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Férias em família com adolescentes: Estratégias para um tempo de qualidade juntos

  • Paloma Garcia
  • 15 de jan. de 2024
  • 17 min de leitura

Atualizado: 17 de abr.

As férias em família são frequentemente idealizadas como um tempo de descanso, diversão e união. No entanto, quando falamos de férias com adolescentes, esse ideal pode esbarrar em realidades mais complexas: resistência às programações familiares, conflitos silenciosos, isolamento nos celulares, e até frustrações mútuas entre pais e filhos. O que deveria ser leve, muitas vezes se torna tenso — e isso não é incomum.


Durante a adolescência, os jovens estão em um processo intenso de construção de identidade, necessidade de autonomia e redefinição de vínculos afetivos. Segundo o psicólogo do desenvolvimento Laurence Steinberg (2014), esse é um período em que os adolescentes sentem urgência por independência, mas ainda precisam de estrutura e pertencimento — especialmente dentro da família.

familia de costas, observando a paisagem em um campo ao pôr do sol, representando união, amizade e conexão durante momentos ao ar livre.

É exatamente por isso que as férias, longe da rotina e das pressões escolares, podem se transformar em uma oportunidade poderosa de reconexão emocional. Não se trata de planejar experiências perfeitas, mas de criar espaços reais de convivência, onde o adolescente possa se sentir aceito, respeitado e presente.


“As férias revelam aquilo que o cotidiano muitas vezes mascara. Elas expõem os vínculos, os ruídos e também as possibilidades.”— Trecho adaptado de Siegel & Bryson (2018)

Neste artigo, você encontrará uma abordagem prática, profunda e acolhedora para lidar com os desafios — e as oportunidades — que surgem quando passamos mais tempo juntos em família, especialmente com adolescentes.


  1. O que está em jogo: férias como oportunidade de vínculo (ou estresse)


As férias, especialmente em família, costumam ser vistas como sinônimo de descanso e diversão. Mas para muitas famílias com adolescentes, esse período também pode ser fonte de atrito, desconexão e até frustração. E isso tem explicações tanto emocionais quanto neurobiológicas.


Entre expectativas e frustrações


Enquanto os pais desejam tempo de qualidade, conversas significativas e desconexão das telas, muitos adolescentes querem exatamente o oposto: mais independência, espaço pessoal e contato com amigos (muitas vezes, apenas via celular). A tensão surge quando essas expectativas colidem — e o que deveria ser uma experiência leve se torna um campo minado emocional.


Segundo a psicóloga clínica Lisa Damour (2019), autora de Under Pressure, adolescentes funcionam com uma lógica de preservação de autonomia. Quando sentem que estão sendo "forçados" a conviver, muitas vezes reagem com resistência, irritabilidade ou retraimento.


Mas isso não significa que não desejem conexão. Na verdade, o que está em jogo é a forma como essa conexão é proposta.


“Adolescentes anseiam por vínculo com adultos de referência — desde que isso aconteça com respeito à sua individualidade.”— Lisa Damour (2019)

O papel do cérebro adolescente nas férias


Do ponto de vista da neurociência, o cérebro do adolescente está em pleno desenvolvimento, especialmente as áreas responsáveis pela regulação emocional, controle de impulsos e tomada de decisões (Siegel, 2014). Isso significa que as reações exageradas, as mudanças de humor e a oscilação entre o desejo de proximidade e o afastamento são absolutamente normais — embora desafiadoras para os adultos.


Além disso, o sistema de recompensa cerebral (núcleo accumbens), altamente sensível a estímulos de prazer e novidade, faz com que os adolescentes busquem atividades intensas, rápidas e estimulantes — o que pode entrar em choque com os programas familiares mais tranquilos ou tradicionais.


Ou seja: o desconforto nas férias não é sinal de fracasso. É apenas reflexo de uma fase de transição — e também uma chance real de transformação.


As férias como laboratório relacional


Quando acolhemos essas diferenças e ajustamos as expectativas, as férias podem se transformar em um “laboratório relacional” — um espaço protegido onde pais e adolescentes podem:


  • Refletir sobre o que funciona ou não na convivência;

  • Aprender novas formas de diálogo;

  • Experimentar momentos de prazer sem cobranças ou pressões;

  • Redescobrir o outro, com curiosidade e menos julgamento.


