Adolescente sem amigos? Entenda os desafios da amizade na era digital e como fortalecer vínculos reais
- Paloma Garcia
- 22 de jul. de 2024
- 15 min de leitura
Atualizado: 12 de set.
“Ela passa horas no celular. Tem centenas de contatos no WhatsApp, seguidores no TikTok... mas, ao perguntar com quem realmente pode contar, ela hesita.”

“Ele vive cercado por colegas na escola. Ri, conversa, joga futebol. Mas volta pra casa e diz que se sente sozinho.”
Essas cenas não são exceções. São espelhos silenciosos de uma geração hiperconectada e emocionalmente desconectada.
A adolescência sempre foi uma fase de busca por pertencimento. Mas hoje, fazer amigos se tornou um desafio emocional complexo, atravessado por algoritmos, inseguranças e relações líquidas.
81% dos adolescentes conversam com amigos todos os dias por mensagens
Apenas 32% dizem se sentir profundamente conectados a alguém
Ou seja: a quantidade de interações aumentou, mas a qualidade dos vínculos diminuiu.
Quer entender melhor como os adolescentes se comunicam hoje? Confira o Dicionário de Gírias da Geração Z – Atualizado 2025 e aproxime-se do universo deles.
Por que a amizade é essencial na adolescência?
A amizade, para um adolescente, não é apenas um desejo é uma necessidade evolutiva e emocional.
É entre amigos que muitos jovens vivem, pela primeira vez:
o senso de pertencimento fora da família
a validação do que sentem
a chance de serem aceitos como são
“A amizade é onde os adolescentes praticam pertencimento sem precisar se encaixar.” Brené Brown, pesquisadora
Durante a adolescência, o cérebro passa por uma reestruturação intensa:
O córtex pré-frontal (regulação e julgamento social) ainda está se formando
O sistema límbico (emoções e recompensas) está hiperativado
Isso significa que as conexões sociais ganham peso emocional enorme, tanto no prazer quanto na dor.
“Os adolescentes são neurobiologicamente programados para buscar os pares.A aprovação dos amigos ativa os mesmos circuitos de recompensa que alimentos ou conquistas.” Daniel J. Siegel, psiquiatra e especialista em cérebro adolescente
Segundo Laurence Steinberg (2014), a influência dos pares é uma das forças mais potentes sobre o comportamento adolescente.
🔐 Quando as amizades são saudáveis, elas funcionam como:
fator de proteção emocional
reforço para a identidade
espaço de exploração segura
🚨 Mas quando são tóxicas ou instáveis, podem gerar:
ansiedade
isolamento
perda da autoestima ou da própria voz
Diversas pesquisas apontam que amizades de qualidade na adolescência não são apenas importantes, elas são protetoras ao longo da vida. Um estudo longitudinal publicado na revista Child Development (Allen et al., 2016) acompanhou jovens por mais de uma década e concluiu que ter ao menos uma amizade segura aos 15 anos está associado a menos sintomas de ansiedade e depressão aos 25.
Benefícios da amizade no desenvolvimento adolescente:
Benefício | Impacto no desenvolvimento |
Apoio emocional | Ajuda a lidar com frustrações, ansiedade e estresse |
Formação da identidade | Fortalece a autopercepção a partir da troca com os pares |
Autonomia social | Desenvolve habilidades de convivência, negociação e escuta |
Estímulo cognitivo | Traz novas perspectivas por meio de ideias, trocas e debates |
Co-regulação emocional | Amigos validam sentimentos e ajudam no autocontrole emocional |
Hiperconectados e sozinhos: os desafios das amizades na adolescência digital
Os adolescentes de hoje cresceram em um mundo onde a amizade pode:
começar com um clique
terminar com um unfollow
Nunca foi tão fácil se conectar e, ao mesmo tempo, tão difícil manter vínculos profundos e duradouros.
Essa aparente abundância de contatos digitais nem sempre preenche a solidão ou a carência de companhia emocional; por isso, alguns adolescentes recorrem a inteligências artificiais como “companheiros virtuais”, buscando vínculos que combinem afeto, curiosidade e segurança emocional. Saiba mais sobre essa tendência no artigo “Companheiros de Inteligência Artificial na Adolescência: riscos e descobertas”.
