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Quando a amizade acaba: como acolher adolescentes que se sentem rejeitados, sozinhos ou deixados de lado

  • Paloma Garcia
  • 6 de jun.
  • 25 min de leitura

Atualizado: 12 de set.


Ela chegou da escola mais cedo. Disse que estava com dor de cabeça, mas no fundo, a dor era em outro lugar. Um lugar que nem ela sabia nomear: o silêncio das amigas que agora falavam no grupo sem incluir seu nome. Uma ausência que grita.

O fim de uma amizade pode abalar profundamente a autoestima de um adolescente. Este guia completo mostra como pais e educadores podem acolher sem invadir, nomear a dor e reconstruir com o jovem um novo senso de pertencimento, com base na ciência do desenvolvimento emocional.


  1. Por que perder amizades dói tanto na adolescência: rejeição, perda e o impacto emocional nos vínculos entre amigos


Poucos adultos percebem o quanto um afastamento entre amigos pode desorganizar emocionalmente um adolescente. À primeira vista, pode parecer algo simples, até “drama passageiro”. Mas a ciência tem mostrado, com consistência, que o rompimento de laços sociais na adolescência ativa mecanismos profundos no cérebro e que a dor da rejeição é real, mensurável e legítima.


Essa dor de se sentir desvalorizado ou deixado de lado pode levar adolescentes a buscar formas alternativas de conexão, inclusive com inteligências artificiais como “companheiros virtuais” interações que merecem atenção para os efeitos emocionais e éticos envolvidos. Leia mais no artigo “Companheiros de Inteligência Artificial na Adolescência: riscos e descobertas”.


Vamos entender por que isso acontece?


🧩 A amizade como pilar da identidade adolescente


Na adolescência, os pares deixam de ser apenas companhia e passam a ser espelhos da identidade em construção. A forma como o adolescente é visto pelo grupo influencia diretamente sua autoestima, seu autoconceito e até suas escolhas de comportamento.


Segundo o psicólogo Erik Erikson (1963), essa fase da vida gira em torno do conflito “identidade versus confusão de papéis”. Os adolescentes estão tentando entender quem são e fazem isso, em grande parte, através dos relacionamentos com seus pares.


“Durante a adolescência, os pares se tornam espelhos emocionais, é com eles que o jovem testa quem é.” (Erikson, 1963, p. 261)

Por isso, quando uma amizade se rompe, não se trata apenas de uma perda externa. O adolescente pode se sentir quebrado por dentro, como se tivesse perdido também uma parte de quem ele é.


🧩 O cérebro social em desenvolvimento


Nos últimos anos, as neurociências têm confirmado o que a psicologia do desenvolvimento sempre apontou: o cérebro humano é programado para a conexão social. Somos seres sociais em nossa arquitetura neurológica.


Pesquisadores como Matthew Lieberman (2013) e John Cacioppo (2014) descrevem esse sistema como “cérebro social”, responsável por processar interações sociais, sentimentos de pertencimento e, sobretudo, a dor da exclusão.


Estudos com ressonância magnética funcional revelaram algo impressionante: ser excluído socialmente ativa as mesmas áreas cerebrais que processam a dor física.


📊 Em um experimento clássico (Eisenberger et al., 2003), adolescentes que foram excluídos de um jogo virtual (Cyberball) apresentaram ativação cerebral nas mesmas regiões associadas à dor física, como se tivessem levado uma pancada.


🔎 Ou seja: para o cérebro adolescente, ser ignorado por um amigo pode doer tanto quanto um machucado visível no corpo.


🧩 A vulnerabilidade emocional típica da adolescência


O sofrimento é ainda mais intenso porque o cérebro adolescente está em uma fase de alta sensibilidade e instabilidade emocional.


  • O córtex pré-frontal é a parte do cérebro que ajuda a avaliar situações com calma, controlar impulsos e tomar decisões racionais, mas ele ainda está em desenvolvimento na adolescência.


  • Enquanto isso, a amígdala (ligada ao medo e à intensidade emocional) e o sistema límbico (responsável pelas emoções) já estão funcionando a todo vapor. Isso significa que o adolescente sente tudo com muita força, mas ainda não tem todas as ferramentas cerebrais para se autorregular.


Além disso, a necessidade de validação externa (ser aceito, incluído, reconhecido) atinge seu ápice nesse período da vida. O grupo de amigos não é apenas companhia: é referência emocional, social e identitária.


💡 Dica complementar: Se o adolescente está em busca de novos vínculos, veja também o artigo Estratégias para fazer amizades na adolescência, com dicas práticas e acolhedoras.


  1. Afastamento, rejeição ou rompimento? Nem toda amizade termina do mesmo jeito


Quando uma amizade termina na adolescência, a dor nem sempre vem de um rompimento claro ou de uma briga visível. Às vezes, ela se instala silenciosamente e é justamente essa indefinição que a torna tão difícil de elaborar. Para quem está de fora, pode parecer tudo igual. Mas para o adolescente, o modo como essa perda acontece muda tudo: o que ele sente, o que interpreta e o que conclui sobre si mesmo.