Como destaca o psiquiatra Daniel J. Siegel, “a conexão emocional não exige perfeição, mas sim presença, curiosidade e consistência”

2. Ajustando o olhar: o que os adolescentes realmente esperam dos adultos nas férias


Apesar da aparência muitas vezes indiferente ou até impaciente, adolescentes desejam — e precisam — da presença afetiva dos adultos. O desafio está em como essa presença é oferecida.


O que os adolescentes valorizam na convivência familiar?


Estudos da American Psychological Association (APA, 2023) mostram que adolescentes associam experiências familiares positivas a três elementos principais:


  • Respeito ao espaço pessoal: sentir que podem participar por escolha, e não por obrigação.

  • Diálogo horizontal: ser escutados sem julgamento ou correção imediata.

  • Momentos leves e espontâneos: pequenas interações de qualidade, sem necessidade de grandes eventos.


Quando os adultos se aproximam com empatia, curiosidade e disposição para adaptar seus modelos de convivência, os adolescentes tendem a responder com mais abertura.


“Adolescentes não querem pais perfeitos. Querem pais presentes, honestos e dispostos a aprender com eles.”— Madeline Levine, psicóloga e autora de Teach Your Children Well (2012)

O que eles não suportam (e com razão)


Existem atitudes que, embora bem-intencionadas, podem minar o vínculo nas férias:


  • Tentativas constantes de “corrigir” ou “ensinar lições” a cada conversa;

  • Controle excessivo de tempo, alimentação, sono ou roupa sem diálogo;

  • Forçar participação em atividades sem considerar seus gostos e limites;

  • Interações baseadas apenas em cobrança, sem espaço para prazer ou leveza.


A adolescência é um momento de construção da autonomia, e isso implica permitir que façam escolhas — inclusive erradas — com acompanhamento, e não apenas imposição.


Como transformar a convivência em conexão?


  • Ofereça convites, não imposições: “Vamos caminhar juntos?” em vez de “Desliga esse celular agora.”

  • Compartilhe algo seu: um livro, um filme que você amava na adolescência, uma música que te emociona.

  • Observe e valorize pequenos gestos: um sorriso, um comentário, uma ajuda espontânea — eles são pistas de abertura.


A conexão se constrói nas entrelinhas. Nas pausas. No olhar sem julgamento.

3. Comunicação aberta e escuta ativa: o alicerce da convivência saudável


A comunicação entre pais e adolescentes é um dos pilares mais importantes para uma convivência significativa, especialmente durante as férias, quando o tempo compartilhado tende a aumentar — e com ele, os desafios. Ainda que seja uma fase de desenvolvimento marcada por certa resistência e necessidade de autonomia, a adolescência também é um momento de escuta e conexão, desde que o ambiente permita.


Pesquisas em psicologia do desenvolvimento e neurociência (Siegel, 2014; Feldman, 2017) mostram que um adolescente que se sente escutado ativa regiões cerebrais relacionadas à regulação emocional, empatia e vínculo de segurança. Em contrapartida, quando a escuta é ausente ou reativa, o jovem se fecha ou reage com oposição, fortalecendo comportamentos defensivos ou de distanciamento.


Por que a escuta ativa é mais eficaz do que o discurso


Escuta ativa não é apenas ouvir: é escutar com atenção plena, sem interromper, corrigir ou antecipar respostas. É validar as emoções do adolescente, ainda que não se concorde com tudo o que ele diz.


Segundo Carl Rogers (1951), a escuta ativa cria uma “atmosfera de aceitação incondicional”, necessária para que qualquer processo de mudança ou amadurecimento emocional aconteça.


Estratégias para aplicar escuta ativa no cotidiano:


  • Dê sinais verbais e não verbais de atenção (olhe nos olhos, incline-se, evite distrações como celular ou televisão).

  • Parafraseie o que foi dito para mostrar compreensão: “Entendi que isso te deixou frustrado porque parecia injusto...”

  • Evite dar soluções imediatas. Ao invés disso, pergunte: “O que você acha que te ajudaria agora?”

  • Nomeie as emoções observadas, sem julgar: “Parece que você ficou bem irritado com isso, né?”