“Vivemos em um mundo de conexões fáceis e vínculos frágeis. As relações não se desfazem pela ausência de amor, mas pela falta de tempo, paciência e espaço para frustrações.” Zygmunt Bauman
A hiperconectividade digital, presente desde a infância em muitas vidas, alterou drasticamente a forma como os adolescentes criam e mantêm laços.
Hoje, amigos surgem em:
grupos de WhatsApp
interações em jogos online
seguidores nas redes sociais
Mas muitas dessas conexões não resistem a:
um primeiro conflito
a ausência de curtidas
uma simples diferença de opinião

O que a ciência revela sobre a solidão digital?
Por trás das telas acesas, há um dado alarmante: os adolescentes nunca passaram tanto tempo online e nunca se sentiram tão sozinhos.
Um levantamento do Common Sense Media Census (2021) mostra que adolescentes passam mais de 8 horas por dia conectados, mas menos de 20% desse tempo envolve trocas significativas com outras pessoas. Ou seja, a hiperconexão não está fortalecendo os laços está, muitas vezes, esvaziando-os.
A psicóloga Jean Twenge, autora de iGen (2017), aponta que a geração nascida após 1995 tem se envolvido menos em encontros presenciais e mais em interações digitais rasas. O resultado? Uma epidemia silenciosa de solidão emocional, mesmo entre os “sociáveis” das redes.
E o impacto não é só emocional. Um estudo da UCLA (2020) identificou que a rejeição digital, como ser ignorado ou excluído em um grupo online, ativa no cérebro a mesma região da dor física: o córtex cingulado anterior. Em outras palavras: aquilo que muitos adultos chamam de “bobeira online” é, para o cérebro adolescente, dor real.
⚠️ Efeitos da hiperconexão nas amizades
Desafio relacional | Como afeta os adolescentes |
Rotatividade de vínculos | Relações instáveis, medo de abandono, sensação de descartabilidade |
Pressão por performance | Necessidade de parecer interessante o tempo todo; desgaste por comparação |
Cancelamentos e exclusões | Medo de errar, autocensura, inibição de opiniões autênticas |
Superficialidade afetiva | Conversas rasas, baixa escuta empática, vínculos frágeis |
Isolamento social offline | Redução da convivência presencial e das habilidades sociais reais |
Como construir amizades saudáveis na adolescência
Na adolescência, a amizade deixa de ser apenas convivência. Ela se transforma em:
Referência emocional
Espelho identitário
Refúgio afetivo
Mas amizades verdadeiras, aquelas que acolhem, sustentam e transformam: não nascem prontas.
“Amizade é um exercício de aceitação mútua.É onde a gente aprende a ser, mesmo quando está sendo visto.”Carl Rogers, psicólogo humanista
Segundo Erik Erikson (1968), formar uma identidade pessoal é uma das tarefas centrais da adolescência.E os pares são os principais “espelhos” desse processo.

Já Sarah-Jayne Blakemore (2018), especialista em neurociência da adolescência, mostra que:
O cérebro adolescente é moldado pelas interações sociais
Os pares ativam circuitos ligados à empatia, recompensa e autorregulação emocional
Os 5 pilares das amizades saudáveis
Pilar | O que é | Como cultivar na adolescência |
Confiança | Sentir que o outro guarda segredos, apoia nas dificuldades e é constante | Evitar julgamentos, manter confidencialidade, cumprir combinados |
Comunicação aberta | Falar sobre sentimentos e conflitos com liberdade e respeito | Criar espaços de diálogo, praticar escuta ativa, usar CNV |
Empatia | Perceber e validar as emoções do outro, mesmo sem concordar | Ensinar linguagem emocional, usar perguntas de perspectiva |
Respeito à individualidade | Aceitar gostos, mudanças e diferenças no outro | Estimular a diversidade, combater a pressão por “igualdade forçada” |
Reciprocidade | Troca justa de tempo, cuidado, atenção e apoio emocional | Observar desequilíbrios e conversar sobre eles com transparência |
Dificuldade em iniciar conversas com adolescentes? Descubra Estratégias eficazes para conversar com adolescentes e fortaleça seus vínculos com eles.