Entender os diferentes tipos de perda nas amizades adolescentes é um passo essencial para que pais, responsáveis e educadores possam acolher com mais precisão.


🧩 Afastamentos graduais e silenciosos


Esse é talvez o tipo de perda mais comum e o menos visível. O adolescente percebe, aos poucos, que não é mais incluído nas conversas, nos encontros, nos grupos online. Não houve briga. Ninguém falou nada diretamente. Mas ele se sente deixado de lado, substituído, esquecido.


Esses afastamentos costumam estar associados a mudanças de grupo, de interesses ou de dinâmica social, especialmente em transições como a passagem do ensino fundamental para o médio. Kenneth Rubin e William Bukowski, no Handbook of Peer Interactions, Relationships, and Groups (2009), apontam que essas rupturas são típicas da adolescência média e tardia, quando a identidade social ainda está em reconfiguração.


A dificuldade maior, nesse caso, é a falta de clareza: sem um motivo declarado, o adolescente tende a internalizar a dor como algo pessoal, alimentando dúvidas, insegurança e uma ruminação emocional que fragiliza sua autoestima.


🧩 Rejeição explícita ou socialmente exposta


Há também situações em que a ruptura é direta e pública: o adolescente é excluído de um grupo de WhatsApp, tem mensagens ignoradas ou é alvo de comentários depreciativos, muitas vezes nas redes sociais.


Esse tipo de rejeição tem impacto imediato e profundo, pois combina perda relacional com humilhação social. Além da tristeza, há vergonha, raiva e sensação de desamparo.


A neurocientista Naomi Eisenberger, em estudo publicado na revista Science (2003), demonstrou que a exclusão social ativa no cérebro as mesmas áreas ligadas à dor física, como o córtex cingulado anterior dorsal. Isso significa que ser rejeitado socialmente literalmente dói no corpo, uma informação que deveria mudar a forma como adultos reagem a esse tipo de sofrimento.


Quando essa exclusão é intencional, repetitiva e envolta em desequilíbrio de poder, entramos no campo do bullying. Dan Olweus, um dos maiores estudiosos do tema, define o bullying como comportamento sistemático de exclusão ou agressão, com intenção de ferir e repetição ao longo do tempo (Bullying at School, 1993).

Meninas cochichando enquanto uma colega isolada parece triste em sua carteira escolar

🧩 Rompimentos por conflito ou traição


Aqui, a amizade termina com tensão: brigas, acusações, segredos revelados, deslealdade. O adolescente sabe que algo aconteceu, mas isso não reduz a dor ao contrário, intensifica.


Nesses casos, o rompimento costuma gerar sentimentos ambíguos: tristeza, mas também raiva; culpa, mas também desejo de reconciliação. Muitas vezes, o adolescente revisa os acontecimentos mentalmente em busca de justiça emocional ou para se culpar.


Segundo Judith Rich Harris (1998), no livro The Nurture Assumption, as normas de lealdade e pertencimento nos grupos de pares adolescentes são tão fortes quanto invisíveis e quando são quebradas, produzem reações emocionais profundas. Susan Harter (2012), por sua vez, descreve como esses conflitos podem abalar diretamente a autoimagem do adolescente, especialmente se ele interpreta o rompimento como sinal de falha pessoal.


🧩 Exclusão social ou bullying? Como diferenciar


É importante distinguir o que é um afastamento natural, mesmo que doloroso, de uma situação de violência emocional.


Quando a exclusão acontece de forma pontual ou por mudanças legítimas de afinidade, ela pode ser difícil, mas não é necessariamente abusiva. Já o bullying envolve:


  • Intencionalidade (excluir para ferir)

  • Repetição

  • Desequilíbrio de poder (quem exclui tem mais influência)


Esses critérios são descritos por Olweus (1993) como fundamentais para o diagnóstico da prática de bullying. A Organização Mundial da Saúde também reconhece a exclusão sistemática como fator de risco para sofrimento psíquico grave na adolescência (OMS, 2021).


Dados recentes do CDC (Youth Risk Behavior Survey, 2023) mostram que adolescentes vítimas de exclusão contínua apresentam maior prevalência de sintomas depressivos e ideação suicida, especialmente quando não encontram rede de apoio.


  1. Tristeza, raiva, isolamento: as reações dos adolescentes ao se sentirem rejeitados


Ele se trancou no quarto depois da escola e disse que só estava cansado. Na verdade, havia sido excluído de um grupo no WhatsApp, o mesmo grupo que por meses foi seu espaço de pertencimento. Não queria falar com ninguém. Mas no olhar, algo entre vergonha, mágoa e uma pergunta muda: “o que eu fiz de errado?”

A dor emocional de uma rejeição entre amigos na adolescência nem sempre grita por socorro com palavras. Muitas vezes, ela aparece em forma de silêncio, explosões de raiva ou mudanças bruscas de comportamento. E tudo isso é esperado, porque o adolescente está lidando com uma perda afetiva importante, em uma fase de intensa vulnerabilidade emocional.

