Ansiedade na adolescência: sinais, causas e como ajudar um jovem em sofrimento emocional
- Paloma Garcia
- 5 de jun.
- 19 min de leitura
Atualizado: 5 de jun.
“Ela tem 13 anos. Era extrovertida, agora se cala. Chora sozinha, perde o sono, diz que ‘está travada’. Os pais pensam: é drama? É hormônio? Mas... e se for ansiedade?”
Essa cena, comum e cada vez mais frequente tem se repetido em consultórios, escolas e dentro de casa. A adolescência, que sempre foi sinônimo de transformação, passou a carregar também um peso silencioso: o da ansiedade. O que era para ser um tempo de descobertas, experimentações e construção de identidade, para muitos adolescentes, tornou-se uma fase de sofrimento emocional intenso, muitas vezes não nomeado.

Não se trata de uma questão de "geração fraca", como alguns ainda insistem em dizer. Trata-se de uma mudança nos contextos, nos estímulos e nas exigências. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que os transtornos de ansiedade estão entre os mais prevalentes na adolescência, com impacto direto no rendimento escolar, nos relacionamentos e na autoestima (WHO, 2021). No Brasil, estima-se que até 10% dos adolescentes sofram de algum transtorno ansioso clinicamente relevante (Merikangas et al., 2010), o que levanta uma questão urgente: estamos preparados para escutá-los?
Adolescência e ansiedade: por que tantos jovens sofrem em silêncio?
A adolescência é uma fase de vulnerabilidade biológica e emocional. Com o cérebro em transformação e o mundo externo cobrando maturidade precoce, muitos adolescentes vivem em estado de alerta crônico.
Durante anos, se naturalizou a ideia de que "adolescente sofre por qualquer coisa". Essa visão, além de reducionista, ignora o que a neurociência e a psicologia já comprovaram: a adolescência é uma das fases mais desafiadoras do desenvolvimento humano, tanto em termos emocionais quanto cognitivos.
Um ambiente caótico por dentro e por fora
Esse cenário interno já desafiador encontra um mundo externo altamente estressante. A teoria bioecológica do desenvolvimento humano, proposta por Urie Bronfenbrenner (1979), explica que o desenvolvimento psicológico ocorre em camadas interligadas: família, escola, pares, cultura e ambiente digital.
Quando essas camadas se tornam instáveis, o impacto na saúde mental do adolescente é direto. Os adolescentes de hoje enfrentam:
Pressões escolares cada vez mais precoces
Exposição constante nas redes sociais
Incertezas sobre o futuro (profissional, ambiental, social)
Baixo acesso à escuta emocional legítima em casa ou na escola
É uma geração que precisa performar, decidir e se autorregular emocionalmente com um cérebro que ainda está em construção.
Ansiedade não é drama, é neurobiologia
A ansiedade, em sua essência, é uma emoção protetiva. Ela ativa o sistema de alarme do corpo diante de ameaças. Porém, quando esse sistema se mantém ligado sem motivo concreto, ou se ativa de forma exagerada, a experiência deixa de ser útil e passa a ser dolorosa, desorganizadora e incapacitante.
📉 O que parece "preguiça" pode ser esgotamento emocional.O que chamam de "rebeldia" pode ser um pedido de socorro silencioso.A ciência mostra que a ansiedade adolescente é profunda e real.
“O aumento dos transtornos de ansiedade entre adolescentes é uma das tendências mais marcantes na saúde mental dos últimos 20 anos.”— Twenge & Campbell, 2018
Uma geração que sente demais e, sofre em silêncio
Vivemos um paradoxo: adolescentes conectados o tempo todo, mas muitas vezes desconectados de si mesmos. A ansiedade que cresce entre eles não é excesso de sensibilidade. É falta de acolhimento, escuta e suporte compatível com sua fase de vida.

Entender o que acontece no cérebro adolescente, nos ambientes em que ele vive e nas exigências que recebe é o primeiro passo para reduzir o sofrimento que muitos chamam de "fase" mas que, na verdade, pode marcar toda uma vida.
