Burnout Parental: Como identificar os sinais de esgotamento e recuperar sua saúde emocional
- Paloma Garcia
- 13 de mar. de 2024
- 15 min de leitura
Atualizado: 22 de abr.
“Acordei cansada. Gritei com meu filho por algo bobo. Depois chorei no banheiro — de exaustão e culpa.”
Essa poderia ser a fala de qualquer mãe ou pai atravessando a rotina com mais obrigações do que suporte emocional. Talvez também seja a sua. Cuidar de filhos exige presença constante, amor diário, e muitas vezes, um silêncio ensurdecedor da própria exaustão.
O que poucos dizem — e menos ainda acolhem — é que o cansaço parental pode virar algo muito mais sério: o burnout parental, uma condição real, estudada pela ciência, e que tem afetado milhares de famílias no mundo inteiro.
🔍 Pesquisas conduzidas por Isabelle Roskam e Moïra Mikolajczak (Universidade de Louvain, 2021) identificaram que cerca de 5 a 12% dos pais em países ocidentais apresentam sinais clínicos de burnout parental — um esgotamento emocional crônico, ligado às responsabilidades de cuidar, educar e estar emocionalmente disponível para os filhos, especialmente sem rede de apoio adequada.
E o impacto vai além do corpo cansado: afeta a autoestima, a relação com os filhos, e pode perpetuar ciclos de culpa, irritação e afastamento.
Mas há esperança — e caminhos possíveis.
O que é Burnout Parental — e por que está aumentando?
O burnout parental é uma síndrome de esgotamento físico, emocional e mental associada à sobrecarga nas funções parentais. Ele não é apenas “cansaço” ou “stress normal” de quem cuida — trata-se de um colapso que ocorre quando o esforço necessário para cuidar dos filhos ultrapassa (de forma contínua) os recursos emocionais, práticos e sociais disponíveis.
📌 Isabelle Roskam, psicóloga belga que estuda o tema há mais de uma década, define o burnout parental como:
“Uma exaustão intensa relacionada à parentalidade, que leva a distanciamento emocional dos filhos e perda de prazer no ato de cuidar.”

O que diferencia burnout parental do cansaço “normal”?
O cansaço é aliviado com descanso ou apoio.
O burnout parental persiste mesmo após momentos de pausa.
Há sensação de falência pessoal como mãe, pai ou cuidador.
A conexão com os filhos pode ser afetada negativamente.
🧠 Estudos da Universidade de Louvain e da Universidade de Stanford apontam que o burnout parental afeta majoritariamente mulheres, especialmente mães que acumulam múltiplas funções (cuidado, trabalho, tarefas domésticas) e possuem pouca rede de apoio emocional ou prático.
Segundo Roskam e Mikolajczak (2021), os fatores de risco incluem:
Altas expectativas sobre a maternidade/paternidade
Perfeccionismo parental
Baixo suporte social
Criação de filhos com necessidades emocionais ou comportamentais elevadas
Conflito conjugal ou co-parentalidade disfuncional
📈 Por que está aumentando?
O aumento do burnout parental tem causas socioculturais claras:
Cultura da “maternidade total” e do “pai perfeito”, que cobra excelência emocional, afetiva, pedagógica e estética
Redes sociais que promovem comparação constante
Redução de suporte familiar e comunitário (avós, vizinhos, amigos próximos)
Pandemia, que sobrecarregou mães/pais com acúmulo de funções
Falta de políticas públicas voltadas ao cuidado parental
🎯 Resultado? Pais (e, especialmente, mães) se sentem culpados por estar cansados e, ao mesmo tempo, cansados de se sentir culpados.
Causas profundas do esgotamento parental
O burnout parental não surge “do nada”. Ele é resultado de uma combinação de sobrecarga constante, isolamento emocional, pressão social e, muitas vezes, falta de suporte real. A seguir, exploramos os principais fatores que contribuem para esse esgotamento — e que precisam ser compreendidos antes que possamos cuidar verdadeiramente.