Adolescente olhando o celular com expressão de tristeza enquanto colegas cochicham ao fundo

A seguir, como essas reações costumam se manifestar, com base na psicologia do desenvolvimento, na neurociência afetiva e em estudos recentes sobre sofrimento relacional.


🧩 Emoções comuns após perdas sociais


Quando um adolescente é excluído, deixado de lado ou rejeitado por amigos, as primeiras reações tendem a ser emocionais e intensas. Entre as mais frequentes:


  • Tristeza profunda, frequentemente acompanhada de sensação de vazio e apatia

  • Raiva, que pode se voltar contra os outros (culpa externa) ou contra si mesmo (autodepreciação)

  • Vergonha social, que leva ao retraimento e à dificuldade de contar o que aconteceu

  • Ansiedade antecipatória, principalmente diante de situações em que há chance de nova rejeição


Essas respostas não são sinal de fraqueza, são esperadas e consistentes com o que se conhece sobre o desenvolvimento do self. Susan Harter (2012), ao estudar a formação da autoimagem em adolescentes, demonstrou que a validação social dos pares é uma das principais fontes de construção (ou destruição) da autoestima nessa fase.


Além disso, Brené Brown (2021), no livro Atlas of the Heart, reforça que a vergonha é uma emoção central quando o adolescente sente que não é digno de pertencimento. Isso ajuda a entender por que muitos preferem se isolar do que falar abertamente sobre o que sentiram.


🧩 Comportamentos observáveis mais frequentes


As emoções nem sempre são verbalizadas. Muitas vezes, elas se manifestam por meio de mudanças comportamentais. Entre os sinais mais comuns estão:


  • Isolamento repentino: o adolescente evita a escola, os colegas, a própria família

  • Irritabilidade ou hostilidade, especialmente quando provocado ou questionado

  • Busca ansiosa de aprovação, tentando se readaptar aos grupos que o excluíram

  • Regressões emocionais, como aumento da dependência dos pais ou insegurança para tarefas que antes realizava com autonomia


Lisa Damour (2023), psicóloga clínica especializada em adolescência, chama esses comportamentos de “reações de regulação emocional externa”, formas que o adolescente encontra para lidar com uma dor interna que ainda não sabe nomear. Já o neurocientista Ronald Dahl (2004) explica que essas respostas são esperadas, considerando que o cérebro adolescente combina alta intensidade emocional com baixa autorregulação neural, o que o torna especialmente vulnerável a rupturas sociais.


🧩 Diferenças individuais nas respostas emocionais


Nem todo adolescente reage da mesma forma e isso é essencial de se compreender. Fatores como personalidade, histórico familiar e tipo de vínculo afetivo anterior modulam a forma como a dor relacional se manifesta.


  • Jovens mais introspectivos tendem a internalizar a dor, apresentando tristeza, retraimento ou queda de rendimento escolar

  • Já os mais impulsivos ou reativos podem externalizar o sofrimento, por meio de agressividade, desrespeito a regras ou ironia defensiva

  • A história de vínculos prévios seguros atua como fator de proteção: quem já teve apoio emocional consistente costuma reagir com mais resiliência


Além disso, existem diferenças de expressão emocional associadas a gênero, muito mais socioculturais do que biológicas. Segundo dados da APA (American Psychological Association), meninas relatam mais tristeza e vergonha, enquanto meninos tendem a expressar dor relacional por meio de raiva, negação ou desdém, reflexo de padrões de socialização emocional.


Em estudo longitudinal publicado por Nick Allen e colaboradores na Developmental Psychology (2014), adolescentes que passaram por rejeição social sem apoio adequado apresentaram maior vulnerabilidade a sintomas depressivos, especialmente os que tinham dificuldade de expressar abertamente suas emoções.


🧭 Reações esperadas não são sinais de fragilidade


É fundamental que adultos saibam diferenciar reações normais de dor emocional, como ficar mais calado, evitar certas situações ou se mostrar mais sensível, de sinais clínicos de sofrimento grave (que serão abordados no Subtema 8).


Quando o adolescente sofre uma rejeição, é esperado que:


  • Fique mais emocionalmente instável por dias ou semanas

  • Evite certos ambientes ou pessoas associadas ao vínculo rompido

  • Questione a própria identidade ou valor pessoal


Essas reações, quando acompanhadas por um adulto que escuta e respeita seu tempo, tendem a se reorganizar e gerar maturidade emocional.


  1. “Você está fazendo tempestade em copo d’água”: quando os adultos não entendem a dor da rejeição


Por mais bem-intencionados que sejam, adultos frequentemente minimizam a dor relacional vivida por adolescentes. Isso acontece não por falta de amor, mas por dificuldade em reconhecer a profundidade que essas experiências têm na formação emocional e identitária dos jovens.


O problema é que, quando um adulto responde com negação, racionalização ou pressa para “resolver”, ele interrompe o processo de elaboração emocional. O adolescente, que já está vulnerável, pode se sentir ainda mais só e, pior, inadequado por sentir o que sente.