Gatilhos da ansiedade juvenil: um mundo exigente demais para um cérebro em construção
Se a ansiedade é, em parte, uma resposta do corpo a ameaças percebidas, então é essencial entender o que está sendo percebido como ameaça no cotidiano dos adolescentes. Muitas vezes, o que parece “exagero” é, na verdade, o efeito de um ambiente que exige demais e acolhe de menos e, que cobra de cérebros ainda em formação uma maturidade que ainda não podem entregar.
A teoria bioecológica do desenvolvimento humano, proposta por Urie Bronfenbrenner (1979), nos oferece um modelo valioso para compreender esse cenário. Ela mostra que o desenvolvimento psicológico não acontece no vácuo, mas dentro de um sistema com múltiplos níveis de influência: família, escola, grupo de amigos, cultura, redes sociais e estrutura social mais ampla. Quando esses ambientes se tornam disfuncionais, o impacto sobre a saúde mental adolescente é direto, profundo e, muitas vezes, silencioso.
O adolescente diante de um mundo em colapso
Diferentemente de outras gerações, os adolescentes de hoje crescem em um ecossistema hiperconectado, visual, acelerado e incerto. O tempo da infância foi encurtado. A fase adulta, antecipada. Mesmo com recursos emocionais ainda imaturos, os jovens são pressionados a ter responsabilidade, foco, estabilidade e performance.
E os gatilhos ambientais se acumulam:
📌 Pressões escolares cada vez mais intensas e precoces
➡️ Com foco excessivo em produtividade, vestibular e notas.
📌 Exposição constante nas redes sociais
➡️ Alimentando comparação, medo de errar e sensação de inadequação.
📌 Incertezas em relação ao futuro
➡️ Crises ambientais, instabilidade econômica, desemprego, guerras. tudo isso está nos feeds que eles consomem diariamente.
📌 Desconexão emocional dentro de casa
➡️ Falta de escuta legítima, tempo de qualidade ou apoio emocional contínuo.
📌 Estímulos digitais incessantes
➡️ Que sobrecarregam o sistema nervoso e impedem o descanso psíquico.
Esses fatores, quando combinados, criam um cenário de sobrecarga neuroemocional. O cérebro adolescente, ainda em desenvolvimento, é mais sensível ao estresse. Isso significa que situações aparentemente pequenas como uma prova, um comentário em rede social, um silêncio dos pais, podem ser interpretadas como ameaças reais, ativando o sistema de estresse com intensidade desproporcional.
“A adolescência é um período de intensa vulnerabilidade, especialmente quando os ambientes exigem autocontrole de cérebros ainda em construção.”— Spear, 2000
O estresse contínuo e o cérebro em alerta
O principal sistema biológico envolvido na resposta ao estresse é o eixo HPA (hipotálamo–pituitária–adrenal), que regula a liberação do hormônio cortisol. Na adolescência, esse sistema é mais reativo, como mostra Romeo (2013). Em outras palavras:
O corpo adolescente reage com mais força e frequência a estímulos estressantes
💡 E isso não é sinal de fragilidade, é característica do desenvolvimento.
O problema é que a ativação constante do eixo HPA, sem tempo de recuperação, leva ao chamado estado de alerta crônico, que pode causar:
Tensão muscular constante
Cansaço físico e mental
Insônia
Irritabilidade
Dificuldade de concentração
Baixa tolerância a frustrações
“O adolescente sente como se tudo fosse uma emergência. Não porque exagera, mas porque seu corpo realmente reage como se fosse.”— Romeo, 2013
O ciclo da comparação, perfeição e medo de falhar
Outro gatilho importante é a cultura da performance, especialmente nas redes sociais. O adolescente de hoje vive sob o olhar permanente do outro. Likes, comentários, curtidas e seguidores funcionam como métricas de aceitação e isso é perigoso.
📌 O algoritmo reforça a comparação constante
📌 A vulnerabilidade se transforma em espetáculo
📌 O erro vira vergonha pública
📌 A espontaneidade é substituída pela performance
Esse ciclo gera um medo contínuo de falhar ou de “não ser suficiente”. É aí que entra a teoria da mente social, de Laurence Steinberg (2005), que mostra como a consciência do olhar do outro se intensifica na adolescência, tornando os jovens mais sensíveis ao julgamento e ao constrangimento social.