Frases que ajudam o adolescente a refletir:
“Com essa pessoa, eu posso ser quem sou?”
“Nos respeitamos mesmo quando discordamos?”
“Quando preciso de apoio, sei que posso contar com ela?”
“A amizade não se mede por frequência, mas por presença real aquela que escuta, acolhe e respeita o silêncio quando ele aparece.” Susan Pinker
🚨 Sinais de alerta: quando o vínculo está desequilibrado
Comportamento observado | Possível sinal de amizade tóxica ou desequilibrada |
Um sempre “manda” e o outro apenas segue | Relação de submissão e controle |
Chantagens emocionais (“se você não fizer...”) | Pressão emocional ou manipulação |
Brincadeiras que humilham ou magoam | Desrespeito disfarçado de “zoeira” |
Exigência de exclusividade | Controle social e isolamento de outras conexões |
Culpa recorrente após interações | Relação que drena autoestima em vez de fortalecê-la |
Dez estratégias práticas para fazer amigos (e gostar disso!)
Fazer amigos é uma das habilidades mais importantes, e desafiadoras da adolescência.Mas ao contrário do que muitos pensam, essa não é uma capacidade inata. É uma competência socioemocional que pode ser aprendida, praticada e fortalecida com o tempo.
1️⃣ Inicie microinterações: pequenos gestos, grandes começos
Microinterações são pequenos sinais sociais de abertura.Um sorriso, um “oi”, um aceno, um comentário leve.Elas funcionam como "ensaios emocionais" para conexões maiores.
Microinterações reduzem a estranheza entre pessoas e tornam o ambiente mais acolhedor. Quando repetidas, criam familiaridade e mostram que a pessoa está aberta ao contato, o que encoraja os outros a se aproximarem. Gestos simples como um aceno ou um comentário leve ajudam a quebrar o gelo sem pressão.
Exemplos reais no dia a dia
Situação | O que dizer? |
No corredor da escola | “E aí, tranquilo?” |
No intervalo | “Esse suco tá mais azedo hoje, né?” |
No elevador do prédio | “Oi! Você também estuda no Colégio Estação?” |
Na fila da cantina | “Tá demorando hoje, né?” |
No clube, esperando a aula de natação | “Você já fez essa aula com esse professor?” |
Para quem sente vergonha:
✅ Comece com gestos não verbais: aceno, sorriso, contato visual
✅ Ensaie frases neutras em casa
✅ Faça um pequeno desafio por dia: “Hoje vou cumprimentar 1 colega”
2️⃣ Conecte-se por afinidades: descubra pontos em comum
Afinidade é quando você percebe algo que tem em comum com outra pessoa, um gosto musical, uma série, um time, um livro, um estilo.É usar esses pontos de conexão como ponto de partida para interações mais naturais e menos forçadas.
Quando duas pessoas percebem que têm gostos ou interesses em comum, se sentem mais próximas e seguras para conversar. Essa sensação de “nós nos parecemos” cria um ambiente de confiança e torna mais fácil puxar assunto ou iniciar uma amizade.
Exemplos práticos
Observação | Como puxar conversa |
Camiseta de banda | “Você curte essa banda também? Tem uma música preferida?” |
Livro na mochila | “Você já leu esse? Me disseram que é muito bom!” |
Chaveiro de time | “Palmeiras? Você viu o jogo de ontem?” |
Estojo com adesivos de anime | “Você também curte Jujutsu Kaisen? Qual seu personagem favorito?” |
Violão na sala de música | “Você toca faz tempo? Que tipo de música gosta de tocar?” |
💡 Dicas para começar
✅ Observe com curiosidade e sem julgamento
✅ Use o ambiente como ponto de partida
✅ Demonstre interesse de forma genuína
3️⃣ Use perguntas abertas: convites para conversas reais
Perguntas abertas são aquelas que exigem mais do que “sim” ou “não”. Elas convidam o outro a compartilhar opiniões, sentimentos ou experiências.