🎯 Expectativas irreais: redes sociais e cultura da supermãe
Na era digital, é comum ver pais sorridentes em cozinhas arrumadas, filhos calmos com roupas impecáveis e frases motivacionais sobre amor incondicional. O problema? Essas imagens criam uma ideia de que o “bom pai” ou a “boa mãe” nunca erram, nunca se irritam e estão sempre disponíveis.
🔍 Um estudo publicado no Journal of Child and Family Studies (2018) mostrou que o uso intenso de redes sociais está associado ao aumento do perfeccionismo parental e à insatisfação com a própria performance.
🤝 Solidão da parentalidade: a ausência da aldeia
Cuidar de filhos foi, por milênios, uma tarefa coletiva — com avós, tios, vizinhos e amigos próximos participando ativamente. Hoje, a maioria das famílias enfrenta a criação de filhos com poucos ou nenhum apoio cotidiano.
Segundo dados do IBGE (2022), 38% das mães brasileiras cuidam dos filhos sem o apoio direto do outro genitor. Isso significa sobrecarga em todos os níveis: físico, emocional, logístico.
👩👧 Maternidade/paternidade solo: Amor, força e exaustão
Mães e pais solo carregam a responsabilidade integral pela criação — o que significa que não há turnos de descanso, não há divisão de decisões, e raramente existe espaço para vulnerabilidade.

Estudos da UNICEF (2020) apontam que pais solo estão entre os grupos com maior risco de adoecimento emocional, especialmente quando enfrentam também instabilidade financeira ou isolamento social.
“A exaustão se instala quando não há com quem dividir nem a rotina, nem o desabafo.” — Carolina Arcari, educadora parental
🧩 Filhos com necessidades emocionais ou comportamentais elevadas
Crianças e adolescentes com TDAH, TEA, transtornos de aprendizagem ou dificuldades emocionais intensas exigem um nível extra de atenção, paciência e estrutura. E mesmo com amor infinito, isso pode gerar exaustão.
Pais dessas crianças frequentemente enfrentam:
Falta de reconhecimento do esforço
Sensação de incompetência constante
Sobreposição entre cuidados e trabalho
Segundo a APA (2021), o burnout é significativamente mais prevalente entre pais de filhos com necessidades especiais, com maior risco de depressão e ansiedade.
🔥 Conflitos e desregulação emocional dos filhos
Pais que convivem com filhos altamente reativos (explosões de raiva, impulsividade, birras ou desafios constantes) acabam entrando em modo de alerta permanente, o que desgasta profundamente o sistema nervoso.
“Quando toda conversa vira discussão, o cansaço vira uma constante.” — Jane Nelsen
Essa sobrecarga emocional não é sinal de fraqueza parental, mas sim de cansaço acumulado pela tentativa de manter o equilíbrio num ambiente de alta tensão.
Sugestão de leitura complementar: Lidando com a raiva dos adolescentes
🏛️ Ausência de políticas públicas de cuidado à parentalidade
Licença parental limitada, falta de creches acessíveis, jornadas de trabalho inflexíveis e escassez de políticas de saúde mental voltadas para mães e pais contribuem para a naturalização do sofrimento parental.
Enquanto a sociedade cobra perfeição, ela oferece mínimo suporte estrutural para que pais e mães desempenhem suas funções com dignidade e saúde.
📉 Consequência: famílias adoecem em silêncio, sentindo que estão “falhando” individualmente quando, na verdade, o sistema não favorece o cuidado compartilhado.
Sinais e sintomas do burnout parental
O burnout parental não surge da noite para o dia. Ele é construído silenciosamente, ao longo de semanas ou meses de exaustão acumulada. Reconhecer os sinais precoces é fundamental para interromper esse ciclo antes que ele se agrave.
Sinais emocionais e psicológicos: São os primeiros a aparecer, embora muitas vezes passem despercebidos.