Esse estado de vigilância emocional permanente contribui para o surgimento de ansiedade social, ansiedade de desempenho, procrastinação crônica e até mesmo síndrome do impostor, já na adolescência.
Quando os adultos reforçam a ansiedade sem perceber
É importante destacar que, muitas vezes, os próprios adultos, pais, professores, cuidadores reforçam esse ambiente ansiogênico sem intenção. Frases como:
“Você precisa ser mais responsável”
“Na minha época era diferente”
“Todo mundo passa por isso”
... não só invalidam o sofrimento, como bloqueiam o canal de escuta. O adolescente se sente julgado, desacreditado e só.

A ausência de espaços legítimos de escuta transforma frustrações naturais em sintomas emocionais. O que poderia ser acolhido e nomeado se torna um peso carregado em silêncio.
“Quando os adolescentes vivem em ecossistemas emocionalmente inseguros, o risco de adoecimento psíquico se torna exponencial.”— Ginsburg & Schlossberg, 2002
A ilusão da resiliência individual
Outro equívoco recorrente é tratar a ansiedade adolescente como um “problema individual” como se bastasse ensinar técnicas de resiliência ou “pensar positivo”. Isso é perigoso porque:
📍 Coloca a responsabilidade da dor apenas no jovem
📍 Ignora os fatores ambientais e culturais
📍 Isola o adolescente em sua dor
📍 Aumenta a culpa por “não dar conta”
A verdade é que não basta ensinar o adolescente a se regular emocionalmente. É preciso intervir também no ambiente.
A escola pode ser tanto um dos maiores gatilhos de ansiedade quanto uma rede de proteção. Depende de como ela lida com:
Escuta ativa
Margem para o erro
Respeito às diferenças
Clima emocional no cotidiano escolar
Ansiedade na adolescência: quando o alarme biológico se torna um peso
A neurociência mostra que o adolescente está passando por uma verdadeira “obra em andamento” cerebral. Duas regiões-chave explicam por que a ansiedade se manifesta com tanta força:
📌 Sistema límbico
➡️ Relacionado às emoções, impulsos e busca por prazer.
➡️ Matura rapidamente, ainda na puberdade
📌 Córtex pré-frontal
➡️ Responsável por regulação emocional, planejamento e controle de impulsos.
➡️ Matura lentamente, até os 24–25 anos
Esse descompasso funcional cria um cenário em que a emoção chega antes da razão. O adolescente sente tudo com muita intensidade, mas ainda não tem os “freios” completamente desenvolvidos para lidar com o que sente.
“A adolescência é caracterizada por maior sensibilidade ao estresse e menor regulação cognitiva das emoções.”— Casey, Jones & Hare, 2008
Esse estado de alerta constante gera uma liberação frequente de cortisol, o hormônio do estresse. Em excesso, ele contribui para:
Dificuldades de memória e concentração
Alterações no sono
Maior irritabilidade
Fadiga emocional crônica
Hormônios, humor e instabilidade emocional
A puberdade ocorre paralelamente à adolescência e adiciona outra camada de complexidade: os hormônios sexuais (como estrogênio e testosterona) e o próprio cortisol modulam diretamente as emoções, o sono, o apetite e o humor.
💡 Essa interação entre hormônios e cérebro torna a experiência emocional do adolescente mais intensa, rápida e, muitas vezes, incompreensível até para ele mesmo.
É por isso que muitos adolescentes relatam sentir raiva, tristeza ou euforia sem conseguir nomear exatamente o porquê. Eles não estão fingindo. Estão tentando sobreviver a uma montanha-russa bioquímica interna.
O papel da amígdala: alerta total, mesmo sem perigo real
A amígdala cerebral, estrutura que detecta ameaças, é especialmente ativa na adolescência. Ela reage antes mesmo da razão avaliar a situação, o que faz com que o adolescente viva “no modo sobrevivência” com muito mais facilidade.