Perguntas abertas fazem a conversa fluir com mais naturalidade. Elas mostram que você se importa com o que o outro pensa, ajudam a aprofundar a troca e evitam o silêncio desconfortável típico de conversas muito fechadas.
Exemplos práticos
Pergunta | Situação onde pode ser usada |
“O que você achou daquela apresentação?” | Após uma aula em grupo |
“Como você decidiu esse tema pro trabalho?” | Durante conversa na biblioteca ou em aula |
“Se você pudesse mudar algo na escola...” | No intervalo, enquanto esperam o lanche |
💡 Dicas para começar
✅ Mostre interesse verdadeiro
✅ Fale com leveza, sem parecer interrogatório
✅ Use temas que fazem parte da rotina do outro
4️⃣ Demonstre interesse autêntico: escute com atenção e presença
Demonstrar interesse é mais do que ouvir,é prestar atenção de verdade, reagir com empatia e lembrar do que o outro compartilhou.
Quando alguém sente que está sendo realmente escutado, também se sente valorizado. A escuta ativa cria segurança emocional, aproxima as pessoas e aprofunda a relação de confiança.
Exemplos práticos
Situação | O que dizer ou fazer |
Encontro no corredor | “Você contou que ia treinar ontem. Como foi?” |
Depois de uma prova difícil | “Achei puxado. Você conseguiu responder tudo?” |
💡 Dicas para começar
✅ Use expressões que mostrem envolvimento (“Sério?”, “Nossa!”, “E depois?”)
✅ Retome assuntos de conversas anteriores
✅ Faça perguntas com base no que o outro compartilhou
5️⃣ Ofereça convites simples: crie pontes sem pressão
Fazer um convite leve é uma forma poderosa de sinalizar abertura. Não precisa ser algo elaborado, o gesto em si já comunica inclusão.
Convites simples reduzem a tensão social. Eles funcionam como um “atalho” para aproximar, mostrando que você está disposto a compartilhar tempo e espaço com alguém.
Exemplos práticos
Situação | Convite possível |
Antes de uma aula | “Bora sentar junto hoje?” |
Na hora do lanche | “Tô indo lanchar, quer vir junto?” |
Durante um trabalho em grupo | “Topa fazer essa parte comigo?” |
No clube ou parque | “Vou jogar mais tarde, cola lá!” |
💡 Dicas para começar
✅ Faça convites curtos e diretos
✅ Não insista se a pessoa recusar
✅ Continue convidando outras vezes
6️⃣ Participe de grupos com propósito: conexões que surgem do fazer junto
Quando existe uma atividade em comum, a conversa flui com mais naturalidade, sem a pressão de ter que puxar assunto do nada.
Estar em um grupo com um objetivo compartilhado seja estudar, jogar, criar algo ou participar de uma causa, cria oportunidades espontâneas de interação. O foco está na atividade, não na performance social, o que reduz a ansiedade e aumenta as chances de se sentir incluído.
Exemplos práticos
Atividade | Possível conexão |
Oficina de teatro na escola | “Você já participou de peça antes?” |
Grupo de estudo de matemática | “Posso revisar essa questão com você?” |
Ensaio da banda do colégio | “Curte esse estilo? Toca faz tempo?” |
Voluntariado no bairro | “Topa organizar isso juntos semana que vem?” |
💡 Dicas para começar
✅ Procure algo que te interesse genuinamente
✅ Participe de forma leve e observadora no início
✅ Fique aberto a interações durante a atividade
7️⃣ Use redes sociais com intenção: leveza e respeito no digital
As redes sociais podem ser uma extensão das amizades reais quando usadas com cuidado e intenção.
Usar as redes sociais para manter contato, mandar uma mensagem gentil ou reagir a um conteúdo pode reforçar os vínculos criados presencialmente. Mas é importante lembrar que a qualidade importa mais que a quantidade: estar disponível online não substitui a conexão verdadeira.