🧩 Frases que machucam, mesmo querendo ajudar


Frases como:

  • “Isso vai passar.”

  • “Você está muito sensível.”

  • “Eles não eram seus amigos de verdade.”

  • “Tem gente passando por coisa bem pior.”


...não parecem agressivas. Na maioria das vezes, são ditas com a intenção de consolar ou proteger. Mas o efeito real é o oposto: invalidação emocional, reforço da vergonha e aumento do isolamento.


Segundo Brené Brown, pesquisadora referência em vulnerabilidade e empatia, a escuta empática não começa com conselhos, mas com conexão emocional. Em Atlas of the Heart (2021), ela afirma que frases como “pelo menos…” ou “não fique assim” bloqueiam o vínculo. O que ajuda, na verdade, é estar presente e dizer:


“Eu não sei exatamente o que dizer agora, mas estou com você.”

🧩 Por que os adultos minimizam o sofrimento dos adolescentes?


Existem diversos fatores que levam os adultos a não reconhecerem a profundidade da dor social na adolescência:


  • Distorção geracional: “No meu tempo a gente não fazia drama por isso.”

  • Instinto de proteção: tentar livrar o filho da dor apagando o que sente.

  • Desconhecimento: não saber que a amizade é, muitas vezes, a principal fonte de identidade, segurança e autoestima do adolescente.

  • Ansiedade parental: ver o filho sofrendo gera desconforto, que o adulto tenta eliminar com rapidez.


Lisa Damour, em Untangled (2016), alerta: os adultos querem resolver, mas os adolescentes precisam ser acompanhados, não consertados. Essa diferença é essencial para construir confiança.


Jean Twenge, autora de iGen, também destaca que as gerações atuais crescem em contextos hiperconectados, mas carentes de vínculos profundos. Isso torna cada rejeição ainda mais significativa emocionalmente, especialmente quando ocorre em ambientes digitais, com visibilidade e permanência.


🧩 O que o adolescente está comunicando (mesmo sem palavras)


Nem sempre o sofrimento aparece como um pedido de ajuda direto. Às vezes ele se manifesta por:


  • Silêncio: que não é indiferença, mas um pedido de acolhimento sem pressão.

  • Raiva: que pode ser a expressão visível de uma vergonha não nomeada.

  • Apatia ou irritação: que esconde exaustão emocional.


Frases como:

  • “Me nota.”

  • “Me escuta sem me corrigir.”

  • “Fica comigo mesmo quando eu digo que não quero falar.”


...são mensagens emocionais que os adolescentes comunicam com o corpo, com o tom de voz, com a distância. E que pedem presença afetiva, não correção comportamental.


A neurocientista Tania Singer, em sua pesquisa sobre empatia relacional (Social Neuroscience of Empathy, 2006), aponta que o cérebro responde positivamente à presença empática real, mesmo sem palavras. A empatia eficaz, segundo ela, não depende de saber o que dizer, mas de saber como estar.


🧭 O risco de desqualificar a dor


Quando a dor emocional é minimizada, o adolescente aprende que sentir é errado ou que falar não adianta. Isso pode gerar:


  • Rompimento de confiança no vínculo com os adultos

  • Reforço de crenças negativas sobre si mesmo

  • Isolamento emocional crônico


Por outro lado, quando o jovem é escutado sem julgamento, ele começa a construir autonomia emocional com base segura. Ele não precisa “superar” para ser aceito, pode ser acolhido enquanto ainda sente.


Falas que invalidam x Falas que acolhem

❌ O que não ajuda

✅ O que pode acolher

“Isso passa, logo você esquece”

“Deve estar sendo difícil se sentir deixado de lado”

“Você precisa ser mais forte”

“É normal se sentir vulnerável agora”

“Eles não te mereciam mesmo”

“Quer me contar o que aconteceu entre vocês?”

“Você é muito sensível”

“Está tudo bem sentir isso. Me conta mais?”


  1. Acolher é mais do que consolar: como estar presente quando o adolescente perde uma amizade


O momento em que um adolescente se sente rejeitado ou excluído é profundamente delicado. E o que mais precisa, nesse instante, não é de explicações, soluções ou conselhos rápidos, é de presença. Uma presença que comunica: “Você não está sozinho nisso.”

Pai coloca a mão no ombro do filho adolescente, em momento de escuta acolhedora ao ar livre

🧩 A escuta ativa como ponto de partida


Antes de qualquer palavra, o corpo fala. Por isso, o primeiro gesto de acolhimento é estar disponível de verdade: olhar nos olhos, desligar o celular, parar o que se está fazendo. A escuta começa pela atenção.


Carl Rogers, criador da Abordagem Centrada na Pessoa, defende que o cuidado psicológico acontece quando há empatia genuína, aceitação incondicional e autenticidade. Não se trata de “consertar” o outro, mas de estar ao lado dele, sem pressa e sem julgamento.