Construindo um clima de confiança com a linguagem que acolhe


A forma como nos comunicamos impacta diretamente a disposição do adolescente para dialogar. A comunicação não violenta (CNV), desenvolvida por Marshall Rosenberg (2003), propõe quatro passos fundamentais:


  1. Observar sem julgar (“Notei que você passou o dia no quarto.”)

  2. Expressar sentimentos (“Fiquei preocupada e com saudade.”)

  3. Dizer a necessidade (“Gostaria que tivéssemos mais momentos juntos.”)

  4. Fazer um pedido claro (“O que acha da gente jantar juntos hoje, sem telas?”)


Adolescentes respondem melhor a convites do que a ordens. Quando se sentem respeitados, tendem a colaborar mais — não por medo, mas por vínculo.


Conversas que aproximam: como aprofundar o diálogo


Conversas significativas não precisam de grandes discursos, mas sim de intenção. Durante as férias, é possível criar micro-oportunidades de conexão, como caminhadas, viagens de carro, jogos ou refeições.


Sugestões de perguntas que abrem espaço para reflexões:


  • “O que mais gostou no nosso dia hoje?”

  • “Tem algo que você sente falta e não falou ainda?”

  • “Se pudesse mudar uma coisa nas férias, o que seria?”


Essas perguntas abrem espaço emocional e ajudam o adolescente a desenvolver consciência sobre seus próprios sentimentos e desejos.


Reações difíceis também são comunicação


Nem sempre a conversa será fácil — e tudo bem. Respostas secas, resistência ou até um “não sei” também fazem parte da forma como adolescentes comunicam suas inseguranças. O importante é manter o espaço aberto, mesmo quando a escuta não é imediata.


💡 Dica importante: quando o adolescente “explode” ou se fecha, evite reagir no calor da emoção. Aguarde o momento certo e diga, com calma: “Acho que a gente pode conversar quando você se sentir melhor. Estou aqui.”


Como lidar com bloqueios de comunicação


É comum que em famílias com histórico de conflitos ou afastamento emocional, a comunicação pareça truncada. Nessas situações, o primeiro passo é reconstruir a segurança emocional, demonstrando interesse genuíno e constância — sem cobranças.


Sinais de bloqueio comunicacional:


  • O adolescente não compartilha nem o básico sobre sua rotina;

  • Há medo ou vergonha visível ao abordar certos temas;

  • Há recusa ativa em conversar com pais ou responsáveis.


Estratégias para reverter:


  • Comece por escutar pequenas coisas (como músicas que ele gosta ou memes que compartilha);

  • Evite usar confidências passadas como munição para críticas;

  • Mostre-se disponível emocionalmente mesmo fora das conversas (presença sem fala também comunica).


Comunicação como ferramenta de prevenção e bem-estar


A comunicação saudável com os adolescentes é, segundo pesquisas da UNICEF (2022) e da APA (2020), um fator protetivo importante contra comportamentos de risco, como uso de substâncias, automutilação ou isolamento social. Quando sentem que podem contar com adultos, os adolescentes tendem a recorrer ao diálogo antes de agir impulsivamente.


Durante as férias, temos a oportunidade única de reparar vínculos fragilizados, iniciar novos rituais familiares de conversa e reforçar que a casa é um espaço de acolhimento e escuta.

4. Ajustando expectativas: equilíbrio entre liberdade e estrutura nas férias


As férias são frequentemente idealizadas como um tempo de descanso, lazer e harmonia familiar. No entanto, na prática, elas podem trazer desafios de convivência — especialmente com adolescentes, que estão em um momento de vida marcado por a busca de autonomia, necessidade de autoafirmação e oscilação emocional. Nessa fase, o equilíbrio entre oferecer liberdade e manter uma estrutura saudável é um dos maiores desafios para famílias.


Pesquisas em psicologia do desenvolvimento (Steinberg, 2014; Siegel, 2014) apontam que adolescentes precisam de espaço para testar limites, mas também se beneficiam de uma estrutura clara e previsível. A ausência de limites pode gerar sensação de insegurança e desorganização emocional. Por outro lado, o excesso de controle pode provocar rebeldia, distanciamento e quebra de confiança.


O que significa “estrutura saudável” nas férias?


Estrutura saudável não é sinônimo de rotina rígida ou controle total. Trata-se de combinar previsibilidade, flexibilidade e acordos claros, promovendo um ambiente onde o adolescente se sinta respeitado, mas também cuidado.