Exemplos práticos
Situação digital | Como fortalecer a amizade |
Story de um colega no clube | “Esse treino foi puxado mesmo!” |
Post sobre um livro/série | “Vi que você curte também. Qual parte mais gostou?” |
Após encontro ou evento | “Curti te ver hoje. Vamos repetir!” |
💡 Dicas para começar
✅ Prefira mensagens simples e respeitosas
✅ Reaja com empatia, não com cobrança
✅ Use o digital como complemento, não substituto
8️⃣ Aceite o desconforto como parte do caminho: sentir medo não é sinal de fracasso
Estar nervoso em interações sociais é normal. Coragem não é ausência de medo, é agir apesar dele.
Muitas vezes o desconforto social diminui quando é aceito em vez de evitado. Quando o adolescente entende que esse sentimento faz parte do processo, ele consegue dar pequenos passos, sem se julgar por não estar totalmente confiante.
Exemplos práticos
Situação de desconforto | Como lidar |
Ficar em silêncio numa roda nova | “É normal se sentir assim. Só observe por hoje.” |
Sentir nervosismo ao convidar alguém | “Vou tentar mesmo com frio na barriga.” |
Ter vontade de fugir de uma conversa | “Só mais 2 minutos. Depois eu saio.” |
💡 Dicas para começar
✅ Encare o nervosismo como parte da aprendizagem
✅ Respire fundo e estabeleça metas mínimas
✅ Valorize a tentativa, não o resultado
9️⃣ Estabeleça metas sociais realistas: pequenos desafios, grandes avanços
Ampliar o círculo social pode começar com um simples plano: um desafio por vez.
Metas sociais ajudam a transformar o desejo de se conectar em ações concretas e alcançáveis. Elas reduzem a ansiedade ao tornar o processo previsível e medível, criando uma sensação real de progresso.
Exemplos práticos
Meta semanal | Como aplicar no dia a dia |
“Cumprimentar 3 colegas diferentes” | No corredor, na entrada ou na sala |
“Conversar com 1 pessoa nova” | No clube, no intervalo ou na aula de reforço |
“Fazer 1 pergunta em grupo online” | No grupo de classe ou de atividades |
💡 Dicas para começar
✅ Escolha metas fáceis de lembrar e realizar
✅ Anote o que funcionou e o que pode melhorar
✅ Mantenha o foco na experiência, não no resultado
🔟 Valorize tentativas, não resultados: coragem conta mais que perfeição
Às vezes, o papo trava. Às vezes, o convite é recusado. E tudo bem. O que importa é continuar tentando.
Quando o adolescente entende que errar, se frustrar ou não ser correspondido faz parte, ele se sente mais livre para tentar de novo. Isso fortalece a autoestima e a persistência, ingredientes essenciais para criar vínculos reais.
Exemplos práticos
Pensamento positivo | Nova forma de interpretar |
“Não rolou hoje, mas eu tentei.” | Valorizar o esforço, não o silêncio do outro |
“Falei meio estranho, mas fui honesto.” | Entender que autenticidade é mais valiosa que perfeição |
“Ninguém respondeu no grupo.” | Refletir: “Posso tentar de novo outro dia.” |
💡 Dicas para começar
✅ Encare cada tentativa como parte do aprendizado
✅ Compartilhe suas tentativas com alguém de confiança
✅ Evite se comparar, cada um tem seu ritmo
Quando procurar ajuda: timidez pode ser sinal de algo mais?
Na adolescência, sentir vergonha, hesitação ou nervosismo diante de interações sociais é natural. O corpo muda, o cérebro está em reestruturação e a insegurança faz parte do processo de formar uma identidade.
Mas nem toda timidez é igual e em alguns casos, ela pode esconder um sofrimento maior.
A chamada “timidez saudável” costuma aparecer em situações novas e diminui com o tempo, à medida que a pessoa se sente mais segura. Já a timidez que gera dor emocional, isolamento persistente ou medo constante de julgamento pode ser um sinal de algo mais profundo, como a ansiedade social.
Quando é hora de se preocupar?