Escuta ativa também é saber tolerar o silêncio. Muitos adolescentes demoram para falar e pressioná-los pode piorar a sensação de não serem compreendidos. A simples presença já é terapêutica quando comunica: “Estou aqui, e não preciso que você diga tudo para que eu me importe.”


🧩 Nomear sentimentos ajuda a organizar o caos interno


Quando o adolescente consegue dar nome ao que sente, ele começa a retomar o controle emocional.


Dan Siegel, autor de Brainstorm e The Whole-Brain Child, introduziu a estratégia do “name it to tame it” (nomeie para acalmar). Ele explica que nomear emoções ativa o córtex pré-frontal, favorecendo a regulação emocional e ajudando o jovem a sair do modo reativo.

Perguntas como:


  • “É como se tivessem te tirado de algo importante e nem te explicaram o porquê?”

  • “Você está se sentindo traído(a)?”

  • “É mais tristeza ou mais raiva que está aí dentro agora?”


...ajudam o adolescente a se localizar emocionalmente dentro do turbilhão.


🧩 Validar sem invadir


Um dos maiores erros no acolhimento é tentar consolar de forma automática, com frases como:


  • “Não chora.”

  • “Você é mais forte do que isso.”

  • “Eles não valem a sua tristeza.”


Essas falas, apesar da boa intenção, invalidam a dor, como se sentir fosse algo a ser evitado ou negado.


O que o adolescente precisa ouvir são frases que validem sua experiência, como:


  • “Faz sentido estar triste com isso.”

  • “Parece que doeu muito mesmo.”

  • “Se fosse comigo, acho que também me sentiria assim.”


Lisa Damour, em The Emotional Lives of Teenagers (2023), lembra que o papel do adulto não é eliminar a dor, mas ensinar o adolescente a reconhecê-la e atravessá-la.


🧩 Contenção emocional: oferecer estabilidade sem tentar consertar


Estar com alguém que está em sofrimento é desconfortável. Mas o acolhimento verdadeiro acontece quando o adulto tolera esse desconforto sem tentar preenchê-lo com soluções.

Alguns gestos simples de contenção emocional:


  • Reafirmar o vínculo: “Se quiser companhia, eu fico por perto.”

  • Oferecer segurança afetiva sem invasão: “Você não precisa falar agora. Só quero que saiba que estou aqui.”

  • Incentivar pequenas ações reguladoras: alimentação, sono, pausas, respiração.


Nancy Eisenberg, pesquisadora referência em regulação emocional, explica que o processo de co-regulação na adolescência é crucial para que os jovens construam repertório emocional interno. A presença de um adulto regulado é o que ajuda o adolescente a se reorganizar por dentro.


Quadro de boas práticas de acolhimento

Situação comum

❌ O que NÃO fazer

✅ O que FAZER

Adolescente triste e calado no sofá

“Você está exagerando. Amanhã já esquece isso.”

“Quer me contar o que aconteceu? Se não quiser, tudo bem também.”

Crise de choro após exclusão de amigos

“Não chora por gente que não te merece.”

“Parece que isso está doendo muito. Chorar é parte do processo.”

Irritação com pais ou irmãos

“Para de grosseria. Vai pro seu quarto.”

“Percebi que você está irritado… quer um tempo ou prefere conversar comigo?”

Adolescente evita falar do assunto

“Se você não fala, não tem como eu ajudar.”

“Eu estou por perto. Quando você quiser, podemos conversar.”


  1. É luto, sim: quando o fim de uma amizade dói como perda de alguém querido


Ela não brigou com a amiga ontem. Nem anteontem. Mas, há semanas, entra no Instagram só para ver se foi marcada em alguma foto e nunca é. Checa o grupo da escola e está cada vez mais em silêncio. Anda calada, dorme pouco, revê mentalmente a última conversa como quem tenta entender um fim que não foi anunciado.


Quando uma amizade termina na adolescência, o impacto emocional pode ser profundo, duradouro e difícil de nomear. Muitos adultos ainda associam o luto apenas à morte, mas a ciência e a clínica vêm mostrando que perdas significativas, como o rompimento de um vínculo afetivo importante, também ativam processos de luto.


A dor não depende do tipo de vínculo, mas da intensidade da conexão emocional. E sim, o fim de uma amizade íntima pode representar um luto real.


🧩 A amizade como vínculo de apego


Na adolescência, os amigos deixam de ser apenas companheiros e passam a ocupar papéis centrais de suporte emocional. Muitas vezes, são eles que escutam segredos, oferecem validação, compartilham inseguranças e participam da construção da identidade.


John Bowlby, criador da Teoria do Apego, definiu como figuras de apego aquelas pessoas que fornecem segurança, conforto e regulação emocional. E Mary Ainsworth demonstrou que, em diferentes fases da vida, esse papel pode ser ocupado por diferentes figuras, inclusive pares. Quando essa figura se perde, a dor vivida é comparável à perda de um familiar próximo.