E quando a amígdala entra em cena:
O corpo se prepara para fugir ou lutar
A mente fica em alerta máximo
A cognição se desorganiza
E a ansiedade se instala
Essa ativação excessiva explica por que adolescentes ansiosos frequentemente dizem frases como:
🗨️ “Eu sei que é exagero, mas não consigo controlar.”
🗨️ “Tudo parece demais, mesmo quando não é.”
O impacto no corpo e na rotina
Quando a ansiedade se torna crônica, ela deixa marcas claras no corpo e no cotidiano do adolescente. E esses sinais não são imaginários, são fisiológicos:
📍 Taquicardia e tremores
📍 Tensão muscular constante
📍 Mãos suadas e sensação de “aperto” no peito
📍 Dificuldade para dormir ou acordar descansado
📍 Falta de apetite ou alimentação compulsiva
📍 Sensação de “nó na garganta” ou estômago embrulhado
Esses sintomas reais são frequentemente ignorados ou minimizados por adultos ao redor, o que gera desvalidação emocional, um fator que agrava ainda mais o sofrimento.
“A adolescência é um período em que o corpo grita o que a mente ainda não sabe nomear.”— Fonagy et al., 2002
Identidade em construção e o peso do olhar do outro
Durante a adolescência, o desenvolvimento da identidade se torna o centro da vida psíquica. O jovem precisa, simultaneamente, se diferenciar e pertencer. Ou seja: quer ser único, mas também aceito. É essa dança entre a individuação e o pertencimento que, muitas vezes, acende os gatilhos da ansiedade.

A fase da pergunta mais difícil: “quem sou eu?”
De acordo com Erik Erikson (1968), a adolescência é marcada pelo conflito “identidade versus confusão de papéis”. É nesse estágio que surgem perguntas estruturantes:
O que esperam de mim?
Quem eu preciso ser para ser aceito?
Posso ser eu mesmo e ainda assim pertencer?
Essas questões não são apenas filosóficas: são fisiológicas, sociais e afetivas. E quando não encontram escuta, segurança ou espaço simbólico, transformam-se em angústia, insegurança e, muitas vezes, ansiedade.
“Quem não se sente visto, não se sente seguro. E quem não se sente seguro, vive em estado de defesa constante.”— Siegel & Bryson, 2011
A plateia invisível: o olhar do outro como ameaça
O psicólogo David Elkind (1967) descreveu um fenômeno clássico da adolescência: a autoconsciência egocêntrica, ou a sensação de estar sendo constantemente observado, avaliado e julgado.
Essa sensação é conhecida como “plateia imaginária” e hoje, com as redes sociais, ela deixou de ser imaginária para se tornar concreta e constante.
📱 Likes, curtidas e comentários se transformam em métricas afetivas. E qualquer erro, silêncio ou imperfeição vira motivo de vergonha.
Essa hiperexposição emocional e social potencializa a ansiedade, principalmente a ansiedade social. O adolescente teme não ser aceito ou, pior, ser excluído.
A cultura da performance: onde errar não é permitido
Além do olhar do outro, o adolescente precisa lidar com uma cultura que cobra resultados e equilíbrio emocional o tempo todo. Desde cedo, ele é estimulado a:
Escolher uma carreira
Ter bons desempenhos escolares
Manter uma aparência dentro dos padrões
Ter vida social ativa
Ser emocionalmente maduro
Essa pressão cria um script emocional rígido: o adolescente sente que precisa ser perfeito para ser aceito e isso mina sua espontaneidade e autoconfiança.
“Se eu não for bom em tudo, sou um fracasso. E eu não aguento fracassar.”— Trecho de relato clínico
Segundo Spear (2000), essa pressão externa constante, somada à imaturidade do sistema de regulação emocional, aumenta o risco de transtornos ansiosos nessa fase.