É importante observar com atenção quando o adolescente começa a evitar sistematicamente qualquer tipo de interação, mesmo com pessoas conhecidas. Se ele recusa com frequência ir à escola, festas ou atividades em grupo, relata sensações físicas intensas como taquicardia, tremores ou náuseas ao pensar em falar com alguém, ou vive preso a pensamentos como “vou passar vergonha” ou “ninguém gosta de mim”, vale o alerta.
Esses são indicadores de que a dificuldade não é apenas timidez, mas sofrimento real. E o impacto pode ir além da vida social: amizades não formadas, oportunidades perdidas, queda na autoestima e até evasão escolar.
O que diz a psicologia?
A ansiedade social é reconhecida como um transtorno no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) e costuma surgir na adolescência. Trata-se de um medo intenso e persistente de ser julgado, humilhado ou rejeitado.
O adolescente foca excessivamente em si mesmo, analisando como está sendo percebido.
Interpreta negativamente as reações dos outros, mesmo sem evidências (ex: "Estão rindo de mim").
Evita interações ou usa “muletas sociais” (como fingir estar ocupado, ensaiar falas mentalmente), o que reforça o medo original.
Com o tempo, esse padrão se cristaliza, dificultando ainda mais o desenvolvimento de vínculos espontâneos e saudáveis.
Há solução?
Sim. E é possível começar com um passo simples: conversar. Escolher um momento tranquilo, sem distrações, e perguntar com curiosidade verdadeira:
“Você tem se sentido desconfortável perto das pessoas? Como é isso pra você?”
Evite corrigir, minimizar ou forçar conselhos. Apenas escute. Validar o sofrimento é o primeiro gesto de acolhimento. Frases como “faz sentido você se sentir assim” ou “você não está sozinho nisso” têm um poder imenso.
Se a dor estiver presente no cotidiano, buscar ajuda profissional não é exagero, é cuidado. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é a abordagem com maior evidência científica para tratar a ansiedade social. Ela ensina o adolescente a reconhecer pensamentos autocríticos, enfrentar situações temidas com segurança e desenvolver habilidades sociais reais, passo a passo.
Psicoterapia não é um último recurso
Muitos adolescentes se beneficiam do acompanhamento terapeutico mesmo antes de um quadro clínico se instalar. Trabalhar autoconfiança, identidade e vínculos pode prevenir dores maiores no futuro. E, para quem já está sofrendo, ter um espaço seguro para ser compreendido pode ser o início da virada emocional.
Conclusão: amizades se constroem, passo a passo
Fazer amigos pode parecer assustador especialmente quando há insegurança, autocrítica ou cicatrizes de experiências anteriores. Em um mundo que valoriza curtidas, respostas rápidas e popularidade instantânea, a conexão verdadeira pode parecer distante demais ou até improvável.
Mas existe uma verdade simples e poderosa: a habilidade de se conectar não é um dom reservado a poucos. É uma construção possível. É um processo que começa devagar, com pequenos passos e decisões diárias.
Cada gesto conta. Um “oi” no corredor, um elogio sincero, um convite leve para dividir o lanche. Essas pequenas escolhas têm o poder de abrir espaço para encontros que transformam. E cada tentativa importa. Mesmo quando a conversa não flui como esperado. Mesmo quando a resposta não vem. Porque só o ato de tentar já fortalece algo dentro: a coragem de se mostrar, a presença emocional e a disponibilidade afetiva.
“A amizade não exige perfeição. Exige presença, empatia e o respeito pelo tempo de cada um.”
Se você é mãe, pai, educador ou profissional da saúde mental, lembre-se: sua escuta sem pressa, sua presença consistente e sua validação silenciosa ensinam mais sobre vínculo do que qualquer palestra. Você é espelho, porto seguro e referência emocional para os adolescentes que te observam.
Leitura complementar: livros que ajudam adolescentes a fazer amigos e fortalecer conexões
Se você deseja apoiar um adolescente a desenvolver habilidades sociais, superar a timidez e construir amizades mais seguras e autênticas, esses livros oferecem reflexões poderosas, técnicas práticas e acolhimento emocional.