Donald Winnicott também contribui com esse entendimento ao afirmar que certos vínculos funcionam como “objetos transicionais emocionais”: relações internalizadas que oferecem estrutura psíquica. Quando esses vínculos se rompem, há um desequilíbrio emocional real, que precisa ser processado.


🧩 Fases do luto adaptadas à perda de amizade


O modelo proposto por Elisabeth Kübler-Ross para perdas por morte pode ser adaptado para o contexto de perda simbólica ou relacional, como o fim de uma amizade significativa. Veja como essas fases costumam se manifestar em adolescentes:


  • Negação: “Eles devem estar ocupados. Já já falam comigo.”

  • Raiva: “Eles são falsos. Odeio todos!”

  • Barganha: “Se eu mudar, se for mais legal, talvez voltem...”

  • Tristeza: choro frequente, apatia, sensação de vazio

  • Aceitação: “Foi importante, mas agora acabou. Eu posso seguir.”


Essas fases não são lineares nem obrigatórias. Segundo Robert Neimeyer, especialista em luto e autor de Techniques of Grief Therapy, o mais importante não é “superar” a dor, mas reconstruir significado após a perda. O processo de luto saudável permite que a dor seja sentida, metabolizada e ressignificada.


🧩 Narrativas internas: a história que o adolescente conta para si


Uma das áreas mais afetadas no luto por amizade é a autoimagem. O adolescente tende a interpretar a rejeição como reflexo de sua identidade, e não como um evento relacional.


Narrativas internas comuns incluem:


  • “Fui deixado de lado porque sou chato.”

  • “Ninguém gosta de mim de verdade.”

  • “Sou sempre o que sobra.”


Essas crenças, chamadas de crenças centrais negativas pela Terapia Cognitivo-Comportamental (Aaron e Judith Beck), moldam o modo como o adolescente interpreta novas experiências e influenciam diretamente sua autoestima.


Dan Siegel, neuropsiquiatra e autor de Mindsight, reforça que o apoio emocional dos adultos pode ajudar o adolescente a reescrever sua narrativa interna, integrando a perda como parte da história, sem que ela defina quem ele é.


🧩 Ferramentas para elaboração e ressignificação


A dor não desaparece com lógica, mas pode ser metabolizada com expressão emocional simbólica. Algumas ferramentas que auxiliam nesse processo:


  • Diários emocionais: escrever o que sente ajuda a organizar o caos interno

  • Cartas não enviadas: escrever para o amigo (ainda que nunca entregue) favorece o fechamento simbólico

  • Desenhar ou “nomear a dor”: dar forma concreta ao que antes era apenas sensação

  • Conversas com adultos que favorecem reinterpretação: ao contar sua história e ser escutado, o adolescente reconstrói sentido


A psicoterapia narrativa, descrita por Michael White e David Epston, propõe exatamente isso: recontar a história da perda sob outra perspectiva, dando ao adolescente um papel ativo, não como vítima permanente, mas como alguém em transformação.


🧭 A dor precisa ser sentida, mas não eternizada


Validar o luto por uma amizade não significa alimentar sofrimento. Ao contrário: é reconhecendo a legitimidade da dor que se abre espaço para que ela seja vivida de forma saudável.


Ignorar ou minimizar só retarda o processo e deixa cicatrizes mal curadas.


  1. Não é porque uma amizade terminou que você deixou de ter valor: como reconstruir a autoestima e o pertencimento


Quando um adolescente vive uma ruptura relacional significativa, especialmente se ela envolve rejeição ou exclusão, é comum que passe a duvidar do próprio valor. Pode parecer, para ele, que “ninguém gosta de mim”, “não pertenço a lugar nenhum” ou “deve ter algo errado comigo”.


Esse é um dos momentos mais críticos para a formação da autoestima. E o apoio adulto cuidadoso, realista e afetuoso pode ajudar a reestruturar a autoimagem e reabrir espaço para o pertencimento, sem pressa nem idealizações.


🧩 Quando a rejeição vira identidade: o risco da autodepreciação


Perder uma amizade importante pode ser interpretado, internamente, como prova de que o problema está na própria pessoa. É o que Judith Beck chama de crenças centrais negativas, conclusões generalizantes como:


  • “Sou inadequado.”

  • “Não sou bom o suficiente.”

  • “Sempre vou ser deixado de lado.”


Essas crenças costumam surgir quando o adolescente ainda está emocionalmente fragilizado e sem apoio suficiente para interpretar a situação com mais perspectiva.


Susan Harter, pesquisadora referência na psicologia do self, destaca que a autoimagem adolescente é altamente dependente do olhar do outro e que vivências de rejeição podem gerar rupturas no senso de valor pessoal. Martin Seligman, criador da Psicologia Positiva, reforça: a percepção de impotência diante da dor emocional pode levar à desistência do esforço por novas conexões.


Por isso, intervir nesse momento com empatia e escuta validante é essencial.


🧩 Diferenciar ser rejeitado de ser rejeitável


Um dos maiores presentes que um adulto pode oferecer a um adolescente em sofrimento é ajudá-lo a separar o que aconteceu do que ele é.