Sensação de esgotamento constante, mesmo após períodos de descanso
Falta de motivação para atividades que antes eram prazerosas
Irritabilidade exagerada com situações pequenas
Sentimentos de culpa excessiva (“não estou sendo um bom pai/mãe”)
Cinismo ou distanciamento emocional em relação aos filhos
Crises de choro sem motivo aparente
Dificuldade de concentração e aumento da procrastinação
Sensação de fracasso e desesperança (“não dou conta mais”)
📍 Dica de observação: Se essas sensações persistirem por mais de duas semanas, é importante buscar atenção para si mesmo.
Sinais físicos: O corpo também fala — e muitas vezes ele grita antes que a mente reconheça.
Cansaço extremo, mesmo após uma noite de sono
Insônia ou sono não reparador
Dores de cabeça tensionais ou enxaquecas
Problemas gastrointestinais (como gastrite, intestino preso ou solto)
Palpitações cardíacas em momentos de estresse
Baixa imunidade (gripes e infecções recorrentes)
Tensão muscular constante (ombros, pescoço, mandíbula)
🔎 Estudos como o da Mayo Clinic (2022) confirmam que o burnout parental pode gerar impactos físicos comparáveis aos de trabalhadores em ambientes de altíssima pressão.
Sinais comportamentais: São as mudanças visíveis na forma de agir — consigo mesmo, com os filhos e com o entorno.
Perda de paciência frequente
Comunicação ríspida, seca ou ausente com os filhos
Maior tendência a gritar, punir ou desistir rapidamente durante conflitos
Evitar momentos de convivência (“não tenho energia para brincar/conversar”)
Desatenção ou esquecimento de compromissos familiares
Negligência de cuidados básicos dos filhos ou de si mesmo
Refúgio excessivo em atividades de fuga (uso exagerado de celular, séries, redes sociais)
🎯 Importante: Esses sinais não indicam “fracasso” como pai ou mãe. Eles indicam que o tanque emocional está vazio e precisa ser reabastecido.

📊 Visualização prática: tabela resumida dos sintomas
Tipo de sintoma | Exemplos comuns |
Emocionais e psicológicos | Irritabilidade, culpa, cinismo, desesperança |
Físicos | Insônia, cansaço extremo, dores de cabeça |
Comportamentais | Comunicação ríspida, fuga, negligência |
🔎 O que não é burnout parental
É comum confundir burnout parental com o cansaço natural da rotina. Afinal, educar filhos exige esforço diário. Mas o burnout vai além da fadiga comum — ele é crônico, persistente e afeta profundamente a saúde emocional, física e os vínculos afetivos.
Diferenças principais:
Cansaço parental saudável | Burnout parental |
Melhora após descanso ou fim de semana | Persiste mesmo após descanso |
Varia conforme a fase da criança | É constante e cumulativo |
Há momentos de prazer com os filhos | Predomina distanciamento ou irritação |
Há energia para buscar soluções | Sensação de paralisia ou desespero |
A motivação se renova com pequenas pausas | Há perda de propósito na função parental |
Sentir-se cansado é normal. Sentir-se cronicamente esgotado, emocionalmente distante e sem prazer na parentalidade por semanas ou meses seguidos não é. É burnout — e merece cuidado.
Autoavaliação com a Escala da Ohio State
Antes de buscar soluções, é essencial reconhecer como você está se sentindo. Às vezes, o esgotamento parental é tão sutil e progressivo que só percebemos seus efeitos quando já estamos no limite. Por isso, propomos um momento de pausa e autorreflexão.
Abaixo, você encontrará uma escala de autoavaliação desenvolvida pela Ohio State University, uma das instituições pioneiras no estudo do burnout parental. Ela não substitui uma avaliação profissional, mas pode ajudar você a entender seu momento atual e considerar estratégias de cuidado.
📝 Instruções para a sondagem
Leia cada afirmação com atenção.
Responda pensando nas últimas semanas.
Seja sincero: não existe resposta certa ou errada.