Como fazer amigos e influenciar pessoas — Para jovens
Autor: Dale Carnegie
Versão adaptada do clássico mundial da comunicação, traz orientações diretas para adolescentes que desejam se expressar melhor, entender os outros e fortalecer amizades reais.
Habilidades de amizade para meninas pré-adolescentes
Autora: Amanda Doering Tourville
Voltado para meninas de 9 a 13 anos, ensina como iniciar amizades, lidar com conflitos e reconhecer laços tóxicos.Traz atividades práticas, perguntas de reflexão e linguagem empática.
Caderno de exercícios para fazer amigos e ampliar relações
Autores: Rosette Poletti e Barbara Dobbs
Um guia prático e direto, com exercícios curtos e eficazes para adolescentes (ou adultos jovens) que querem se comunicar melhor, vencer o medo do julgamento e expandir seu círculo social com autenticidade.
Manual de mindfulness e autocompaixão: como construir vínculos e prosperar
Autora: Shauna Shapiro
Combina ciência emocional e práticas de atenção plena para ajudar adolescentes a lidar com a vergonha social, o medo da rejeição e os altos padrões internos.
Como criar filhos socialmente saudáveis
Autora: Audrey Monke
Indicado para pais, mães e educadores, o livro apresenta estratégias baseadas em evidências para fortalecer as habilidades sociais dos filhos desde cedo.
Referências Bibliográficas
ALLEN, J. P.; MOORE, C. M.; KUPERMINC, G. P.; BELL, K. L. Attachment and adolescent psychosocial functioning. Child Development, v. 69, p. 1406–1419, 1998.
BANDURA, A. Self-efficacy: Toward a unifying theory of behavioral change. Psychological Review, v. 84, n. 2, p. 191–215, 1977
BLAKEMORE, S.-J. Inventing ourselves: The secret life of the teenage brain. London: Doubleday, 2018.
BOWLBY, J. Apego e perda: Apego. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
BROWN, B. A coragem de ser imperfeito: como aceitar a própria vulnerabilidade, vencer a vergonha e ousar ser quem você é. Rio de Janeiro: Sextante, 2012.
CLARK, D. M.; WELLS, A. A cognitive model of social phobia. In: HEIMBERG, R. G.; LIEBOWITZ, M. R.; HOPE, D. A.; SCHNEIER, F. R. (Org.). Social phobia: Diagnosis, assessment, and treatment. New York: Guilford Press, 1995. p. 69–93.
DEL PRETTE, Z. A. P.; DEL PRETTE, A. Psicologia das habilidades sociais na infância: teoria e prática. Petrópolis: Vozes, 2001.
DUCKWORTH, A. L. Garra: o poder da paixão e da perseverança. Rio de Janeiro: Objetiva, 2016.
DWECK, C. S. Mindset: a nova psicologia do sucesso. São Paulo: Objetiva, 2006.
ERIKSON, E. H. Identity: Youth and crisis. New York: W. W. Norton & Company, 1968.
GOFFMAN, E. Interaction ritual: Essays on face-to-face behavior. Garden City, NY: Anchor Books, 1967.
LIVINGSTONE, S.; HELSPER, E. J. Taking risks when communicating on the Internet: The role of offline social-psychological factors in young people's vulnerability to online risks. Information, Communication & Society, v. 10, n. 5, p. 619–644, 2007.NEFF, K. D. Self-compassion, self-esteem, and well-being. Social and Personality Psychology Compass, v. 5, n. 1, p. 1–12, 2011.
ROGERS, C. R. On becoming a person: A therapist's view of psychotherapy. Boston: Houghton Mifflin, 1961.
SIEGEL, D. J. O cérebro adolescente: potencializando o poder transformador do cérebro do seu filho. São Paulo: Artmed, 2013.
STEINBERG, L. Age of opportunity: Lessons from the new science of adolescence. Boston: Houghton Mifflin Harcourt, 2014.
TWENGE, J. M. iGen: Por que os superconectados estão crescendo menos rebeldes, mais tolerantes e menos felizes – e o que isso significa para todos nós. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1978.






Comentários