Elementos fundamentais de uma estrutura saudável:


  • Acordos compartilhados sobre horários de sono, refeições e uso de telas;

  • Clareza nas expectativas em relação a participação nas tarefas da casa ou atividades em grupo;

  • Definição de tempo livre individual, respeitando a necessidade de privacidade;

  • Momentos planejados de convivência em família, sem imposição forçada.


Um estudo da Journal of Adolescent Research (2020) mostrou que adolescentes que participam da definição de regras e combinados familiares sentem-se mais motivados a cumpri-los e demonstram maior bem-estar emocional durante períodos de convívio intenso, como as férias.


Como evitar frustrações: diálogo e negociação antes do conflito


Uma das maiores fontes de estresse entre pais e adolescentes nas férias é a diferença de expectativas. Enquanto os adultos esperam convivência, partilha e união, muitos adolescentes esperam dormir até tarde, encontrar amigos e ter liberdade.


Antecipar conversas sobre o que se espera do período de férias é essencial. Isso permite que:


  • Os adolescentes sintam que suas necessidades são levadas em conta;

  • A família possa expressar seus valores e desejos;

  • Acordos sejam feitos antes do desgaste emocional.


Exemplo de abertura de conversa:


“A gente está entrando nas férias e eu queria muito que fosse um tempo legal para todos aqui em casa. Queria te ouvir sobre o que você espera, e também contar o que eu gostaria.”

Quando dar espaço e quando intervir?


Nem toda reclusão ou vontade de ficar só deve ser interpretada como problema. Adolescentes, especialmente os mais introspectivos, precisam de momentos de solitude para reorganizar pensamentos e emoções.


Mas há sinais que indicam quando é hora de se aproximar com mais atenção:


  • Isolamento total, sem vontade de participar de nenhuma atividade;

  • Mudanças bruscas de humor ou comportamento;

  • Evitamento persistente da convivência com a família;

  • Comentários depreciativos sobre si mesmo ou desinteresse generalizado.


Nesses casos, a intervenção deve ser sensível, não impositiva:


“Tenho notado que você tem ficado muito no seu canto, e queria entender se está tudo bem ou se tem algo que gostaria de conversar. Estou aqui pra te ouvir, sem pressa.”

Convidar, não obrigar: como propor momentos em família sem gerar resistência


A resistência a participar de atividades em família geralmente está relacionada à forma como o convite é feito. Propostas que soam como ordens ou críticas veladas (“você nunca quer nada com a gente”) tendem a gerar oposição.


Formas mais eficazes de convite:


  • Ofereça opções (“Topa escolher entre cozinhar junto ou ver um filme hoje à noite?”);

  • Proponha sem cobrança (“Se quiser, vamos caminhar depois do jantar. Vai ser bom pra mim.”);

  • Compartilhe desejos com vulnerabilidade (“Tenho sentido falta da gente fazer algo juntos. Queria muito passar um tempo com você.”).


A neurociência afetiva mostra que a motivação interna para se conectar é mais duradoura quando nasce do vínculo e não da obrigação (Panksepp, 2008).

Liberdade com responsabilidade: como cultivar autonomia sem perder o vínculo


Oferecer liberdade não significa abandonar o papel de referência. Significa ensinar o adolescente a fazer escolhas com base em valores compartilhados, respeito mútuo e responsabilidade emocional.


Exemplos práticos:


  • Permitir saídas com amigos, mas com retorno acordado e contato prévio;

  • Convidar o adolescente a planejar parte da programação familiar;

  • Dar autonomia para organizar seus próprios horários, com a contrapartida de manter a convivência respeitosa.


Esse modelo de autonomia guiada, segundo Laurence Steinberg (2014), é um dos preditores mais consistentes de equilíbrio emocional, boa autoestima e relações familiares saudáveis na adolescência.

5. Lazer com sentido: planejando atividades que conectam e respeitam a individualidade


A ideia de passar as férias “juntos em família” pode soar encantadora — mas, na prática, esbarra em interesses divergentes, ritmos diferentes e a clássica tensão entre convívio e privacidade. Na adolescência, isso se torna ainda mais desafiador: os jovens precisam de autonomia e valorizam fortemente os vínculos com os pares, ao mesmo tempo em que ainda buscam — mesmo que silenciosamente — conexão com a família.