Quando a comparação vira identidade
A identidade adolescente é, em parte, construída pelo espelho social. Mas quando esse espelho só reflete padrões inalcançáveis, o resultado é:
🔸 Autocrítica intensa
🔸 Baixa autoestima
🔸 Sentimento de inadequação
Essa é a raiz da chamada identidade difusa, quando o adolescente não sabe quem é, o que sente ou o que deseja, porque está sempre tentando ser aquilo que o outro espera.
O vínculo como antídoto à ansiedade identitária
O desenvolvimento da identidade não acontece no vácuo. Ele exige respostas afetivas estáveis e disponíveis. E quando o adolescente encontra um adulto que:
✅ Escuta sem julgar
✅ Aceita sua complexidade
✅ Valida suas emoções
✅ Permite o erro
✅ Oferece suporte afetivo
...ele consegue se arriscar emocionalmente sem medo de desaparecer.
“Você não precisa ser perfeito para ser amado.”— Fonagy et al., 2002
A construção de um “eu” seguro depende do olhar que o sustenta. E o mesmo olhar que pode desencadear um colapso interno, também pode ser o início da cura emocional.
Como ajudar na construção da identidade emocional:
O que reforça a ansiedade | O que fortalece a identidade |
Comparações constantes | Escuta sem julgamento |
Rótulos e críticas | Validação emocional |
Pressão por desempenho | Espaço para o erro |
Falta de vínculo afetivo | Presença disponível |
Expectativas irreais | Segurança relacional |
📌 Dicas práticas para cuidadores e educadores:
Escute o adolescente com curiosidade, não com pressa
Evite usar a régua da sua adolescência para medir a dele
Permita pausas, falhas e silêncios
Reforce a ideia de que pertencer não exige perfeição
Diga com frequência: “o que você sente importa”
A identidade adolescente não se constrói com cobrança, mas com vínculo. E a ansiedade que cresce quando o adolescente sente que precisa ser alguém o tempo todo pode diminuir quando ele entende que já é alguém digno de cuidado, mesmo em construção.
Como apoiar de verdade um adolescente com ansiedade: atitudes que acolhem, não pressionam
Quando um adolescente está ansioso, é comum que os adultos ao redor se sintam perdidos, frustrados ou impotentes. O que dizer? O que fazer? Como ajudar sem ser invasivo, sem causar mais fechamento ou resistência?
É importante lembrar: adolescentes não são adultos em miniatura. Eles estão passando por uma transformação biológica, emocional e social intensa. Por isso, acolher sua ansiedade exige mais do que conselhos rápidos, exige presença, escuta e afeto sem pressa.
“A função cuidadora mais eficaz não é a que elimina o sofrimento do outro, mas a que sustenta com afeto enquanto o outro atravessa sua dor.”— Fonagy et al., 2002
O modo como os adultos reagem à ansiedade dos adolescentes pode ampliar ou reduzir o sofrimento.
Segundo Bögels e Brechman-Toussaint (2006), pais com atitudes superprotetoras, controladoras ou emocionalmente indisponíveis tendem a agravar a ansiedade dos filhos, mesmo com boa intenção.
O que o adolescente precisa?
De um adulto que funcione como “bússola emocional”, alguém que se mantenha calmo mesmo quando o jovem estiver em crise. Essa co-regulação emocional é o que acalma o sistema nervoso hiperativado do adolescente.
O que o adolescente ansioso mais precisa dos adultos
Não é uma fórmula. Não é um sermão.É validação emocional.
Validar é reconhecer que aquilo que o jovem sente é real, mesmo que você não entenda ou concorde.
💬 Frases que validam:
“Eu vejo que isso está sendo difícil para você.”
“Quer me contar mais sobre isso?”
“Faz sentido que esteja se sentindo assim com tudo isso acontecendo.”
Esse tipo de acolhimento abre espaço para confiança, conexão e, mais tarde, orientação.