Perder uma amizade, por mais doloroso que seja, não define o valor intrínseco de ninguém.


Carol Dweck, autora da teoria do mindset, explica que adolescentes com mentalidade de crescimento tendem a interpretar as perdas como algo que pode ser aprendido, reorganizado, superado. Já os que têm mentalidade fixa tendem a se definir pelas experiências: “se perdi, é porque não sou bom.”


Robert Neimeyer, em seus estudos sobre luto e reconstrução de sentido, mostra que reestruturar a narrativa da perda, de algo pessoal para algo situacional, reduz o sofrimento e protege a identidade. O adolescente pode passar de “fui deixado porque sou chato” para “a amizade mudou, e isso dói, mas não diz tudo sobre mim.”


🧩 Fortalecer a autocompaixão como antídoto à vergonha


Após uma rejeição, é comum que o adolescente se torne extremamente autocrítico, cobrando de si “mais coragem”, “menos sensibilidade” ou até se punindo por ter confiado demais.


A alternativa saudável não é se tornar “forte” à força e sim cultivar autocompaixão.


Kristin Neff, principal referência nesse campo, define autocompaixão como a capacidade de tratar a si mesmo com a mesma gentileza que se ofereceria a um amigo querido em sofrimento. Suas pesquisas mostram que adolescentes que praticam autocompaixão:


  • Têm menos sintomas depressivos após rejeições

  • Se recuperam emocionalmente com mais resiliência

  • Mantêm autoestima estável mesmo diante de perdas


Práticas simples incluem:

  • Dizer a si mesmo: “Estou sofrendo, e isso merece cuidado.”

  • Reconhecer que todos sofrem perdas “não é só comigo”

  • Escrever uma carta para si mesmo com palavras de compreensão


🧩 Ampliar o campo de pertencimento: outros vínculos possíveis


O sentimento de pertencimento é vital para o bem-estar adolescente, mas ele não depende de um único grupo ou relação.


Ajudar o adolescente a ampliar seu campo de conexão pode envolver:


  • Participar de novos contextos relacionais: oficinas, esportes, grupos culturais ou voluntariado

  • Reforçar vínculos familiares e intergeracionais, que costumam ser mais estáveis

  • Reativar laços antigos ou explorar amizades que estavam adormecidas


Brené Brown, em Braving the Wilderness, afirma que pertencimento verdadeiro não é se moldar para caber, mas ser aceito por quem se é. Quando o adolescente encontra espaços onde pode ser ele mesmo, a dor da rejeição anterior começa a perder poder.


Além disso, estudos de Seligman e Peterson sobre forças de caráter mostram que quando o jovem se engaja em atividades que refletem seus valores e talentos, ele reconstrói o senso de identidade positiva e de merecimento afetivo.


Como apoiar o resgate da autoestima e pertencimento

Situação

Estratégia prática

Adolescente com discurso autodepreciativo

Escrever uma carta para si mesmo com apoio do adulto

Recusa em tentar novos vínculos

Propor atividades em que ele tenha autonomia, sem pressão por desempenho social

Críticas constantes a si mesmo

Ensinar frases de autocompaixão e usar como lembrete diário

Medo de novas rejeições

Validar a dor passada e mostrar que ela não determina o futuro


  1. Quando a dor não passa: sinais de que o sofrimento do adolescente precisa de atenção clínica


É esperado que o adolescente sinta dor, tristeza e até oscilações de humor após o rompimento de uma amizade importante. O que não é esperado e merece atenção cuidadosa, é quando a dor persiste, se intensifica e começa a comprometer a vida diária.


Como diferenciar o sofrimento que faz parte do luto emocional saudável daquele que já evoluiu para um quadro mais grave e requer atenção profissional:

Adolescente sentada no chão, com a cabeça abaixada sobre os joelhos, em ambiente doméstico

🧩 O que é esperado e o que preocupa?


Nos primeiros dias ou semanas, é normal que o adolescente chore, se sinta desanimado, evite contato social ou se retraia um pouco mais. A dor relacional faz parte da vida e é até um processo de amadurecimento emocional.


Mas, segundo os critérios diagnósticos da APA (2022), no DSM-5-TR, devemos acender o sinal de alerta quando os sintomas:


  • Permanecem ou pioram após 2 a 4 semanas

  • Afetam o funcionamento social, familiar ou acadêmico

  • Não melhoram mesmo com apoio emocional disponível


Lisa Damour (2023), especialista em desenvolvimento adolescente, reforça a distinção entre o que ela chama de sofrimento necessário (parte do crescimento) e sofrimento clínico (que paralisa, isola e desgasta). Saber diferenciar os dois é uma forma essencial de cuidado.