O desafio, portanto, não é preencher o tempo com qualquer atividade, mas construir experiências de lazer com sentido: que respeitem a individualidade, gerem prazer mútuo e fortaleçam o vínculo familiar sem anular a liberdade do adolescente.


O que é “lazer com sentido”?


É aquele tipo de atividade que cumpre três funções ao mesmo tempo:


  1. Oferece prazer ou alívio emocional – promove relaxamento, bem-estar ou diversão genuína.

  2. Conecta pessoas de forma autêntica – sem exigência de perfeição, mas com presença emocional.

  3. Fortalece valores e vínculos – estimula o diálogo, a empatia e a construção de memórias afetivas.


Segundo estudos sobre bem-estar na adolescência (Larson & Verma, 1999), o tempo de lazer significativo — isto é, vivido com autonomia, presença e conexão — está associado a maiores níveis de autoestima, menor risco de depressão e melhor percepção da relação com os pais.


Como planejar atividades que funcionam para todos?


Nem tudo precisa ser uma “viagem memorável”. Muitas vezes, são os momentos simples e consistentes que mais fortalecem os vínculos. O segredo está em:


  • Ouvir o adolescente antes de propor: perguntar o que ele gostaria de fazer, o que funcionou em férias anteriores, ou o que ele não tem vontade de repetir.

  • Evitar impor programas com base no gosto adulto: especialmente se envolvem longos períodos offline sem aviso prévio ou grandes grupos familiares que o adolescente não escolheu.

  • Variar entre momentos coletivos e espaços individuais: cada um deve ter tempo para si, sem que isso seja interpretado como “falta de interesse pela família”.


Exemplos de experiências que promovem conexão (e autonomia)


  • Cozinhar juntos: preparar uma receita escolhida por eles, inverter os papéis (“hoje o filho é o chef”);

  • Noite de jogos cooperativos: especialmente os que envolvem diálogo e tomada de decisão em grupo;

  • Maratona de séries ou filmes com conversa depois: escolha colaborativa + tempo de troca ao final;

  • Atividades ao ar livre: trilhas curtas, piqueniques, pedaladas, caminhada noturna no bairro — com clima de leveza, não imposição;

  • Projetos criativos compartilhados: pintar uma parede do quarto, montar um álbum de memórias, redecorar um espaço da casa juntos.


Todas essas opções são exemplos de lazer ativo, colaborativo e emocionalmente nutritivo. Segundo a American Academy of Pediatrics (2021), experiências familiares que envolvem participação ativa (em vez de consumo passivo) contribuem para o senso de pertencimento e reduzem comportamentos de risco.


Dicas práticas para escolher bem o que fazer


🗣️ Use perguntas abertas ao invés de sugestões prontas


Evite impor ideias e convide o adolescente a co-construir o momento:

“Se a gente fosse fazer algo só nosso nessas férias, o que você escolheria?”

🧭 Envolva o adolescente no planejamento logístico


Deixe que ele participe ativamente: pesquisar passeios, escolher horários, calcular o orçamento. Isso aumenta o senso de pertencimento e cooperação.


🤝 Reforce que a ideia não é obrigar a fazer tudo junto


Seja honesto sobre sua intenção:

“Não quero forçar a barra, só queria que a gente criasse alguns momentos juntos que fossem legais para os dois.”

🎮 Esteja aberto a novas formas de conexão


Atividades que parecem “sem sentido” para os adultos — como jogos online ou maratonas de vídeos — podem ser oportunidades valiosas de vínculo, se forem vividas com presença e interesse genuíno.


A diferença entre “tempo juntos” e “tempo de qualidade”


Estar fisicamente próximo não significa estar emocionalmente conectado. Pesquisas em psicologia familiar (Petersen et al., 2015) mostram que a qualidade da interação é mais importante do que a quantidade de tempo.


Tempo de qualidade é aquele em que há:


  • Presença plena (sem celular ou distrações);

  • Interesse real pelo outro;

  • Respeito aos sentimentos e ideias;

  • Espaço para humor, escuta e espontaneidade.


A construção de vínculo se dá nos detalhes: no modo como se olha, no tempo que se para para escutar, no respeito aos silêncios.

6. Recursos que ajudam: livros e ideias práticas para famílias


Aliar informação de qualidade com ferramentas práticas pode ser um diferencial na hora de planejar férias mais conectadas, respeitosas e leves com adolescentes. A seguir, uma curadoria de materiais acessíveis e úteis para pais, cuidadores e educadores.