📋 Escala de Autoavaliação
Para as frases de 1 a 8, use esta escala:
Muito raramente → 0 pontos
Raramente → 1 ponto
Geralmente → 2 pontos
Frequentemente → 3 pontos
Muito frequentemente → 4 pontos
Para as frases 9 e 10 (pontuação invertida):
Muito raramente → 4 pontos
Raramente → 3 pontos
Geralmente → 2 pontos
Frequentemente → 1 ponto
Muito frequentemente → 0 ponto
Nº | Afirmação | Sua resposta |
1 | Me sinto emocionalmente esgotado(a) com a função de ser pai/mãe. | |
2 | Estou exausto(a) ao final de cada dia. | |
3 | Sinto que não sou mais o pai/mãe que gostaria de ser. | |
4 | Às vezes, gostaria de ter outro tipo de vida. | |
5 | Fico facilmente irritado(a) com meus filhos. | |
6 | Me sinto distante ou desconectado(a) dos meus filhos. | |
7 | Tenho menos paciência do que antes. | |
8 | Me sinto “no automático” na criação dos filhos. | |
9 | Sinto que consigo manter a calma na maioria das situações. | |
10 | Sinto prazer e alegria em ser pai/mãe. |
🧮 Como calcular sua pontuação:
Atribua os pontos conforme explicado acima.
Some os pontos das 10 respostas.
📊 Interpretação dos resultados
Pontuação total | Interpretação |
0 a 10 pontos | Sinais mínimos ou ausentes de burnout. Você está conseguindo equilibrar os desafios da parentalidade com bem-estar. Continue atento(a) ao autocuidado. |
11 a 20 pontos | Sinais iniciais de burnout leve. Pequenos alertas surgem. Busque pequenas mudanças na rotina e atividades restauradoras. |
21 a 30 pontos | Burnout moderado. O estresse parental está se tornando predominante. Avalie com carinho sua rotina e considere buscar apoio psicológico ou familiar. |
31 pontos ou mais | Burnout grave. O esgotamento está afetando sua saúde e vínculos. Busque ajuda profissional o quanto antes. Você merece cuidado! |
🧡 Importante: Se sua pontuação estiver nas faixas moderada ou grave, não ignore os sinais. Não é fraqueza, é sobrecarga — e há caminhos possíveis para se recuperar.
Impacto do burnout parental
O burnout parental vai muito além do cansaço comum. Trata-se de um esgotamento físico, emocional e mental contínuo que afeta profundamente não só o bem-estar dos pais, mas também a qualidade das relações familiares, a saúde mental das crianças e os vínculos afetivos.
Ao ignorar ou minimizar esses sinais, corre-se o risco de gerar efeitos duradouros — tanto para quem cuida quanto para quem está sendo cuidado.
🧠 1. Na saúde mental e física dos pais
O burnout parental está diretamente associado a quadros como:
Depressão
Ansiedade generalizada
Insônia persistente
Irritabilidade crônica
Dores físicas (cefaléias, fadiga, tensão muscular)
📌 Estudos conduzidos por Isabelle Roskam e Moïra Mikolajczak (2020), principais pesquisadoras do tema, mostram que pais com burnout parental apresentam níveis elevados de cortisol, hormônio ligado ao estresse crônico, que impacta o funcionamento cerebral e imunológico.
🧬 A exaustão prolongada também afeta o sistema nervoso autônomo, dificultando a autorregulação emocional, o sono reparador e a capacidade de tomada de decisões — elementos essenciais para a parentalidade equilibrada.
💬 2. Nas relações com os filhos
Quando um adulto está esgotado, é difícil manter paciência, empatia e presença emocional — ainda que haja amor. O burnout compromete:
A qualidade da comunicação (respostas curtas, tom ríspido, distanciamento afetivo)
A disponibilidade emocional (dificuldade de brincar, acolher, dialogar)
A consistência nos limites (oscilações entre rigidez e permissividade)
A confiança mútua (os filhos percebem quando os pais estão emocionalmente ausentes)
📉 Isso pode gerar insegurança afetiva, que é um dos principais fatores de risco para dificuldades emocionais e comportamentais na infância e adolescência.