🧩 Sinais emocionais e comportamentais de risco


Abaixo, os principais indicadores de que o adolescente pode estar vivendo um quadro de sofrimento psíquico mais intenso, e que não deve ser ignorado:


Emocionais:

  • Choro frequente e aparentemente “sem motivo”

  • Frases como “ninguém se importa”, “sou um peso”, “não aguento mais”

  • Desesperança, sentimento de vazio, ideação suicida ou autodepreciativa


Comportamentais:

  • Isolamento social intenso (evita escola, redes sociais, família)

  • Irritabilidade incomum, hostilidade ou explosões de raiva

  • Queda no rendimento escolar, falta de interesse por atividades antes prazerosas


Fisiológicos:

  • Alterações bruscas no sono (insônia ou excesso)

  • Mudança significativa no apetite ou no peso

  • Queixas físicas vagas (dores, fadiga), sem causa médica identificada


Thomas Joiner, em sua Teoria Interpessoal do Suicídio, aponta dois fatores centrais para o risco de ideação suicida: sentir-se um fardo e sentir-se desconectado. E ambas as sensações podem emergir com força após exclusões sociais ou rupturas de vínculo, especialmente na adolescência.


Os dados do CDC (Youth Risk Behavior Survey) e da OMS reforçam que exclusão social é um dos preditores mais consistentes de sofrimento psicológico em adolescentes, com impacto direto em sintomas depressivos e pensamentos suicidas.


🧩 Quando buscar ajuda profissional


Buscar ajuda não significa patologizar a dor, significa reconhecer que ela ultrapassou a capacidade do adolescente de lidar sozinho.


Alguns critérios para considerar o encaminhamento para psicoterapia ou avaliação clínica:


  • Sofrimento emocional que impede o adolescente de viver com alguma funcionalidade

  • Prejuízo nas relações interpessoais e escolares

  • Qualquer sinal de risco à integridade física ou de ideação suicida


A psicoterapia pode ser um espaço seguro para que o adolescente:

  • Elabore a perda

  • Reestruture suas crenças sobre si e sobre os outros

  • Reconstrua identidade emocional com suporte técnico


Intervenções baseadas em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) são amplamente reconhecidas por sua eficácia em lidar com crenças autodepreciativas, evitação social e depressão relacionada a perdas afetivas.


Quadro de sinais de alerta por área

Área

Sinais de atenção clínica

Emocional

Tristeza intensa e prolongada, frases de desesperança, ideação suicida

Comportamental

Abandono de atividades, isolamento extremo, irritabilidade ou hostilidade fora do padrão

Fisiológica

Alterações no sono, apetite, queixas físicas persistentes sem causa médica

Relacional

Evitação total de interações, quebra de vínculos com todos os grupos de apoio


  1. Leitura complementar: livros que ajudam pais e educadores a acolher a dor relacional dos adolescentes


Se você convive com um adolescente que se sente rejeitado, isolado ou abalado por perdas de amizade, estas obras podem ampliar sua compreensão e oferecer caminhos para apoiar com mais empatia, estabilidade e escuta ativa.


A geração do quarto: quando crianças e adolescentes nos ensinam a amar

Autor: Hugo Monteiro Ferreira

Com linguagem acessível e poética, o autor mostra como o silêncio e o recolhimento adolescente podem ser convites à presença afetiva, não sinais de desinteresse. Uma obra brasileira que convida o adulto a escutar com o corpo e respeitar os tempos internos do jovem.


As 5 linguagens do amor dos adolescentes

Autor: Gary Chapman

Versão adaptada do clássico, oferece insights sobre como adolescentes percebem (ou não) os gestos de cuidado dos adultos. Excelente para fortalecer vínculos afetivos em momentos de dor, especialmente após rejeições sociais.


As cinco feridas emocionais: como superar os sentimentos que impedem a sua felicidade

Autora: Lise Bourbeau

Um guia sensível para reconhecer e acolher dores antigas que podem ser ativadas por perdas afetivas na adolescência, como rejeição, abandono e humilhação. Ideal para pais que desejam compreender o impacto profundo de certas experiências.


As dores da adolescência: como entender, acolher e cuidar

Autora: Carolina Delboni

Escrito por uma psicanalista especializada em adolescência, este livro traduz com sensibilidade e base clínica os sofrimentos típicos dessa fase. Traz reflexões valiosas sobre amizades, identidade e os lutos simbólicos que marcam o crescimento.


  1. Conclusão: amizade que termina, vínculo que transforma


Quando um adolescente sofre pela perda de uma amizade, ele não está apenas lidando com a ausência de alguém. Está enfrentando a ruptura de um espelho emocional, de um vínculo que fazia parte da sua identidade, da sua rotina e do seu senso de pertencimento.


A dor é legítima. O impacto é real. O acolhimento é necessário.


Ao longo deste artigo, vimos que o afastamento de amizades na adolescência pode desencadear um verdadeiro processo de luto emocional com reações intensas, mudanças de comportamento e até sofrimento psíquico grave. Mas também vimos que é possível transformar dor em elaboração, e rejeição em reconstrução de valor pessoal.


🌱 A presença sensível de um adulto que escuta sem invadir, acolhe sem corrigir e sustenta sem julgar, pode ser o ponto de virada.


E sobretudo: o adolescente não precisa ouvir que “vai passar” precisa saber que, até passar, ele não estará sozinho.



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