📘 Livros para fortalecer vínculos e compreender a adolescência


O Cérebro Adolescente: Manual de sobrevivência para pais e filhos

Autora: Frances E. Jensen

Neurocientista e mãe de adolescentes, Frances Jensen explica, com linguagem acessível, como o cérebro dos jovens funciona e como isso influencia seus comportamentos, decisões e relações familiares. Uma leitura essencial para compreender e melhorar a convivência nessa fase da vida.


Disciplina Positiva para Adolescentes: Como incentivar os jovens a desenvolver autocontrole, responsabilidade e cooperação

Autoras: Jane Nelsen e Lynn Lott

Este clássico da educação parental ensina como construir relações baseadas em respeito mútuo, empatia e colaboração, mesmo em momentos de tensão. Ideal para o contexto de férias em família, quando o tempo juntos aumenta e os conflitos podem surgir.


Limites sem Traumas

Autora: Tania Zagury

Um guia prático e equilibrado sobre como impor limites sem autoritarismo ou permissividade. Aborda temas como convivência familiar, escuta ativa e autonomia — todos muito relevantes em períodos de férias e maior convivência em casa.


Como Educar no Século XXI: Guia Antipânico para Pais e Mães

Autora: Ana Thomaz

Aborda o desafio de criar filhos em tempos hiperconectados e com agendas lotadas. O livro traz reflexões e práticas sobre presença, escuta e tempo de qualidade — ideais para quem deseja transformar as férias em momentos de conexão real.


Imagina na Adolescência

Autora: Thaís Vilarinho

Com a mesma sensibilidade de Mãe Fora da Caixa, Thaís Vilarinho se volta agora ao universo da adolescência, explorando os desafios dessa fase com escuta ativa, empatia e afeto. O livro oferece reflexões poderosas para mães, pais e educadores que desejam construir uma relação mais consciente, respeitosa e presente com adolescentes.



💡 Ideias práticas e significativas para fortalecer a conexão familiar durante as férias


Estudos em psicologia relacional e desenvolvimento adolescente mostram que o tempo de qualidade em família não depende de grandes eventos ou investimentos financeiros, mas da presença emocional verdadeira, escuta ativa e momentos compartilhados de propósito (Siegel & Hartzell, 2013; Sroufe, 2005).


A seguir, apresento ideias acessíveis, intencionais e baseadas em práticas de vínculo familiar para tornar as férias mais significativas — sem precisar sair de casa ou fazer longas viagens.


🕯️ Ritual diário de presença:

Estabeleça um momento breve, mas consistente, de conexão diária — pode ser 15 minutos pela manhã ou à noite, sem telas, apenas para conversar, fazer alongamento juntos ou ouvir uma música. A repetição desse ritual ajuda a criar um senso de previsibilidade emocional que reforça a segurança afetiva.


🧩 Desafio colaborativo: “Um propõe, todos fazem”

Cada membro da família propõe uma atividade para os outros durante as férias. Vale tudo: cozinhar uma receita preferida, ensinar algo novo, sugerir um filme, fazer um piquenique, montar um LEGO antigo. A ideia é colocar o vínculo acima da atividade.


📔 Projeto “Memórias em construção”

Crie um diário familiar de férias — pode ser físico ou digital — onde cada pessoa contribui com reflexões, fotos, músicas, receitas ou desenhos. Se preferirem, usem áudios gravados com depoimentos sobre o dia. Essa prática fortalece a noção de história compartilhada e pertencimento.


🚶‍♂️ Experiências offline para o corpo e para a mente

Proponha momentos longe de telas com atividades que estimulem presença e cooperação. Algumas sugestões:


  • Jogos de tabuleiro cooperativos ou criativos;

  • Tarde de “minioficinas” (cada um ensina algo: origami, maquiagem, bordado, consertar algo…);

  • Caminhada temática: cada um leva uma pergunta para discutir ao longo do percurso.


🗨️ “Círculo de escuta” em família

Crie um espaço regular (semanal ou a cada três dias) para conversas sem interrupções.

Escolha uma pergunta como:– “Qual foi o melhor momento da semana?”– “O que você gostaria de fazer mais juntos?”– “O que está difícil para você agora?”