🧒 3. No desenvolvimento emocional das crianças
Filhos de pais emocionalmente esgotados tendem a apresentar:
Maior risco de problemas de comportamento (birras, agressividade, oposição)
Dificuldades de regulação emocional (explosões, ansiedade, tristeza sem nome)
Baixa autoestima (“meu pai/mãe está cansado por minha culpa”)
Tendência à adultização precoce (assumem responsabilidades emocionais que não são suas)
🧠 Segundo o neurocientista Bruce Perry, a relação com os cuidadores molda a arquitetura do cérebro em desenvolvimento. Pais exaustos emocionalmente podem ter dificuldade de manter a co-regulação — ou seja, de ensinar os filhos a lidar com suas próprias emoções.
🔁 4. Ciclos geracionais: Quando o burnout se perpetua
Quando o burnout parental se torna crônico, pode criar um ciclo transgeracional:
Pais exaustos educam com menos paciência e mais reatividade
Filhos se sentem emocionalmente desamparados
Crescem com dificuldades emocionais e, futuramente, repetem o padrão com seus próprios filhos
💡 A boa notícia? Esses ciclos podem ser interrompidos. A consciência é o primeiro passo. O segundo é buscar suporte e aplicar estratégias realistas, não perfeitas.
7. Estratégias para prevenção e recuperação do burnout parental
O burnout parental não se resolve com frases prontas ou conselhos genéricos como “tire um tempo pra você”. Para prevenir ou superar o esgotamento, pais e mães precisam de estratégias integradas que considerem suas realidades, vulnerabilidades e contextos específicos.
🌱 1. Fortalecimento da rede de apoio
Um sistema de suporte afetivo, prático e emocional para compartilhar responsabilidades, acolher frustrações e oferecer perspectiva.
Pais isolados têm risco 3 vezes maior de desenvolver burnout parental (Roskam & Mikolajczak, 2018). A solidão aumenta a sensação de incompetência e sobrecarga.
Como criar, mesmo que pareça impossível:
Reative vínculos: mande mensagem para alguém confiável dizendo “estou precisando conversar”.
Monte uma “rede afetiva mínima”: 1 pessoa para desabafar, 1 para ajudar com tarefas e 1 que te escute sem julgar.
Participe de grupos online ou presenciais de parentalidade com escuta ativa (ex: encontros em escolas, grupos de WhatsApp temáticos).
Divida a carga com o(a) parceiro(a): responsabilidades não são “ajuda”, são coparentalidade ativa.
Crie um “mapa de rede de apoio” com 3 categorias:
Afetiva (quem acolhe você)
Prática (quem pode ajudar com tarefas)
Emergencial (quem aciona em situações-limite)
⏰ 2. Gestão do tempo realista e compassiva
A habilidade de priorizar, simplificar e adaptar as demandas do dia sem culpa. Burnout parental não vem do “fazer muito”, mas do sentir que não há como fazer o suficiente.
Como aplicar:
Liste as tarefas e categorize:
🟢 Essenciais
🟡 Negociáveis
🔴 Evitáveis ou delegáveis
Use a técnica dos “microtempos”: Divida grandes tarefas em blocos de 10 a 20 minutos. Faça o que der, não o ideal.
Reserve 10 minutos de “respiro”: Silêncio, respiração, um chá, ou nada. É o mínimo viável para recarregar.
Pare de perseguir a perfeição: Trocar um almoço caseiro por delivery não é fracasso — é autocuidado disfarçado.
Ferramenta sugerida:📱 App “Trello” ou “Notion” para organização visual das prioridades da semana em quadros simples.
💆♀️ 3. Práticas realistas de autocuidado
Atitudes regulares que nutrem corpo, mente e emoções. Não são luxos — são necessidades básicas.
Autocuidado é viável quando:
Não depende de grandes intervalos de tempo
Cabe na rotina com filhos
Traz alívio ou prazer imediato (sem gerar mais culpa)
Exemplos reais e aplicáveis:
Respiração consciente por 2 minutos antes de dormir
Um banho demorado com música relaxante
Refeição sem celular, com atenção plena
Acordar 10 minutos antes da casa para tomar café em silêncio
Criar um “cantinho do sossego” em casa — pode ser uma poltrona, almofada ou até o carro
Atenção: Autocuidado não é só “fazer coisas por si”. É também dizer não, pedir ajuda e reconhecer limites.