Atitudes práticas que ajudam
Estratégia de acolhimento | Como aplicar na rotina |
Escuta sem julgamento | Dedique 10 min por dia para conversar sem celular, sem agenda |
Estrutura com afeto | Estabeleça rotinas claras (sono, estudos, pausas), explicando o porquê |
Presença emocional | Fique por perto mesmo quando o adolescente disser que não quer falar |
Validação em vez de correção | Em vez de “isso é exagero”, diga “isso parece estar te machucando” |
Informação e empatia | Aprenda sobre saúde mental na adolescência junto com seu filho |
“Às vezes, o que mais ajuda é um adulto que fique. Sem tentar consertar, apenas ficando.”— Siegel & Bryson, 2011
❌ O que não ajuda (e pode piorar)
Mesmo com intenção positiva, certos comportamentos podem gerar mais fechamento emocional e agravar o quadro ansioso.
🚫 Evite:
“Você está exagerando.”
“Na minha época isso não existia.”
“Isso é drama.”
“Você tem que sair mais.”
“Vai fazer terapia sim, e ponto.”
Comparações com irmãos, primos ou colegas
Essas falas invalidam a experiência emocional do adolescente e o fazem se sentir incompreendido.
Quando e como conversar
Conversar com um adolescente ansioso exige timing e contexto emocional seguro. Não é no meio de uma crise ou durante uma discussão que surgem os bons diálogos.
Dicas para conversas que conectam:
Espere um momento tranquilo
Use perguntas abertas, como:
“Tem algo que tem deixado seus dias mais difíceis?”
“Como posso te apoiar melhor?”
Escute até o fim, sem interromper ou aconselhar de imediato
Dê espaço para o silêncio
Valorize qualquer pequena abertura
A confiança emocional se constrói com consistência, não com discursos prontos.
O adulto também precisa se cuidar
Cuidar de um adolescente ansioso pode ser emocionalmente exaustivo. E um cuidador esgotado tem mais dificuldade para manter a calma necessária para oferecer suporte.
💚 Dicas de autocuidado parental:
Faça terapia individual, se possível
Participe de grupos de apoio para pais
Estude sobre adolescência e saúde mental
Reserve momentos só para você
Pratique a autocompaixão: você não precisa ser perfeito, só presente
“Pais regulam filhos com sua própria regulação. A calma do adulto é o porto seguro do adolescente.”— Siegel, 2010
O vínculo é mais forte do que a ansiedade
A ansiedade é intensa, sim. Mas o vínculo é mais poderoso.
Quando um adolescente ansioso encontra um adulto que ouve sem corrigir, fica sem pressionar e valida sem julgar, ele começa a acreditar que talvez ele não esteja “quebrado”, só está precisando de ajuda para se reorganizar. E isso já muda tudo.
Quando procurar ajuda profissional: sinais de alerta na ansiedade adolescente
A ansiedade faz parte da experiência humana e, na adolescência, é até esperada em muitos momentos.Mas e quando ela deixa de ser apenas um desconforto passageiro e passa a dominar a rotina?
Quando a ansiedade se torna persistente, intensa e começa a interferir no sono, na escola, no apetite ou nas relações, é sinal de que algo mais sério está acontecendo.
🚨 Quando a ansiedade vira transtorno?
Segundo o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), considera-se que a ansiedade é um transtorno clínico quando apresenta:
📍 Duração: mais de seis meses, ou intensidade elevada mesmo em períodos mais curtos
📍 Impacto funcional: prejudica escola, sono, apetite, convivência ou rotina básica
📍 Sofrimento emocional: medo constante, choro recorrente, crises de pânico ou irritabilidade severa
📍 Sinais de alerta: comportamentos de risco, como automutilação ou ideação suicida
Esses sinais nem sempre são verbais. Muitos adolescentes expressam o sofrimento de forma indireta, por meio do silêncio, raiva ou isolamento.Por isso, não basta perguntar “tá tudo bem?" é preciso saber escutar o que não é dito.
Sinais de que é hora de procurar ajuda clínica
Fique especialmente atento se notar:
Evitação de escola ou atividades sociais
Queda brusca no rendimento escolar
Mudanças intensas no sono, apetite ou humor
Isolamento persistente ou irritabilidade constante
Automutilação, crises de choro ou ideação suicida
Sensação de paralisia diante de situações simples
“Se os sintomas são frequentes, intensos e afetam a vida do adolescente,é hora de buscar ajuda.”— DSM-5, APA (2013)
E quando o uso de medicamentos é indicado?