Essa prática, inspirada nos Círculos Restaurativos, desenvolve empatia, confiança e vínculo emocional.


🎶 Playlist afetiva de férias

Monte uma playlist colaborativa no Spotify, YouTube ou Deezer com músicas que tenham algum significado para cada membro da família. Usem como trilha sonora das férias — no carro, na cozinha, nas caminhadas. A música é um marcador emocional poderoso.


💌 Troca de cartas ou bilhetes escondidos

Mesmo com adolescentes, bilhetes carinhosos e inesperados têm grande impacto. Escrevam recados e deixem em lugares improváveis: dentro de um tênis, da mochila ou debaixo do travesseiro. A surpresa cria laços simbólicos positivos e ativa memórias afetivas.


🔁 “Dia da curiosidade reversa”

Escolham um dia para inverter os papéis: os pais perguntam e os adolescentes ensinam. Vale qualquer assunto: memes, gírias, TikTok, artistas, games… A curiosidade genuína é uma forma poderosa de reconhecimento.


Para tornar esse momento ainda mais divertido (e educativo para os adultos!), use como apoio o Dicionário de Gírias da Geração Z (Atualizado 2025). Ele pode ser lido junto, explorado em forma de quiz ou até virar um “desafio do dia” em família.


Essas práticas não precisam acontecer todas ao mesmo tempo. O essencial é que o vínculo familiar seja cultivado com intenção, afeto e presença. É disso que os adolescentes se lembrarão — não apenas dos lugares visitados, mas da sensação de serem vistos, ouvidos e valorizados.


  1. Conclusão: o que realmente importa no tempo juntos


Férias com adolescentes não precisam ser perfeitas — precisam ser verdadeiras. Na adolescência, os filhos passam a buscar mais independência, explorar sua identidade e muitas vezes se distanciar do convívio familiar. Isso é esperado e saudável. Mas isso não significa que o vínculo com os pais ou cuidadores perca importância. Na verdade, ele continua sendo um dos principais fatores de proteção emocional e desenvolvimento saudável (Bowlby, 1982; Steinberg, 2011).


O tempo em família durante as férias pode ser uma oportunidade preciosa para:


  • fortalecer a segurança emocional;

  • reequilibrar a relação entre autonomia e vínculo;

  • viver momentos significativos que serão lembrados por toda a vida.


Não se trata de ter férias “animadas” ou cheias de eventos. Trata-se de mostrar presença com qualidade: estar disponível, respeitar os limites do outro, convidar — sem impor — à convivência. Conversar com interesse real, rir juntos, resolver pequenos conflitos com escuta ativa e criar espaços para que cada um se sinta visto e aceito.


Estudos em psicologia positiva e desenvolvimento socioemocional mostram que experiências compartilhadas com afeto e atenção plena são muito mais marcantes do que qualquer programação cara ou elaborada (Seligman, 2011; Siegel & Bryson, 2020).


Afinal, para o adolescente, o que mais importa não é para onde a família foi — mas como ele se sentiu naquele ambiente.


Referências Bibliográficas


BOWLBY, John. Apego: a natureza do vínculo. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1982.


BRYSON, Tina Payne; SIEGEL, Daniel J. O cérebro que diz sim: como criar filhos mais resilientes, independentes e cooperativos. São Paulo: Paz e Terra, 2020.


EISENBERG, Nancy; SPINRAD, Tracy L. Emotion-related regulation: sharpening the definition. Child Development, v. 75, n. 2, p. 334–339, 2004.


KERR, Margaret E.; STATIN, Håkan. What parents know, how they know it, and several forms of adolescent adjustment: further support for a reinterpretation of monitoring. Developmental Psychology, v. 36, n. 3, p. 366–380, 2000.


LERNER, Richard M.; STEINBERG, Laurence (Orgs.). Handbook of Adolescent Psychology. 3. ed. Hoboken, NJ: Wiley, 2009.


SELIGMAN, Martin E. P. Florescer: uma nova compreensão da natureza da felicidade e do bem-estar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.


SIEGEL, Daniel J. O cérebro da criança: 12 estratégias revolucionárias para nutrir a mente em desenvolvimento do seu filho. São Paulo: Editora Vergara & Riba, 2015.


STEINBERG, Laurence. Adolescence. 9. ed. New York: McGraw-Hill, 2011.


VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

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