🔒 4. Estabelecimento de limites saudáveis
A clareza sobre o que você tolera, sustenta e prioriza — e o que não consegue, sem culpa.
Pais em burnout muitas vezes estão em modo de resposta automática, dizendo “sim” para tudo por medo da culpa ou do julgamento.
Como aplicar:
Pratique frases-limite:
“Agora não posso conversar, mas te escuto depois.”
“Hoje estou no meu limite, vamos pedir comida?”
Identifique “invasores de energia”:Atividades ou pessoas que exigem demais sem retorno — e aprenda a dosar ou pausar.
Crie o “Sim com condição”:
“Sim, podemos brincar, mas só depois que eu descansar 15 minutos.”
💬 5. Comunicação empática com os filhos
Falar e ouvir com empatia, validando sentimentos e mantendo a conexão mesmo nos conflitos. Reduz o número de brigas, evita a escalada de estresse e ensina regulação emocional pela via da convivência.
Ferramentas práticas:
Técnica do sanduíche: Validação – limite – conexão
“Eu sei que você está frustrado. Mas agora não podemos ir ao parque. Que tal escolher um jogo pra jogarmos juntos em casa?”
Nomear emoções:“Você está bravo porque sente que ninguém te ouve?”
“Fale com o corpo”: Abrace, encoste no ombro, ofereça contato. Conexão física diminui cortisol.
Se você sente que a comunicação com seu filho está difícil — ou se quer melhorar esse vínculo com estratégias baseadas em escuta, validação e presença — leia o artigo completo:
📲 6. Ferramentas digitais que ajudam no dia a dia
App | Função principal |
Cozi | Organização de agenda familiar compartilhada |
Calm | Meditação guiada para pais e filhos |
OurHome | Divisão de tarefas domésticas com recompensas |
Woebot | Suporte emocional via chatbot com base em TCC |
Parenting Hero | Simulação de diálogos empáticos com filhos |
🧑⚕️ 7. Quando e como buscar ajuda profissional
Sinais de que você pode estar precisando de apoio:
Falta de prazer em tudo (anedonia)
Raiva frequente com os filhos, mesmo sem motivo claro
Vontade de sumir ou fuga fantasiosa
Choro recorrente sem gatilho específico
Insônia persistente
Profissionais que podem ajudar:
Psicólogos(as) com experiência em parentalidade
Psicoterapeutas familiares
Grupos de apoio para mães, pais, cuidadores
Mentores parentais (coaching parental com base em evidências)
Psiquiatras, nos casos de esgotamento severo
Lembre-se: Buscar ajuda não é sinal de fraqueza — é o primeiro passo para interromper o ciclo do esgotamento.
Indicação de livros
Obras que combinam embasamento científico, linguagem acolhedora e estratégias práticas para lidar com o esgotamento parental, fortalecer vínculos e promover uma parentalidade mais consciente e possível. São leituras valiosas para quem busca informação confiável e transformação real.
Burnout parental: o que é e como evitar o esgotamento na educação dos filhos
Autoras: Isabelle Roskam e Moïra Mikolajczak
Escrito pelas maiores especialistas mundiais no tema, apresenta de forma clara o conceito de burnout parental, suas causas e estratégias eficazes de prevenção e enfrentamento com base em evidências científicas.
Educação não violenta
Autora: Elisama Santos
Um guia prático para educar com respeito e empatia, mesmo nos momentos mais desafiadores. Traz exemplos reais e linguagem acessível.
Por que gritamos
Autora: Elisama Santos
Um livro sensível e profundo sobre os gatilhos que levam pais e mães a explodirem — e como interromper esse ciclo com autorresponsabilidade e autocuidado.
A raiva não educa. A calma educa.
Autora: Maya Eigenmann
Ideal para quem se sente no limite. Ajuda a entender o ciclo da raiva na parentalidade e como transformar tensão em conexão.