Embora a psicoterapia seja o tratamento de primeira linha, o uso de medicação pode ser necessário quando:
O sofrimento é severo e não melhora apenas com apoio psicológico
Há sintomas que impedem o funcionamento básico (não dorme, não come, não frequenta a escola)
Existem comorbidades como depressão, TOC, risco de suicídio ou transtornos graves
“Medicar não é silenciar. É oferecer ao adolescente a possibilidade de respirar, para que possa reconstruir seu mundo interno.”— Walkup et al., 2008
Procurar ajuda é um ato de coragem, não de fraqueza
Buscar apoio profissional não é sinal de fracasso, é sinal de compromisso com a saúde emocional.Assim como cuidamos do corpo, precisamos cuidar da mente, especialmente durante a adolescência, que é uma das fases mais vulneráveis e intensas da vida.
✨ Às vezes, o primeiro passo para sair do labirinto da ansiedade é ter alguém ao lado, com lanterna na mão, dizendo: “você não precisa atravessar isso sozinho.”
Indicação de livros
Compreender a ansiedade na adolescência exige mais do que empatia, exige informação de qualidade, acessível e embasada em evidências. Os títulos a seguir trazem reflexões, estratégias e fundamentos científicos essenciais para pais, educadores e adolescentes que desejam lidar com o sofrimento emocional de forma respeitosa, realista e transformadora.
Ansiedade não é frescura – Principalmente em adolescentes
Autora: Regine Galanti
Escrito por uma psicóloga clínica especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental, o livro desfaz mitos comuns sobre ansiedade e oferece orientações claras para reconhecer sinais, acolher emoções e praticar estratégias efetivas com adolescentes, tudo em linguagem acessível e afetuosa.
Permissão para sentir: como compreender nossas emoções e usá-las com sabedoria para viver com equilíbrio e bem-estar
Autor: Marc Brackett
Criador do programa RULER de alfabetização emocional, Brackett explica por que nomear e validar emoções é um passo essencial para a saúde mental. Com base em ciência e experiências pessoais, a obra propõe ferramentas práticas para cultivar inteligência emocional desde a infância até a adolescência.
Exatamente como você é: um guia adolescente rumo à autoaceitação e à autoestima
Autoras: Michelle Skeen e Kelly Skeen
Voltado diretamente ao público jovem, este guia combina ferramentas da Terapia de Aceitação e Compromisso com exercícios interativos, ajudando adolescentes a construírem uma relação mais compassiva consigo mesmos, enfrentando a ansiedade com autenticidade e coragem.
Por que ninguém me disse isso antes?: ferramentas para enfrentar os altos e baixos da vida
Autora: Julie Smith
Psicóloga clínica e comunicadora nas redes sociais, Julie Smith reúne neste livro conselhos simples e profundos sobre ansiedade, tristeza, autocrítica e medo do futuro. O foco é ajudar o leitor a construir uma “caixa de ferramentas” emocional para lidar com os momentos difíceis da vida.
Desconstruindo a ansiedade: um guia para superar os maus hábitos que geram agitação, preocupação e medo
Autor: Judson Brewer
Psiquiatra e pesquisador em neurociência do hábito, Brewer oferece uma abordagem inovadora para lidar com a ansiedade baseada em mindfulness e neuroplasticidade. A obra mostra como identificar os gatilhos da preocupação e transformá-los com consciência e curiosidade.
Conclusão: Crescer não deveria doer tanto e não precisa ser solitário
A adolescência é uma fase de transformação intensa emocional, física e identitária. Mas no mundo de hoje, crescer se tornou sinônimo de pressão, comparação e sobrecarga. Por isso, a ansiedade não é apenas um sintoma: é um sinal de que algo precisa ser ouvido e cuidado.
O caminho do cuidado começa com escuta, empatia e suporte real, dentro das famílias, nas escolas e nos vínculos afetivos. Com presença, informação e acolhimento, é possível transformar sofrimento em crescimento.
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