito. São Paulo: Principium, 2016.

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