A arte de dar limites
Autor: Luiz Hanns
Mostra como estabelecer limites com firmeza e sensibilidade, sem culpa e sem autoritarismo. Excelente para quem se sente perdido entre permissividade e rigidez.
Conclusão: você não está falhando — você está sobrecarregado(a)
Se você se identificou com os sinais de burnout parental, respire. Você não está sozinho(a), não está falhando como pai ou mãe — está vivendo uma experiência cada vez mais comum em um mundo que cobra demais e apoia de menos.
A verdade é que criar filhos em tempos tão desafiadores emocionalmente, com tanta pressão externa e pouca rede de apoio, exige muito mais do que amor. Exige consciência, compaixão e — acima de tudo — cuidado com quem cuida.
O burnout parental não define você. Ele é um sinal de alerta, não uma sentença. E como todo sinal, ele pode ser um convite à mudança: de ritmo, de expectativas, de dinâmica familiar.

Recuperar o bem-estar na parentalidade começa com um pequeno passo: reconhecer que você também precisa ser cuidado.
🔗 Se você sente que está esgotado(a), compartilhe este artigo. Converse com alguém de confiança. E considere buscar apoio profissional — porque ser um bom cuidador começa por cuidar de si mesmo.
Continue sua jornada com outros artigos que aprofundam temas relacionados à parentalidade emocionalmente saudável:
✨ Você não precisa dar conta de tudo — só precisa ser suficiente e presente. E isso já é muito.
Referências bibliográficas
AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION (APA). Parenting children with special needs: Stress and resilience. APA.org, 2021. Disponível em: https://www.apa.org.
ARCARI, Carolina. Educação sexual em tempos de internet: um guia para famílias e escolas. São Paulo: Pólen Livros, 2020.
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. PNAD Contínua 2022: famílias monoparentais no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2022. Disponível em: https://www.ibge.gov.br.
CHILD MIND INSTITUTE. The science of parenting burnout. 2022. Disponível em: https://childmind.org.
DELAHOOKE, Mona. Ler o corpo para entender a mente: desafios da parentalidade. São Paulo: Cultrix, 2023.
EIGENMANN, Maya. A raiva não educa. A calma educa. São Paulo: Buzz, 2021.
GOTTMAN, John. Inteligência emocional e a arte de educar nossos filhos. São Paulo: Objetiva, 2014.
HANN, Luiz. A arte de dar limites. São Paulo: Objetiva, 2016.
JOURNAL OF CHILD AND FAMILY STUDIES. Parental perfectionism and social media use. Springer, 2018.
MAYO CLINIC. Burnout symptoms and treatment. 2022. Disponível em: https://www.mayoclinic.org.
MIKOLAJCZAK, Moïra; ROSKAM, Isabelle. Burnout parental: o que é e como evitar o esgotamento na educação dos filhos. Lisboa: Nascente, 2021.
MIKOLAJCZAK, Moïra; ROSKAM, Isabelle. When exhausted parents burn out. Scientific American, 2020. Disponível em: https://www.scientificamerican.com.
NELSEN, Jane. Disciplina positiva. São Paulo: Manole, 2015.
PERRY, Bruce D.; SZALAVITZ, Maia. O menino criado como um cão: o que crianças traumatizadas podem nos ensinar sobre perda, amor e cura. São Paulo: Ágora, 2016.
ROSENBERG, Marshall B. Comunicação não violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. São Paulo: Ágora, 2006.
SANTOS, Elisama. Educação não violenta. São Paulo: Paz & Terra, 2018.
SANTOS, Elisama. Por que gritamos. São Paulo: Paz & Terra, 2020.
SHEFALI, Dra. Pais conscientes, vínculos indestrutíveis: o mapa da criação consciente para redescobrir a si mesmo e se reconectar com seus filhos. São Paulo: Fontanar, 2023.
UNICEF. Pais e mães solo no Brasil: desafios e políticas públicas necessárias. Brasília: UNICEF Brasil, 2020. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil.